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“Apesar do avanço em temas de igualdade de gênero, ainda é grave a questão da imagem estereotipada das mulheres nos meios de comunicação em escala global e particularmente na América Latina.”
Isabel Soto Mayedo*
Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), sobretudo nos países da América Latina, a maioria dos canais de televisão exibem programas de humor em que se ridiculariza e se fomenta a violência contra as mulheres nos ambientes familiares.
Embora nesses espaços se espere dos homens simpatia e inteligência, às mulheres é exigida desinibição, bem como beleza e atributos físicos de acordo com um padrão muito distante das características dos habitantes desta região, concordam especialistas desse organismo internacional.
Neste século, os esquemas comunicativos em voga, de acordo com a lógica mercantil estendida por obra da mundialização de corte neoliberal, insistem em que para ter êxito na sociedade as mulheres devem dedicar-se a afinar o corpo e abusar de todo tipo de produtos com fins depilatórios.
Mais que trabalhar no sentido de desabrochar o pensamento e ganhar em sabedoria em todos os aspectos, as que queiram situar-se entre as triunfadoras devem clarear o cabelo, vestir-se na moda e exibir saltos desproporcionais, com o risco de cair no ridículo e afetar sua saúde.
Isso é o que sugerem torrentes de seções de estilo de vida, conselhos de beleza, lazer e notícias leves, que são difundidas pelas TVs desses países, a imagem e semelhança do caldo de superficialidades enlatadas que são distribuídas pelos grandes empórios mediáticos.
Paralelamente, os meios impressos e redes sociais são pródigos em manchetes que deixam claro que as mulheres são “sapatóticas” e “bolsóticas” – ou seja, doentes por sapatos e bolsas -, ou que induzem a que ela se desdobre com tal de ter o vestuário combinado nos detalhes mais ínfimos.
Outros insistem nos “segredos de meninas”, na “moda para princesas”, ou que “os meninos são espertos e as meninas, bonitas” ou que “elas gostam de se fazer difíceis”.
Também não são poucas as empresas de serviços que recorrem a propagandas sexistas e nesse caso, temos como exemplo o escândalo criado no ano passado pela empresa telefônica Claro na Costa Rica, ao publicar que “o não das mulheres provem do latim roguem um pouquinho mais”.
Diante disso, a Defensoria dos Habitantes desse país centro-americano expressou em um comunicado que as empresas de telecomunicações “em vez de reproduzir estereótipos e mensagens simbólicas de uma cultura machista, devem apostar em mudanças culturais que reflitam a dignidade das mulheres.”
De acordo com o estudo “Estado liberal e discriminação sexista na Costa Rica”, a partir da segunda metade do século dezenove a educação feminina esteve orientada a fortalecer os valores tradicionais para transformar as mulheres em “modeladoras de cidadãos”.
A intenção não era preparar a mulher para convertê-la em cidadã, mas para que cumprisse melhor seu papel tradicional de educadora no lar, enquanto o homem se encarregava de buscar as provisões para a família.
Crenças baseadas em dogmas religiosos e machistas permearam, desde então, a mentalidade das mulheres e da sociedade em geral, apesar de algumas conquistas quanto à emancipação política, sobretudo a partir do reconhecimento de seu direito ao voto, em 1949.
Situação similar ocorreu no restante do continente, onde a incidência do patriarcado mantém a muitas mulheres em pé de guerra para alcançar a reivindicação plena do direito a determinação sobre seu corpo e contra os elevados níveis de violência que as afetam.
Esta luta passa também por educar a cidadania com relação aos meios de comunicação e pela constante visualização do dano que muitos deles causam com suas mensagens discriminadoras por razões de sexo, idade, condições físicas, ou cânones de beleza antinaturais.
De cinco a 15 por cento da mortalidade por doenças psicológicas está associada ao inconformismo com a imagem pessoal, em grande parte pela incidência da ditadura midiática nesse sentido, de acordo com informes da Organização Mundial de Saúde.
*Prensa Latina, de Havana, Cuba, especial para Diálogos do Sul