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Atenção! Muita atenção! Alerta sobre Saci!

Se você tem cachorro em casa, cuidado, o Saci gosta de cavalgar em qualquer animal e eles ficam muito aflitos. Não se assuste. O Saci é do bem.
Paulo Cannabrava Filho

Tradução:

 A coisa é séria. Estou avisando, principalmente a minha vizinha Mônica, que tem duas cachorras, uma delas tão linda que se chama Lua. Elas podem ficar alucinadas com a presença dele. Não que ele seja do mal. O que ele é mesmo é safado, brincalhão, gosta de dar nó na crina de cavalos, e como aqui não tem cavalos, só cachorro em toda a vizinhança, elas podem amanhecer com o rabo amarrado, coisa desse tipo. 

Por que estou dando este alerta? Explico. 

Anteontem, atravessando um parque que tem atrás de casa, com resquícios de mata atlântica, cumprimentando dois magníficos Jequitibás, pensei comigo: bem que ele podia me dar uma pipa de Saci. A que eu tinha sumiu, está faltando no meu mini museu de arte popular. 

Pois bem. Ontem, passando pela mesma trilha, sem estar procurando, como que olhando pra mim, estava uma pipa de Saci. Festejei. Cheguei em casa alardeando, contente. Que maravilha! Por fim, depois de tanto tempo, encontrei uma pipa de Saci.

Pedi pra Mariane, jornalista da Diálogos do Sul, avisar a Vanessa, editora da revista: “Lembra?”. Procuramos minuciosamente e em balde, em Pirapora. A Mariane não entendeu nada. Caro que já tinha ouvido falar, é de família de caipiras, mas só o avô dela é que sabia das coisas. Aí eu contei o que sabia e ela ficou encantada.

Pois agora foi fácil pra encontrar a pipa. Isso é coisa do Saci, com certeza. A Bia, minha esposa, recomendou colocar na Santoteca (nossa biblioteca de santos). Eu falei: “precisamos agora, de uma taquarinha, uma coisa como um canudinho, pra completar o cachimbo e comprar fumo de corda”. Até aí, tudo normal, nada preocupante.

Mas é que hoje, percorrendo o mesmo caminho, passei por uma cerca que tem um chuchuzeiro, com uma galhada seca. Aí lembrei, que quando era moleque a gente fazia cigarro com os talos secos da moita de chuchu. Pensei comigo: tá aí o resto da pipa. Agora só falta o fumo de corda. E segui o caminho. 

Não é que quando passo pela mesma trilha de sempre, como que olhando pra mim, estava uma maravilhosa pipa para cachimbo de Saci. Bem mais jeitosa, bem ao gosto de quem adora pitar um bom fumo de corda, melhor se for mineiro. Pro Saci, isso será irresistível, refleti comigo. Voltando pra casa, na esquina, parei para falar com o Valdir. Como ele faz a segurança na rua, achei que devia adverti-lo sobre o Saci, pois a cachorrada do bairro (tem mais cachorro do que gente) poderá ficar alucinada caso o menino apareça.

Ai expliquei pra ele que é muito difícil ver um Saci, e mais difícil ainda pegá-lo. Apesar de ter uma perna só, o moleque é de uma agilidade de espanto. Quando ele aparece, vem tão rápido que forma um redemoinho, de folhas, de areia, poeira, dependendo do terreno. Aí, o jeito de pegar é jogando uma peneira de abanar café sobre o redemoinho. Tiro e queda. 

Só que eu nunca consegui, pois, de ir buscar a peneira e voltar o maluquinho já tinha sumido. Mesmo deixando a peneira no terreiro, pra ficar mais perto. Só de você pegar na peneira ele já ia embora. Mas, com fumo de corda ele não resiste. Então, minha gente. Agora eu vou preparar esse cachimbo (só falta ir ao Mercado da Lapa buscar o fumo de corda), pois sei que ele não vai resistir. Mas não vai ser moleza pra ele não. Vou deixar em lugar bem difícil. Por isso, o alerta à vizinhança. Viu Mônica? Ele vai ficar rodopiando em volta daqui pra achar, e como não tem cavalo pra ele azucrinar, vai tentar a Lua. Fique calma que ele merece respeito.

Pra quem ainda não conhece o Saci, nem o Monteiro Lobato, dono do Sítio do Pica Pau Amarelo, onde o Saci convivia junto com outros personagens das nossas crenças, clique aqui pra conhecê-los.

* As figuras são do Colecionador de Saci. Pra saber mais sobre o Saci, consulte o colecionador aqui. ** Jornalista, caipira e editor de Diálogos do Sul, autor do sítio premiado (Prêmio Aberje de 1999), do projeto Memória dedicado a Monteiro Lobato. O texto e o desenho do quadro que fecha a matéria foi copiado deste sítio.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Paulo Cannabrava Filho Iniciou a carreira como repórter no jornal O Tempo, em 1957. Quatro anos depois, integrou a primeira equipe de correspondentes da Agência Prensa Latina. Hoje dirige a revista eletrônica Diálogos do Sul, inspirada no projeto Cadernos do Terceiro Mundo.

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