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Argentina: Resistência contra a reforma trabalhista

Revista Diálogos do Sul

Tradução:

Com a palavra de ordem “O trabalho não é mercadoria”, teve início na Argentina a resistência multi setorial  contra a reforma trabalhista proposta por Macri. Dessa frente realmente ampla de trabalhadores, com todas as centrais, já tem o apoio inclusive da Conferência Nacional dos Bispos, estimulada pelo Papa Francisco.

Sebastián D. Penelli*

O caminhoneiro Pablo Moyano iniciou na tarde de segunda-feira uma rebelião organizada contra o projeto de lei que reforma as leis trabalhistas na Argentina. Nos próximos dias serão divulgadas novas adesões e as medidas para combatê-la.
O caminhoneiro Pablo Moyano iniciou na tarde de segunda-feira uma rebelião organizada contra o projeto de lei que reforma as leis trabalhistas na Argentina. Nos próximos dias serão divulgadas novas adesões e as medidas para combatê-la.

A “Resistência” surgiu como contrapeso ao “acordo” que alguns peões da central operária anunciaram entusiasmados que fecharam com o ministro Jorge Triaca com o texto definitivo da lei que modificará as regras do emprego na Argentina pelas próximas décadas. Há, inclusive, cegetistas “negociadores” que ao mesmo tempo agitam o rechaço.
“O trabalho não é mercadoria, o trabalho é dignidade”. Com essa premissa surgiu das entranhas da CGT uma corrente de resistência multi setorial à reforma trabalhista encaminhada pelo presidente Maurício Macri.
Pablo Moyano será o capitão do barco. Desde há alguns meses o líder caminhoneiro vem realizando conversações públicas e privadas com diversos setores políticos, sociais e econômicos. O objetivo é um só: “Parar o ajuste”. Com esse horizonte à vista e com vistas às eleições legislativas, o secretário gremial da CGT se propôs ser a cara visível do enfrentamento corpo a corpo com o governo de Cambiemos. Atrás dele se perfilam governadores, prefeitos, legisladores, cooperativistas, dirigentes sindicais, sociais e eclesiásticos.
A pedra fundacional da “Resistência” foi colocada no Salão Felipe Vallese diante de 300 convidados especiais de cada um dos setores. Moyano alertou que a agenda política e econômica do governo “ameaça com restaurar uma crise no setor operário”. Na primeira fila estava monsenhor Marcelo Sánchez Sorondo, chanceler da Academia Pontifícia do Vaticano.
É que a multi setorial que começa a andar já conta com a benção do Papa Francisco. O apoio foi obtido pelo próprio Moyano em viagem à Roma. Haverá uma comunhão na próxima semana quando cheguei à Santa Sé uma comitiva de sindicalistas para participar de uma reunião de dirigentes com 400 delegados sindicais de todos os rincões do planeta.
“O debate estará centrado na necessidade de estabelecer um novo paradigma para alcançar a justiça social no século XXI. O Papa Francisco dirá isso pela primeira vez aos trabalhadores organizados do mundo inteiro”, diz a convocação. Cegetistas, ceteístas e masistas (as centrais operárias) foram convidados.
A ofensiva contra a iniciativa do governo e das câmaras empresariais tradicionais será combatida em várias frente. Nas ruas, nos escritórios e nas fábricas. Já anunciaram marchas e greves, mas também se delineia uma estratégia parlamentar, onde o Congresso se torne um campo de batalha e os novos representantes do povo honrem a seus eleitores. A multi setorial fará o impossível para colocar alguém de confiança na presidência da nova Comissão de Legislação do Trabalho na Câmara de Deputados. No Senado é conduzida pelo dirigente do sindicato de Comércio de General Pico, Daniel Lovera.

Adesões

Moyano  conta com o apoio incondicional do governador Juan Carlos Schmid para rechaçar a reforma. Do exterior se somaram às CTA de Pablo Micheli e Hugo Yasky. Os funcionários públicos e docentes já encaram planos de luta para o final do ano. O mesmo caminho seguido pelos dirigentes aeronáuticos.
A Corrente Federal de Trabalhadores (FT) enviará Felipe Vallese a Walter Correa, curtidor e deputado eleito pela UC, e a Héctor Amichetti, dos gráficos. O enviado para a “Resistência” dos bancários, Sérgio Palazzo, em enfrentamento com a patronal financeira.
O primeiro governador a dar um passo a frente será Alberto Rodriguez Saá. Os prefeitos e vereadores municipais embarcarão na corrente lentamente a partir da sexta-feira. Os cooperativistas e organizações sociais constituem um motor essencial da Resistência. Já somam milhares desse setor.
Duas inusitadas incorporações ao movimento contra reforma em gestação provêem de centenários setores institucionais. Por um lado a Conferência Episcopal Argentina, com seu novo presidente Oscar Ojea. O bispo de San Isidro e máximo responsável da administração dos fundos de Cáritas conta com o apoio de Jorge Bergoglio para a tarefa. Com a missão de alcançar consensos será uma peça chave na disputa com o governo por uma nova lei trabalhista.
A segunda surpresa se deu no radicalismo. “É um retrocesso de 100 anos”, sentenciou o deputado nacional Ricardo Alfonsín sobre o projeto do governo. “Não só não gera mais emprego como gerará emprego de baixa qualidade”, asseverou o rebelde da UCR, distante da direção partidária aliada ao Cambiemos. Por enquanto já se conheceu o rechaço à reforma pelo presidente da Convenção Nacional do radicalismo Jorge Sappia: “É uma aberração”, sintetizou. Serão escutadas novas vozes.
Quando os protestos ganharem as ruas se espera a adesão de partidos ou frentes de oposição como FIT ou Izquierda al Frente, dos sindicatos que integram o Movimento Operário de Santa Fé, as organizações de Direitos Humanos, organizações estudantis e de intelectuais e demais organizações contrárias a esse tipo de reforma.
 
Fonte: Red Nacional y Popular de Notícias


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

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