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Javier Rodríguez*
Nos últimos anos continuaram multiplicando-se as pesquisas, as análises e as preocupações no Paraguai com relação ao crescente número de meninas e adolescentes que engravidam em situações irregulares, transformando-se em mães em idade excessivamente precoce.
Estudos de organizações internacionais, de entidades não governamentais, defensores de direitos humanos de crianças e jovens deram o alarme diante de uma situação admitida pelo Governo e evidentemente fora de controle.
As últimas estatísticas mostram, às vezes até de forma incompleta, segundo os especialistas, o drama das que muitos já chamam de as “meninas mães” do Paraguai, com seu indubitável impacto social, econômico e psicológico, não só sobre elas como sobre amplos setores da população.
Segundo os últimos dados publicados, uma em cada quatro mulheres grávidas no Paraguai é adolescente, com 15 a 19 anos, enquanto as de 20 a 23 anos já tiveram, pelo menos, mais de uma gravidez.
O Paraguai tem a segunda maior taxa de adolescentes grávidas, com 63 nascimentos para cada mil mulheres, sendo que 38% dessas jovens mães começam a ter seus bebês antes de fazer 20 anos, segundo o Fundo de População das Nações Unidas.
Por sua parte, a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), alertou sobre o contínuo aumento de situações desse tipo entre meninas e adolescentes do país guarani, não deixando de indicar a urgência de que as consequências sociais e econômicas sejam enfrentadas com políticas públicas integrais, para evitar duros cenários, facilmente visíveis nas zonas rurais, mas também nas ruas de grandes cidades e desta capital.
As taxas de gestação precoce no Paraguai são muito altas, pois cada ano o sistema de saúde registra cerca de 600 partos em meninas de 10 a 14 anos, cuja gravidez é, na maioria das vezes, resultado de abuso sexual, poucas vezes denunciado ou castigado, explicou à imprensa a responsável da ONU no Paraguai pela Saúde Sexual e Reprodutiva, Adriane Salinas.
Outros 20 mil casos são registrados anualmente em adolescentes entre 15 e 19 anos, algo que constitui um problema social e econômico com consequências diretas para a jovem grávida e para a sociedade.
A vida prova continuamente que o risco de morte para as meninas entre 10 e 14 anos é cinco vezes maior do que para uma mulher biologicamente preparada para desenvolver um processo sadio, enquanto no caso das adolescentes entre 15 e 19 anos as possibilidades de falecimento são duas vezes mais altas.
Em boa parte, senão na maioria dos casos, as meninas mães enfrentam o perigo de que seus filhos morram, porque podem ter problemas de baixo peso, consequência da situação biológica da mãe e das altas taxas de pobreza existentes no país, que afetam tanto a alimentação de progenitoras e bebês quanto as condições vulneráveis de moradia, acesso a água potável e outros recursos necessários para manter-se em condições minimamente razoáveis.
Outras consequências que enfrenta uma considerável porcentagem das novas mães paraguaias são as de verem-se obrigadas a assumir o papel de mães solteiras devido ao abandono dos pais, e, portanto, ter que renunciar a sua volta ao sistema educacional, dedicando-se então a lutar, muitas vezes com pouca sorte, para conseguir um trabalho digno para seu sustento e o de seus filhos.
O Paraguai é um país onde o aborto é proibido por lei; no entanto, cada ano é registrado um importante número de casos de violações da lei, sem que as mulheres e meninas envolvidas tenham assistência legal que lhes permita fazer frente a esta violência exercida sobre elas.
Por fim, o país tem a taxa mais alta, entre 16 outros países latinoamericanos, de mulheres que morrem devido a complicações relacionadas à gravidez e ao parto, em sua maioria menores de 20 anos, pois nove de cada 100 mil falecem por essas razões.
Se se acrescentar a falta de uma política de educação e mesmo de informação de tipo sexual em escolas ou centros de difusão, pode-se compreender também o repúdio ou desconhecimento quanto ao uso de anticonceptivos que, em determinados casos, poderiam constituir uma ajuda.
Finalmente, a responsabilidade social do Estado e do governo paraguaios neste assunto tão delicado é fácil de detectar nos bolsões de pobreza presentes nas cidades, onde proliferam meninos e meninas em condições muito difíceis, correndo o risco de ser futuras vítimas de um panorama que se repete como um círculo vicioso.
*Prensa Latina, de Assunção do Paraguai, especial para Diálogos do Sul – Tradução de Ana Corbisier