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Ataque ucraniano contra pontes na Crimeia foi ordenado por Londres, declara Rússia

“Os terroristas de Kiev, em uma ação sem sentido levado a cabo por ordens de Londres, querem intimidar os residentes de Khersón, semear o pânico entre a população"
Juan Pablo Duch
La Jornada
Moscou

Tradução:

As autoridades da Criméia e de Kherson, nomeadas pelo Kremlin, denunciaram nesta quinta-feira (22) que o exército da Ucrânia danificou com mísseis as três pontes – suas automobilísticas, uma em desuso, e a outra ferroviária – que unem a península, incorporada à Rússia em 2014, com parte dessa região anexada em setembro passado. A ação foi reivindicada horas mais tarde por um porta-voz da inteligência ucraniana.

“De noite, a ponte de Chongar sofreu um ataque com mísseis. Não houve vítimas mortais nem feridos, continuam os trabalhos na zona afetada para determinar o tipo de projétil que foi utilizado”, informou através de sua conta na rede social Telegram o governador da Criméia, Serguei Aksionov.

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Pouco depois, o chefe da administração interina de Kherson, Vladimir Saldo, afirmou que, de acordo com a perícia preliminar, foram usados “mísseis britânicos Storm Shadow”, que têm um alcance de até 250 quilômetros.

“Os terroristas de Kiev, em uma ação sem sentido levada a cabo por ordens de Londres, querem intimidar os residentes de Kherson, semear o pânico entre a população, mas não poderão fazê-lo. Temos capacidade para reparar pontes com rapidez, não deixando dúvida: o tráfego de automóveis será restabelecido muito rapidamente”, escreveu Saldo na mesma rede social.

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O funcionário publicou fotografias dos estragos causados na estrada pelos impactos dos mísseis, um deles de tal magnitude que deixou um buraco pelo qual se pode ver abaixo o mar de Sivach no estreito de Chongar.

Por sua parte, entrevistado pelo canal 24 da televisão ucraniana, Andrí Yusov, porta-voz da inteligência militar desse país, comentou assim o ataque: “É o resultado do trabalhado planificado das forças de segurança e de defesa da Ucrânia, do movimento de resistência e da população local, que espera nestes territórios o retorno das autoridades ucranianas legítimas”.

“Os terroristas de Kiev, em uma ação sem sentido levado a cabo por ordens de Londres, querem intimidar os residentes de Khersón, semear o pânico entre a população"

Vladimir Saldo/Telegram
Estragos causados à ponte que liga a Crimeia a territórios separatistas anexados pela Rússia

Cifra de baixas

O presidente Vladimir Putin celebrou também nesta quinta-feira (22) por videoconferência uma reunião do Conselho de Segurança da Rússia, na qual – de acordo com o fragmento que tornou público o serviço de imprensa do Kremlin – o ministro da Defesa, Sergei Shoigu, sublinhou que o “inimigo, apesar das baixas significativas que têm sofrido em pessoal e equipamentos bélicos, se reagrupa nestes momentos e não esgotou seu potencial ofensivo: ainda não ativa várias reservas estratégicas”.

Em seu turno, o secretário do Conselho, Nikolai Patrushev, ofereceu o reconto preliminar de “baixas do inimigo” desde que lançou sua ofensiva em 4 de junho anterior.

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Patrushev sustenta que o exército russo, em apenas 16 dias “destruiu 246 tanques, 13 deles de fabricação estrangeira, e 595 carros blindados da Ucrânia”, assim como “mais de 300 peças de artilharia e de sistemas de lançamento múltiplo de mísseis, 10 caças-bombardeiros, 4 helicópteros, 424 veículos e 264 drones”.

Quanto ao número de efetivos, a Ucrânia “teve baixas de quase 13 mil militares”, agregou esse funcionário que exerce grande influência no setor duro do entorno presidencial russo.

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Grupo Wagner

O dono do grupo de mercenárias Wagner, Yevgueni Prigozhin, dias antes do motim levantado contra a Rússia, fez críticas à cúpula militar russa por proporcionar ao titular do Kremlin informação que qualifica de “mentiras colossais”:

“Tudo o que nos contam sobre a ofensiva do exército ucraniano nada tem a ver com a realidade. (…) O escritório do presidente (Vladimir Putin) se enche de mentiras colossais (ditas) sem a mais mínima vergonha”, apontou o controverso magnata em comunicado distribuído por seu escritório.

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Segundo Prigozhin, “quando nós (o grupo Wagner) tomamos Bakhmut, deixamos entrar todos os ‘enviados de guerra’ (jornalistas de meios russos que se subordinam ao Kremlin) para que vissem a situação real. E nenhum escreveu acerca de milhares de tanques e carros blindados destruídos. Isso é simples palavraria”.

Explicou: “Aí (na primeira linha da frente) agora não deixam entrar ninguém e não mostram nada porque o único que há são grandes problemas. (O ministro da Defesa, Serguei) Shoigu e (o chefe do Estado Maior, Valeri) Guerasimov seguem um método simples: a mentira deve ser monstruosa para que seja acreditada por eles. Isso é o que estão fazendo”.

