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Ataques à democracia, corrupção, insatisfação popular: Sistema nos EUA está caindo?

Vale perguntar se talvez país não deveria ser convidado à próxima Cúpula das Américas até conseguir resolver suas tendências autocráticas
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Quando o país mais poderoso e rico do mundo, com a maior economia e as forças militares mais potentes, anuncia que enfrenta uma grave emergência na qual o comandante em chefe invoca a Lei de Produção de Defesa (que outorga poderes de emergência para obrigar a produção de produtos essenciais) e anuncia a “Operação Voa Fórmula” para usar aviões federais para obter produtos no estrangeiro, a gente supõe que é problema existencial. Mas quando percebe que tudo isso é porque de repente há uma carência de fórmula para bebês, é um sinal de que algo anda muito mal.

Quando se revela que a esposa de Clarence Thomas, um dos nove integrantes da Suprema Corte, participou diretamente nos esforços para fomentar um golpe de Estado e tentar anular o voto presidencial, e seu marido finge que pode ser “imparcial” ao avaliar casos relacionados com o processo eleitoral, é outro sinal de que algo está muito mal. 

Contra empresas bilionárias, trabalhadores voltam a se organizar em sindicatos nos EUA

Que os multimilionários exerçam seu enorme poder financeiro para definir eleições, e seus gastos milionários em campanhas eleitorais sejam oficialmente considerados como “liberdade de expressão”, foi qualificado pelo ex-presidente Jimmy Carter, há sete anos, como um Estados Unidos convertido em “uma oligarquia com suborno político ilimitado”, e as coisas se deterioraram deste então.

O ex-secretário de Trabalho e professor de políticas públicas na Universidade da California, Robert Reich, afirmou recentemente que Estados Unidos se apresentam como o farol da democracia em contraste com as autocracias da China e da Rússia, “mas a democracia estadunidense está em perigo de sucumbir ao mesmo tipo de economias oligárquicas e nacionalismo racista que prospera em ambos esses poderes”.

Vale perguntar se talvez país não deveria ser convidado à próxima Cúpula das Américas até conseguir resolver suas tendências autocráticas

Pixabay
Isso pode ser chamado de um sistema democrático?

Divertindo Freud

Ao mesmo tempo, enquanto o presidente e seu secretário de Estado e os líderes legislativos insistem que são os guardiões do direito internacional, e como juízes supranacionais advertem que os responsáveis de cometer crimes de guerra serão obrigados a prestar contas, o subconsciente da cúpula política estadunidense os trai de maneiras que teriam divertido Freud.

Na quarta-feira passada o ex-presidente George W. Bush, em um discurso em seu centro presidencial em Dallas, declarou que “foi a decisão de um homem lançar uma invasão totalmente injustificada e brutal do Iraque”, e imediatamente corrigiu e disse que estava se referindo a Putin e sua invasão da Ucrânia, mas com risadinhas, depois disse quase sussurrando, “Iraque também, de qualquer maneira…” antes de continuar.

Sua ex-secretária de Estado, Condoleezza Rice, já havia afirmado em uma entrevista em fins de fevereiro, em referência à Rússia, que a invasão de uma nação soberana é um crime de guerra, sem titubear nem corrigir, mostrando sua incrível incapacidade, como o resto da cúpula estadunidense, de reconhecer sua hipocrisia.

Mudanças no “quintal”

Quando um convite da Casa Branca a mandatários na América Latina e o Caribe já não obriga a todos a se apresentarem na festa para a foto hemisférica com o estadunidense ao centro, algo mudou em seu quintal (embora diga muito amavelmente que já o considera como jardim na frente de sua mansão), outro sinal ainda não percebido por eles que não lhes vai bem. 

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Quando as maiorias desejam direitos à saúde (incluindo o aborto), educação, moradia, salários dignos, o respeito a liberdades civis, e uma reforma migratória, e a cúpula simplesmente não responde… Isso pode ser chamado de um sistema democrático?

Vale perguntar diante de tudo isto se talvez Estados Unidos não deveriam ser convidados à próxima Cúpula das Américas até conseguir resolver suas tendências autocráticas, garantir o sufrágio efetivo e fazer que os responsáveis de minar direitos a liberdades civis e de cometer crimes de guerra sejam julgados e prestem contas tanto ao seu próprio povo como à comunidade internacional.

Há muitos sinais de que o sistema está caindo nos Estados Unidos. 

Bônus Musical 1 | Stevie Wonder – Blowin’ in the Wind


Bônus Musical 2 | Rising Appalachia – Resilient

David Brooks, correspondente de La Jornada em Nova York.
Tradução de Beatriz Cannabrava.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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