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Assim começa

Revista Diálogos do Sul

Tradução:

Maria José Silveira*

Chico tt Cataláo1Uma das notícias que se espalhou pela mídia e pelas redes sociais no final do ano dá bem a ideia do que foi 2015, e esperemos que não seja 2016.

Estou me referindo (ainda) à agressão que Chico Buarque sofreu ao sair de um bar no Leblon, tendo que responder a um grupo de jovens que o chamaram de “petista bandido”, perguntando “por que ele não se mudava para Paris?”.

Não vou defender o Chico, que não precisa de defesa a não ser a que já lhe faz sua obra musical (não coloco aqui a literária porque não é o caso). Falo da musical porque tenho quase certeza de que todos nós, do Oiapoque ao Chuí, conhecemos e amamos pelos menos algumas músicas dele. E nós, da mesma geração dele, crescemos com elas ao nosso lado.

Esse mesmo tipo de agressão que aconteceu com o Chico vem sendo repetida a muitos outros, famosos ou não, desde que esse ódio ao PT começou a ser alimentado como uma bolha de pus pelas manchetes editadas da mídia. Ex-ministros, políticos impolutos como o Eduardo Suplicy e a Maria do Rosário dos Direitos Humanos, ou simples senhoras e senhores do povo, têm sofrido agressões pelo simples fato de acreditarem que o PT, apesar de todos os seus erros, ainda é o que de melhor temos como proposta de governo, por suas políticas voltadas para a erradicação da miséria e injustiças seculares no país. Mas assim como não querem respeitar o voto da maioria que elegeu Dilma Roussef, esses grupos antidemocratas agridem e ofendem as pessoas que defendem a legitimidade de seu mandato.

Felizmente, a agressão ao Chico, por ser ele essa pessoa emblemática que sua obra e sua vida dele fizeram, teve uma ampla resposta que as outras não tiveram. Já era mais do que hora de, finalmente, acontecer essa reação em massa porque deixou claro que agressões – ainda que apenas verbais – revelam muito mais do que apenas a má-educação e o espírito intolerante dos que a fazem. Em todas as sociedades onde o nazismo e o fascismo dominaram, as primeiras agressões começaram assim. Eram insultos, gritos de “fora daqui”, “bandidos”, até dar no que deu.

Um famoso poema de Bertold Brecht – e suas várias versões, entre as quais escolho uma – o diz com perfeição:

“Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro

Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário

Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque não sou miserável

Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho emprego
Também não me importei

Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.”

Que nos lembremos dessas palavras neste ano que começa são os meus votos de um 2016 mais democrático para todos nós.

*Escritora brasileira, colaboradora de Diálogos do Sul

Ilustrações – Vitor Teixeira e tt Catalão.

 

 


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

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