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Rússia: “Se Stoltenberg diz que a OTAN é contra congelar o conflito na Ucrânia, então quer guerra”

O ministro russo de Relações Exteriores, Serguei Lavrov, afirmou na terça-feira (20) que “se (seu secretário geral, Jens) Stoltenberg de novo diz que a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) é contra congelar o conflito da Ucrânia, então quer guerra”. E agregou: “Pois que combata, então. Nós estamos preparados”.

Stoltenberg, em uma entrevista publicada no domingo pelo periódico alemão Welt am Sontagg, afirmou que “todos queremos que está guerra termine, mas para que a paz seja duradoura tem que ser justa. A paz não pode significar congelar o conflito e aceitar um acordo ditado pela Rússia. Só a Ucrânia pode definir os termos que são aceitáveis”. 

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Lavrov declarou: “Faz tempo que entendemos qual é o verdadeiro objetivo da Otan na Ucrânia (…) Enquanto asseguram que não estão em guerra com a Rússia, fazem exatamente isso ao reconhecer que, sem encher de armas o regime ucraniano, sem proporcionar-lhe informação de inteligência, sem dar-lhe imagens de satélite, as hostilidades na Ucrânia já teriam terminado”. E arrematou: “De fato, estão admitindo que formam parte das guerras ‘quente’ e híbrida que declararam contra a Rússia”. 

Lavrov respondeu a Stoltenberg após reunir-se em Minsk com o presidente de Bielorrússia, Aleksandr Lukashenko, o qual recebeu os chanceleres de Armênia, Cazaquistão, Quirguistão, Rússia e Tadjiquistão, países que junto com a Bielorrússia integram a Organização do Tratado de Segurança Coletiva (OTSC), os quais celebraram na capital bielorrussa seu encontro regular.

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Ante seus colegas, Lavrov acusou os Estados Unidos e seus aliados de tentarem dividir os membros das alianças nas quais participa a Rússia, como – ademais do OTSC – são as organizações de Cooperação de Xangai (OCS), formada também por China, Índia, Paquistão e quatro países pós soviéticos, e os BRICS, foro que integra junto com Brasil, China, Índia e África do Sul. 

“Para o Ocidente, a OTSC, bem como a OCS e os BRICS, são um perigo para seu domínio no âmbito internacional”. Porque os Estados Unidos e seus aliados “os consideram centro emergentes de uma futura ordem mundial multipolar e, nesse sentido, veem uma ameaça direta aos seus interesses, sua hegemonia”, sublinhou o chefe da diplomacia russa. 

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Segundo Lavrov, todos os participantes na reunião estiveram de acordo de que “é necessário resistir à pressão do Ocidente, que recorre cada vez mais a ações desesperadas e agressivas”, assim como cumprir plenamente suas obrigações como aliados, além de fortalecer a solidariedade entre eles. 

Lukashenko, citado pela agência noticiosa oficial BELTA, exortou os chanceleres a resolver os problemas pendentes no interior dessa aliança militar pós-soviética, em primeiro lugar a disputa territorial entre o Quirguistão e o Tajiquistão.

“Há que pôr na agenda estas controvérsias e resolvê-las. Se contribuíssemos a resolver o conflito fronteiriço entre o Quirguistão e o Tajiquistão, as pessoas deixariam de morrer e estes países sempre estarão agradecidos a nós”, expressou o presidente bielorrusso.

Novas leis

Os deputados da Duma, ou câmara baixa do Parlamento russo, aprovaram nesta terça-feira, em segundo e terceiro e definitiva instâncias, uma lei que, em períodos de mobilização, lei marcial e situação de guerra, permite àqueles que cumprem condenação nos cárceres ou têm limitações físicas parciais servirem no exército sob contrato.

Com isto se legaliza, embora post factum, a contratação de milhares de prisioneiros por parte das chamadas “companhias militares privadas”, eufemismo de batalhões de mercenários como o grupo Wagner, proibidos pela Constituição, que preferem arriscar a vida em unidades de assalto com a esperança de sobreviver seis meses, ganhar algo de dinheiro e ficar em liberdade mediante um indulto presidencial.

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Além disso, outra lei adotada no dia 21/06 exime de responsabilidade penas por delitos tipificados como de “leve e mediana gravidade” todos os russos que combatem na Ucrânia em qualidade de militares por contrato ou de reservistas chamados a filas. 

Estas leis, que ainda deverão ser aprovadas pelo Conselho da Federação ou Senado e promulgadas pelo presidente Vladimir Putin, exclui os condenados por delitos catalogados como graves como violação, terrorismo, atentados, alta traição e espionagem. 

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A partir de agora, os deputados decidiram que incluir a lei marcial – até agora vigente só nas quatro regiões ucranianas anexadas pela Rússia em setembro passado e que o Kremlin assegura não ter a intenção de declarar em todo o país – suporá, em caso de não serem considerados delitos penais, castigos que vão de multas simbólicas de 500 a mil rublos até 30 dias de privação de liberdade. E se a infração for cometida com um veículo, este poderia ser confiscado e seu dono, ademais, teria que pagar a multa. 

Juan Pablo Duch | La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.
Tradução: Beatriz Cannabrava.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Juan Pablo Duch Correspondente do La Jornada em Moscou.

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