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Arturo Corcuera: 80 primaveras triunfantes

Winston Orrillo

Tradução:

“Noé delirante é uma coleção sem par na poesia recente do Peru… Adverte-se um acento pessoal e uma agudeza pouco frequente na busca do símbolo. Assim como também que a linguagem compõe uma textura de muito sutis associações formais e semânticas, e inclusive de um elegante humorismo, tudo o que ilumina um universo poético original…”                                                                                        Alberto Escobar

Winston Orrillo*

ellosyellas_article_fa5a70ae08394b285286b490e87422c9_jpg_946x400_90_1151O perspícuo olhar de nosso mais reputado crítico literário, Alberto Escobar (+) insiste no aspecto pessoal e no encontro, permanente, de símbolos, em uma poesia que – em sua riqueza formal e semântica – não minimiza em absoluto, “a postura militante que Arturo Corcuera assume diante da realidade”.

É fundamental, pois, pensar que o grande lírico – com um uso exímio de suas virtudes literárias – não se enclausura em una apócrifa torre de marfim, e, ombro a ombro, o encontramos na defesa incessante das causas mais áridas de nosso mundo cambaleante.
O grande poeta é admirador e defensor do socialismo do Primeiro Território Livre na América, a Cuba de Martí, Fidel e o Che; da revolução Sandinista na invicta Nicarágua: dos que primeiro puseram de joelhos os imperialistas, os filhos de Kim Il Sung, na heróica República Popular Democrática da Coréia. Assim como os heróicos homens de Ho Chi Minh, também vencedores dos ianques, e atualmente, no apoio, sem reticências, à República Bolivariana da Venezuela, à República Multinacional da Bolívia, com Evo e García Linera, e assim sucessivamente: o Equador da Revolução Cidadã e do combate frontal contra o terrorismo mediático, etc. E o Uruguai de seu ex-presidente qualificado em um e mil combates. E Brasil e Argentina em plena convulsão.
E é aqui que se encontra, na nossa visão, o valor impertérrito de nosso exímio poeta que, no dia 30 de setembro último, se assomou aos seus primeiros oitenta anos de vida, que nós parafraseamos, para este título, seu livro Primavera triunfante, (Ediciones de La Rama Florida, Lima, 1963) com o que queremos expressar que, nos 62 anos de poeta em exercício que tem (desde Cantoral, Cuadernos Trimestrales de Poesía, Lima, 1952), Arturo semeou versos que prestam culto à vida, à defesa da sociedade e da natureza, a adesão inconsútil à poesia, ao amor em suas vertentes mais esclarecidas: tudo pleno de um lirismo que começa em Sombra del jardín, El Timonel, Lima, 1961, y se prolonga, em um dilatado tempo histórico, que, sempre, é criação original e “comprometida” (palavra que não agrada aos rosáceos de hoje), vista em Territorio libre ou em Poesía de clase até chegar a Noé delirante que , com 62 lâminas da insuperável artista plástica Tilsa Tsuchiya, Milla Batres Lima, 1971, obteve o prêmio de Poesia dos Jogos Florais de San Marcos, e depois o Nacional de Poesia, em 1968.
Justamente aqui se encontra o cerne da posição do homem e do poeta: em complementar o pensamento com o aderir-se, e defender, militantemente a vida em nossa pátria, em Nossa América, no território do homem ameaçado gravemente por esse câncer que Evo Morales acaba de desmascarar, e que se chama capitalismo.
A Arturo não há que pedir que assine os comunicados de adesão e defesa dos “humilhados e ofendidos” (Dostoievski dixit).
Em tudo que é nobre, em tudo o que é sadio, em tudo o que justo vemos, se não sua firma, um artigo ou uma breve nota – incisiva porque seu estilo de prosador é inigualável –como a que hoje mesmo (quando escrevo a presente: 16 de outubro de 2015) dedica nada menos que à querida Verónica Mendoza, esperança da muito ansiada unidade de nossa esquerda, que já começou a aguentar avalanches de calúnias, não só de seus inimigos naturais, mas inclusive dos revolucionários, graças a cujas “originais e sábias” opiniões, a enorme massa dos que queremos a mudança nos mantemos divididos e em plano de luta antropofágica, para os multiorgasmos da direita, que hoje coça a barriga dolarizada a alentada por esses caudilhos da estupidez política sem nome, cujos nomes são suficientemente conhecidos,
