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Arma do imperialismo continua sendo exportação de capitais na Amazônia

No dia em que a coletividade se der conta dos trustes que clamam pelo resguardo da iniciativa privada, raiará a emancipação econômica do país
Ceci Juruá
Diálogos do Sul
São Paulo (SP)

Tradução:

Não compreendo como se dorme tantos anos sobre uma riqueza como petróleo.  No Amazonas há mais petróleo do que água. (Geólogo Pike[1])

Segundo informa Osny Duarte Pereira em obra clássica da década de 1950, “Desnacionalização da Amazônia”[2], o Geólogo Pike foi enviado à região, por volta de 1919. Pike servia em uma subsidiária da Standard Oil no Peru, mas quando visitou a Amazônia estava a serviço de Hamilton Rice. Este era um engenheiro  norte-americano credenciado pelos trustes para explorações no território do Rio Branco. Com base nas observações feitas, H. Rice teria dito: O Rio Branco basta para salvar da ruína qualquer país. (ODP, p. 37)[3]

Na segunda edição desta obra, Desnacionalização da Amazônia, Osny acrescenta um capítulo introdutório no qual comenta a abertura dos  arquivos de Peres Jiménez, presidente da Venezuela nos anos 1950. Entre os papéis comprometedores encontrados nos arquivos do ditador, Osny destaca o plano de conquista das Guianas e da parte do Brasil situada no Território do Rio Branco (vide nota 3) e Estado do Amazonas. Outras referências ainda existem na imprensa e em vários arquivos sobre corrupção e arquivos de Perez Jimenez.[4]

Muitas outras denúncias são feitas nesse capitulo introdutório, sobre projetos norte-americanos de anexação de partes do Brasil e, em especial, da região amazônica.

No dia em que a coletividade se der conta dos  trustes que clamam pelo resguardo da iniciativa privada, raiará a emancipação econômica do país

IHU
Mapa da região Pan-Amazônica

Vejamos algumas declarações nesse sentido:

*Thomas Jefferson (1743-1926), fundador da República EUA (1801-1809): “Nossos pactos com a América Latina são os do leão com o cordeiro; mantenhamo-los”.

*John Adams (1735-1826), segundo presidente EUA (1797-1801): “O cidadão comum de nosso país está pronto a opinar acerca dos latino-americanos, como sendo todos mestiços degenerados, vaidosos, ineptos e incapazes de manter um governo próprio.”

*Willian Taft (1857-1930), presidente USA (1909-1913): “Não está longe o dia em que três bandeiras de estrelas e listas (a estadunidense) assinalem em três locais equidistantes a extensão de nosso território; … Polo Norte, … Canal do Panamá, … Polo Sul. Todo o hemisfério será nosso já que em virtude de nossa superioridade racial é nosso moralmente.”

Mas o que também me incitou a escrever este texto, com as denúncias de Osny sobre a cobiça internacional que paira sobre nossa Amazônia, foram as reflexões de outro presidente estadunidense, o presidente Wilson, a respeito da invasão desejável dos trustes, em nossas economias. Isto porque “Um país é possuído e dominado pelo capital que nele se achar empregado..” dizia Wilson.[5]

Em nossos dias, é de se lamentar profundamente que militantes e intelectuais do PT, e de partidos aliados, não tenham dado atenção aos livros desse grande brasileiro, Osny Duarte Pereira. Caso tivessem lido sua obra, não teriam comemorado a regular injeção anual de dezenas de bilhões de dólares em nossa economia, a partir de 2005/2007, com total anuência do Banco Central do Brasil. Entrada invasiva de moeda estrangeira (podre), excessiva e inadequada, a ponto de gerar dívida pública impagável, como a que temos hoje…

Assim também procedera Juscelino que, conforme relato de Osny:
[JK] “orgulhava-se de ter admitido a penetração imperialista de 500 milhões de dólares, apenas no período de dois anos trazidos por empresas monopolistas que não venderam, mas aqui montaram suas máquinas, como a America Can!” (1958, p.36)

Imperialismo missionário

Para concluir este meu texto que pretende, tão somente, relembrar um brasileiro ilustre cuja obra requer, urgentemente, reedição, vale citar reflexões estratégicas do homenageado. 

Entretanto, a grande arma do imperialismo continua sendo a penetração missionária e a exportação de capitais. (…) Os resultados da penetração religiosa no México foram fundamentais para assegurar a conquista do Texas. (…) Na Amazônia, missionários protestantes e católicos prestam-se a instrumento do imperialismo, por forma que hoje está condenada em inúmeros livros escritos por eminentes figuras do clero católico … (1958, p.47-48)

No dia em que a coletividade se der conta dos verdadeiros desígnios desses agentes dos trustes que clamam pelo resguardo da iniciativa privada e contra o estatismo, no dia em que se varrerem as teias de aranhas e iluminados ficarem os cérebros de alguns economistas acomodados e o povo adquirir consciência do logro em que viveu sob a balela dos capitais estrangeiros tão bem desmascarada por Arturo Frondizi em seus livros, nesse dia raiará também a emancipação econômica da Amazônia, integrada à Pátria Brasileira.” (1958, p.60)

*Ceci Vieira Juruá, economista, doutora em Políticas Públicas, pesquisadora independente em História Econômica do Brasil, colunista da revista digital Diálogos do Sul.

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.
Ceci Juruá

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