Enquanto continua o êxodo da população armênia de Nagorno-Karabakh, Sambel Shajramanian, presidente deste enclave que se proclamou independente em 1991, assinou na quinta-feira (28) o decreto que, a partir de primeiro de janeiro de 2024, põe fim à existência da República Independente de Artsaj e concede três meses para que todas as suas dependências transfiram suas funções para as autoridades do Azerbaijão e os habitantes decidam se querem ficar e aceitar as condições que o governo do Azerbaijão propõe para sua “reintegração”.
Nove dias depois que Baku lançou a chamada “operação antiterrorista de caráter local”, que em 36 horas terminou pela força, mediante intensos bombardeios e combates, com mais de três décadas de disputa territorial, a cifra de armênios que já abandonaram o território de Nagorno-Karabakh chegou na quinta-feira a 65 mil pessoas, de acordo com a agência noticiosa Armenpress.
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A maioria dos evacuados buscam refúgio na Armênia por desconfiar de Baku, que promete que nada lhes acontecerá, salvo a “quem tenha cometido ações terroristas”, e por temer uma nova edição de limpeza étnica como as que houve no passado por ambos os lados. Até agora, a fração de evacuados representa pouco mais da metade dos 120 mil habitantes do enclave, ao mesmo tempo em que na fronteira se aglomeram centenas de automóveis e ônibus, repletos de pessoas e dos poucos pertences que podem levar consigo.
As autoridades do Azerbaijão transferiram para Baku o ex-chefe de governo de Nagorno-Karabakh, Ruben Vardanian, detido na quarta-feira no desfiladeiro de Lachín ao tentar chegar à Armênia, e um tribunal deu-lhe na quinta-feira quatro meses de prisão preventiva, depois de imputar-lhe três supostos delitos: financiar o terrorismo, participar da criação e operação de grupos armados ilegais e cruzar de forma ilegal a fronteira do Azerbaijão (em setembro do ano passado, para “levar a cabo ações terroristas”, segundo a procuradoria do Azerbaijão).
Azerbaijão impõe controle de Nagorno-Karabakh e 10 mil armênios temem represálias
De origem armênia, Vardanian, multimilionário e fundador da empresa Troika Dialog, com sede em Moscou, Vardanian anunciou em setembro de 2022 sua intenção de renunciar à cidadania russa – petição que o presidente Vladimir Putin satisfez mediante decreto publicado três meses depois – e foi para Nagorno-Karabakh para assumir o governo do enclave. Em fevereiro deste ano demitiu-se e permaneceu ali.
A ata final assinada por Shajramanian apaga do mapa a república de Artsaj, que se tornou Karabakh, região do Azerbaijão, mas – na opinião dos observadores – além do fato de que armênios e azerbaijanos nutrem entre si rancores e ódios ancestrais, isso não resolve todas as controvérsias territoriais entre estes dois povos vizinhos do Cáucaso do sul.
Com a mediação da União Europeia, o presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, e o primeiro-ministro da Armênia, Nikol Pashinian, vão se reunir no próximo dia 5 de outubro na cidade espanhola de Granada.
Pelo que foi divulgado, os líderes tentarão negociar as condições para assinar um tratado de paz – após duas guerras desde 1991 que deixaram mais de 35 mil mortos em ambos os lados e dezenas de deslocados – e não está claro se Pashinian – que se concentrará em exigir garantias para os armênios que permaneçam na região de Karabakh – vai aceitar a principal demanda de Aliyev: ceder os 43 quilômetros do desfiladeiro de Zangezur.
Sem este corredor em território armênio, não há sentido o trem que planejam entre Ancara e Baku e tampouco se poderá chegar por estrada ao Azerbaijão a partir do enclave deste país de Najicheván, que é um dos poucos territórios no mundo que, diferentemente de um enclave, não está dentro de outro país, mas sim separado da maior parte de seu Estado, tendo fronteiras com Armênia, Turquia e Irã, sem pertencer a nenhum deles.
Karen Minasyan
Pessoas seguram bendeira de Nagorno-Karabakh, também conhecida como República de Artsaj
Aumento do gasto militar da Rússia
O Kremlin tem a intenção de incrementar o gasto militar em 2024 em 70% em relação a este ano, de acordo com um documento do ministério de Finanças publicado na quinta-feira.
O governo anunciou que no ano que vem o orçamento para defesa chegará a 10,8 trilhões de rublos, equivalentes a 112 bilhões de euros, frente aos 6,4 trilhões de rublos (pouco mais de 67 bilhões de dólares). Assim, a agência Bloomberg calcula que o gasto militar chegará em 2024 a 6% do Produto Interno Bruto da Rússia, sendo que neste ano é de 3,9% e há dois anos era de 2,7%.
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Na opinião do porta-voz da presidência russa, Dmitry Peskov, “é evidente que este incremento (do gasto militar) é indispensável, absolutamente indispensável porque vivemos em estado de guerra híbrida desencadeada contra nós e continuamos a operação militar especial. Tudo isso exige elevados gastos”.
A cifra publicada pelo ministério de Finanças não inclui a porcentagem destinada para defesa e segurança nacional no capítulo secreto do orçamento federal.
O gasto militar oficial para 2024 pela primeira vez – indica a versão russa da revista Forbes – será o maior ítem do orçamento federal, superando o ítem de gastos sociais que se situa em 7,73 trilhões de rublos, pouco menos de 80 bilhões de dólares.
Juan Pablo Duch | La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.
Tradução: Ana Corbisier
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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