O élan popular da poesia de nosso bardo não se encontra apenas em suas adesões, irrecusáveis, às nobres causas, mas no fato de que sua obra se dirige ao homem comum e corrente, como “La gran jugada o crónica deportiva que trata de Teófilo Cubillas y el Alianza Lima” e, em geral, pela agradável presença de seu tratamento aos animais em seu sui generis Arca de Noé, e também em suas irrenunciável ladeira amorosa, patente em livros memoráveis como Sonetos del viejo amador, e também por sua maestria de bardo altamente experiente, como quando canta e encanta. Igualmente de sua legendária dacha de Chaclacayo, destino do mais notável da poesia que chega a nosso Peru “de metal e melancolia” (García Lorca dixit): Breviario de Santa Inés.
Não posso me estender em seu desmesurado currículum vitae, que me privaria de opinar sobre uma poesia paradigmática, nas não posso deixar de dizer que seu Noé Delirante teve una tiragem de 40 mil exemplares e treze edições (neste caso para exorcizar o cabalístico numero) e várias delas com belíssimas ilustrações de Tilsa Tsuchiya, Rosamar Corcuera, Félix Nakamura e José Carlos Ramos. E ele foi, igualmente, jurado em inúmeros concursos de literatura, particularmente poesia, tanto em nossa pátria como além de suas fronteiras.
Não apenas integrou o prestigioso (1974), Concurso Internacional da Casa de las Américas, do Primeiro Território Livre na América, mas, em 1984 presidiu a Seção de Poesia no Congresso Mundial de Escritores, A Paz, Esperança do Planeta, realizado em Sofia, Bulgária (onde coincidimos com o querido Julio Ramón Ribeyro e com Juan Rulfo).
Entre suas láureas, justamente ganhas, se encontram o Prêmio Nacional de Poesia, o Prêmio Internacional de Poesia atlântica, Trieste, igualmente de lírica, o da Casa de las Américas e o do Círculo de Críticos de Arte do Chile. Seus versos podem ser encontrados em várias línguas e seus recitais e conferências são frequentes em várias partes do mundo.
Vale a pena recordar alguns comentários sobre sua inesgotável obra: o inesquecível Mario Benedetti, escreveu: “Corcuera é um valor indiscutível, não apenas da poesia de seu país, mas também da América Latina”. Sebastián Salazar Bondy disse: “um poeta que merecerá a memória”. Seu companheiro da Geração de 60, “Toño” Cisneros, agregou: “Enriqueceu nossas vidas com uma vasta obra criadora”. E finalmente, uma das altas vozes da poesia hispânica de hoje, Justo Jorge Padrón, comentou: “No panorama lírico do Peru, Arturo Corcuera é um nome indispensável”.
A casualidade me levou ao prólogo que o próprio mestre Jorge Luis Borges escrevera para sua Antologia Poética – 1923-1977, e do qual tomamos umas frases que, a maneira de notas finais, aplicamos, mutatis mutandis, à obra editada de Arturo Corcuera: “Eu desejaria que este volume fosse lido “sub quadam specie aeternitatis”, de um modo hedônico, não em função de teorias…ou de minhas circunstâncias biográficas. Eu o compilei hedonicamente; só recolhi o que me agradava no momento em que o escolhi”.
E não esqueçamos, esta é uma justa, necessária homenagem às 80 Primaveras triunfantes de um poeta que não deixa de criar – de criar-nos – de reafirmar nossa vocação pela vida, pelo compromisso estético e humano, como provou a leitura de seus novos textos, em uma recente homenagem que, muito justificadamente, lhe prestaram no Centro Cultural “ Inca Garcilaso de la Vega”.
O poeta canta e encanta, vejamos por quê.
*Poeta, jornalista, professor na Universidade Nacional de San Marcos, colaborador de Diálogos do Sul em Lima, Peru.

 


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Winston Orrillo

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