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Após vitória em impeachment, Trump sai ileso e politicamente fortalecido para reeleição

O veredito final do terceiro julgamento político na história dos EUA foi o prognosticado, cada bancada votou na linha de seus respectivos partidos, com uma só exceção
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Donald John Trump foi absolvido, e diante do resultado brincou (ou não?) sobre a possibilidade de ser aclamado como presidente vitalício dos EUA, porém, reconheça ou não é e agora o primeiro estadunidense impeached que buscará sua reeleição.

O veredito final do terceiro julgamento político na história dos Estados Unidos foi o prognosticado, cada bancada votou na linha de seus respectivos partidos, com uma só exceção. Com isso, o Senado, transformado em júri, declarou Trump “inocente” pelo voto da maioria republicana.

O Senado votou separadamente cada uma das duas acusações – abuso de poder e obstrução do Congresso – apontadas no processo de impeachment realizado na Câmara Caixa, que resultou em transformar Trump no terceiro presidente impeached na história dos EUA.

As acusações foram votadas através de declaração oral por todos os Senadores em ordem alfabética. “Culpado” ou “Inocente” era a única pergunta a ser respondida pelos “senadores-jurados”.

O resultado da votação da primeira acusação de abuso de poder, foi de 52 votos pela absolvição do presidente, contra o voto dos outros 48 senadores, que consideraram Trump culpado. O único voto dissidente entre os republicanos foi do Mitt Romney.  

A votação da segunda acusação – de obstrução do Congresso foi de 53 contra 47 por absolver o mandatário. 

Eram requeridos dois terços, ou 67 dos 100 votos para condenar e destituir o presidente. 

“Portanto, é ordenado e adjudicado que Donald John Trump seja absolvido das acusações…” proclamou o chefe da Suprema Corte, John Roberts, que presidiu o julgamento político, e assim caiu o pano sobre este espetáculo.  

Após sete semanas de ser formalmente acusado de procedimentos que poderiam levar à sua destituição pela Câmara de Representantes (o que se conhece como impeached), depois de quase cinco meses de investigações, e quase três semanas de julgamento no Senado, Trump foi absolvido apesar das provas esmagadoras apresentadas contra ele.  

Trump, que sempre acusou que isto foi “uma farsa” e parte de uma “caça às bruxas” contra ele, e com seus aliados denunciando estes esforços como um intento democrata para “reverter a prévia eleição e interferir na próxima”, emitiu uma primeira reação ao resultado tuitando um meme que havia usado anteriormente com sua imagem e um calendário eleitoral de cada quatro anos onde vai ganhando a perpetuidade.

(https://twitter.com/realDonaldTrump/status/1142157838153895941). 

Não é a melhor imagem “democrática” em um sistema que só permite dois turnos ao presidente.  

Em outro tuíte, Trump anunciou que fará uma declaração pública formal sobre “a Vitória de nosso País sobre a farsa do impeachment”.

O caso contra ele girava em torno da tentativa do presidente de pressionar o novo governo da Ucrânia a interferir na dinâmica da eleição presidencial estadunidense para beneficiar os interesses políticos de Trump, bem como sua negativa em cooperar na investigação desse assunto pela câmara baixa. 

Trump foi qualificado pelos acusadores democratas durante o julgamento como alguém que se considera “acima da lei” ao empregar “conduta corrupta” para beneficiar-se politicamente, pondo em risco a segurança nacional, vulnerando o processo eleitoral, e “traindo” seu país.

De fato, a equipe de deputados democratas como atuou como promotoria no julgamento advertiu hoje, em um artigo coletivo publicado no Washington Post, que “o presidente não deixará de tentar fazer trapaças na próxima eleição até que tenha êxito”. Afirmaram que não houve um julgamento real, e que, portanto esse veredito não é legítimo. 

O veredito final do terceiro julgamento político na história dos EUA foi o prognosticado, cada bancada votou na linha de seus respectivos partidos, com uma só exceção

The White House
Donald John Trump foi absolvido, e diante do resultado brincou (ou não?) sobre a possibilidade de ser aclamado como presidente vitalício.

Nancy Pelosi e Mitt Romney

A presidenta a câmara baixa, Nancy Pelosi, a democrata mais poderosa de Washington, declarou: “hoje o presidente e os republicanos do Senado normalizaram a ilegalidade e o rechaço ao sistema de equilíbrio (entre os poderes) em nossa Constituição”. 

Mas o resultado de hoje reflete a realidade de que o julgamento não é um processo judicial, mas sim político. E com a maioria republicana controlando o “tribunal”, este foi o veredito prognosticado quase desde o início do processo. 

O único dissidente, Romney, que foi o candidato presidencial republicano há oito anos, havia anunciado sua intenção pouco antes, afirmando em uma entrevista à Fox News que “é difícil para mim, imaginar um ataque mais sério contra a Constituição e uma república como a nossa, do que dizer que um presidente busca alistar um governo estrangeiro para corromper nossas eleições para se manter no poder. Isso ocorre em autocracias de sucata. Isso não acontece nos Estados Unidos da América”.

O voto de Romney não é só histórico – é o primeiro senador a votar contra um presidente de seu próprio partido em um julgamento político – mas é ainda mais importante nessa conjuntura porque rouba ao presidente seu desejo de poder proclamar que foi um exercício partidário contra ele. 

No fim do dia, Trump que foi caracterizado como “o presidente mais perigoso dos tempos modernos” por vários legisladores democratas e outros observadores, sai ileso e por ora politicamente fortalecido no início de sua campanha de reeleição. Em algumas enquetes recente, e apesar do que foi revelado e declarado em seu julgamento, seu nível de aprovação ascendeu ao nível mais alto desde que ocupou a Casa Branca. 

Todo mundo espera que Trump intensifique seu ataque a todos os políticos que ousaram desafiá-lo, especialmente seus ex-colaboradores e sem dúvida Romney (hoje, um dos filhos de Trump pediu sua expulsão do partido), e que ele retorne sem nenhum senso de autocrítica à sua maneira de governar, algo que ficou claro em seu discurso no Congresso na terça-feira para apresentar o relatório presidencial – que tinha pelo menos 31 exageros, enganos e mentiras – e que serviu como um lançamento de sua campanha à reeleição.

*David Brooks é correspondente de La Jornada em Nova York

**La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

***Tradução: Beatriz Cannabrava

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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