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ToggleHarry Belafonte, legendário artista – cantor e ator – e valente militante de direitos civis e outras lutas sociais e um anti-imperialista faleceu nesta terça-feira aos 96 anos de idade em sua cidade natal de Nova York, provocando uma cascata de memórias e elogios por uma impressionante gama de figuras do mundo das artes de várias gerações, como do mundo político e dos movimentos sociais.
Nascido no Harlem de pais imigrante caribenhos, Belafonte foi um dos músicos mais famosos, começando com seu impulso à música caribenha, sobretudo o Calypso, em meados dos anos 1950 e princípios dos anos 1970 – se diz que seu disco “Calypso” foi o primeiro de um solista a vender mais de um milhão de cópias; foi o mais escutado durante mais de 31 semanas e vendeu mais que Elvis Presley e Frank Sinatra nesse ano de 1957.
Também foi um grande promotor da música de povos do mundo (o que aqui chamam de música folk), sobretudo a da África, do Caribe – e até a mexicana, como a afro-estadunidense, e em 1959 já era o músico afro-estadunidense melhor remunerado na história. Sua fama como cantor gerou o interesse de Hollywood e ele se converteu entre os atores negros mais exitosos. Porém, sempre via, cantava e atuava desde abaixo – entre seus grandes êxitos haviam canções dos estivadores de banana (Day-O].
Havia estudado, depois de um período na marinha, na escola de drama de Erwin Piscator, onde seus companheiros incluíram Marlon Brando e Tony Curtis, e trabalhou no American Negro Theater. Por casualidade, iniciou sua carreira musical em um clube de jazz em Nova York (onde havia sido contratado para cantar nos intervalos). Daí, continuou oferecendo sua voz musical em espaços legendários como o Village Vanguard e o Blue Angel, e logo se encontrou em um musical da Broadway onde ganhou um prêmio Tony. Ganharia um prêmio Emmy por seu programa “Tonight with Belafonte”, em 1969, mas essa carreira foi interrompida depois que patrocinadores empresariais como Revlon e Chrysler exigiram que não mostrasse artistas brancos e negros juntos, e menos ainda que se tocassem.
Mais tarde, apareceria de novo em filmes, incluindo um dirigido por Robert Altman, e outros colaborando com seu amigo Sidney Poitier, e sua última participação foi em um filme de Spike Lee em 2018, com 91 anos de idade.
Usou sua fama e fortuna para apoiar o movimento de direitos civis e humanos tanto em casa como em outras partes do mundo. Foi amigo e aliado do reverendo Martin Luther King Jr. (foto), a quem ajudou a editar discursos, ser um tipo de escudo famoso, e até para pagar fianças dele e, para outros, tirá-los da prisão. Foi participante na grande Marcha sobre Washington em 1963, onde seu amigo ofereceu seu famoso discurso “Eu tenho um sonho”.
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"Sempre estave do lado dos trabalhadores da Florida”, afirma o sindicalista Lucas Benitez sobre Belafonte
Luta pelos direitos civis
Continuaria sempre na luta pelos direitos civis, em movimento pela paz como também feroz crítico das políticas imperiais de seu país. Em 2006 declarou que o presidente George W. Bush era “o maior terrorista do mundo”. Criticava o sistema capitalista que “compra e vende governos”.
Participou no movimento de apoio internacional ao Congresso Nacional Africano e Nelson Mandela quando ambos eram classificados como “terroristas” por seu governo, e participou nos esforços antiapartheid, como o boicote cultural que incluiu o disco “Sun City”. Mais tarde fez viagens de alto perfil público, incluindo uma a Cuba, em 1992, onde se reuniu com Fidel Castro e denunciou o bloqueio estadunidense a Cuba, algo que continuou até sua morte. Mais tarde, respaldou a causa dos chamados Cinco de Cuba, e outra, junto com o ator Danny Glover e o filósofo Cornel West, em 2006, para ver o presidente Hugo Chávez na Venezuela.
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Para Belafonte – filho de um pai migrante da Martinica, que trabalhava em barcos, e uma mãe imigrante da Jamaica, que foi uma trabalhadora doméstica – Nova York sempre foi sua cidade e ele se converteu em um dos residentes mais famosos. Contam que quando tentou alugar um apartamento em um edifício em Manhattan e negaram por sua cor de pele, ele comprou o edifício e viveu em um grande apartamento deste então, onde costumava ter como hóspede o reverendo King, entre outros, sob quadros de Diego Rivera e Chagall, e fotos de Paul Robeson.
Continuou recebendo prêmios e reconhecimentos ao longo de sua vida, incluindo a Medalha Nacional das Artes, em 1994, a honra do Kennedy Center, em 1989, e o prêmio humanitário da Academia de Hollywood. Em 2016, publicou um artigo no New York Times instando as pessoas a não votar em Trump; quem lhe perguntava o que os afro-estadunidenses tinham a perder, dizia: “e temos que responder: só o sonho, só tudo”.
Entre as figuras que expressaram seu pesar estava o presidente Joe Biden, que emitiu uma declaração elogiando Belafonte por “haver usado seu talento, sua fama e sua voz para ajudar a redimir a alma de nosso país”.
Lucas Benitez, um dos fundadores da Coalizão de Trabalhadores de Immokalee, recordou ter se reunido com Belafonte em vários eventos e suas declarações públicas de solidariedade com a luta dos diaristas e “apoiando nossa campanha de comida justa… sempre estave do lado dos trabalhadores da Florida”, comentou ao La Jornada.
O intelectual público Cornel West expressou sua tristeza pela morte de Belafonte, afirmando que “seu gênio artístico, sua valentia moral e sua alma amadora viverão para sempre”.
David Brooks e Jim Cason | La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.
Tradução: Beatriz Cannabrava
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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