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Aumento de infectados e de óbitos confirmam previsões de nova crise humanitária no Haiti

As autoridades reconheceram a fragilidade do sistema sanitário nacional, incapaz de cobrir os serviços de atendimento básicos para a maioria de seus cidadãos
Anelí Ruiz García
Prensa Latina
Porto Príncipe

Tradução:

O Haiti superou os 2500 contágios pela Covid-19 e aumenta de maneira acelerada a transmissão local, o que pode situar o país à beira de uma crise sistêmica.

Quatro meses depois que as manifestações antigovernamentais bloquearam a nação caribenha no final do ano, registraram-se os primeiros casos importados, que se mantiveram estáveis durante março e abril, mas se multiplicaram em maio.

De 1º de maio ao início de junho aumentaram mais de 96% os confirmados, e se quintuplicaram as mortes, enquanto pouco mais de uma dúzia de pessoas se recuperava.

A pandemia afeta com força o departamento oeste, onde se situa a capital, com mais de 79% dos diagnósticos positivos, e de cerca de 60% dos mortos.

Neste cenário, o governo instaurou um estado de emergência sanitária, que se estenderá até julho próximo, e implica fechamento de todas as fronteiras, suspensão de aulas, toque de recolher e restrições às atividades econômicas.

O executivo anunciou também a obrigatoriedade do uso de máscaras em locais públicos e proibiu as reuniões de mais de cinco pessoas, sob pena de sanção, o que gerou numerosas críticas por parte daqueles que questionam a legalidade da norma.

As autoridades reconheceram a fragilidade do sistema sanitário nacional, incapaz de cobrir os serviços de atendimento básicos para a maioria de seus cidadãos

ONU
O país caribenho é considerado o mais pobre do hemisfério ocidental

Desafios atuais

A Covid-19 golpeia com força a maioria dos países, com mais de seis milhões de contagiados e 376 mil mortos. No entanto, para as nações em desenvolvimento, o desafio é maior.

A propósito do evento de alto nível sobre Financiamento para o Desenvolvimento na Era da Covid-19, organizado pelas Nações Unidas com Canadá e Jamaica, que se realizou em 28 de maio último, o presidente Jovenel Moise alertou que as consequências desta pandemia serão muito mais perceptíveis em países como o Haiti.

“A magnitude desta crise requer uma ação global consertada. Deve haver uma solidariedade mais focada e eficaz em benefício das pessoas mais vulneráveis”, disse o mandatário, acrescentando que o sistema de governança mundial, tal como se aplica hoje, não responde plenamente aos desafios de uma cooperação eficiente e aos problemas econômicos e financeiros das nações em desenvolvimento.

Aumento da fome

O chefe de Estado já tinha alertado sobre um possível aumento da fome enquanto se aprofunda a crise sanitária gerada pela Covid-19. O país caribenho é considerado o mais pobre do hemisfério ocidental, com pouco mais de 11 milhões de pessoas, das quais um de cada três sofre de insegurança alimentar.

Atualmente, excetuando alguns distritos de Porto Príncipe, as regiões do Haiti estão classificadas na fase três de cinco possíveis, enquanto 1,22 milhões de pessoas enfrentam a fase quatro, na antessala da fome, segundo o Marco Integrado de Classificação de Segurança Alimentar.

Sistema sanitário

As autoridades reconheceram a fragilidade do sistema sanitário nacional, incapaz de cobrir os serviços básicos para a maioria de seus cidadãos, ao que se soma a falta de pessoal e infraestruturas adequados.

Até hoje, só duas instituições na capital estão qualificadas para diagnosticar os casos de Covid-19, e só cinco centros tratam a doença em todo o território nacional.

No último 7 de maio o Haiti recebeu o primeiro de seis lotes de materiais, insumos e equipamentos médicos solicitados pelo governo para atender a pandemia. O executivo designou quase 25 milhões de dólares para a compra de trajes protetores, máscaras, óculos e batas de cirurgião, respiradores, camas completas e outros insumos, destinados aos centros hospitalares, serviços de ambulâncias e instituições de isolamento.

No entanto, ainda não são suficientes e várias instalações de saúde ameaçam fechar suas portas por falta de equipamentos médicos. O cenário torna-se mais complexo com o estigma a que são sujeitos os enfermos de Covid-19, apesar dos apelos das autoridades para que sejam evitados os atos violentos.

Disputas políticas

Acrescenta-se ainda uma latente disputa política, que agora se renova com a exigência do fim do mandato do presidente Jovenel Moise em fevereiro próximo, embora o chefe de Estado tenha dito que cumpriria seus prazos constitucionais, que o deixam à frente do país até 2022.

Enquanto a oposição ganha força, Moise embarca na organização de eleições legislativas, adiadas em 2019 diante de uma crise sociopolítica sem precedentes, e uma das exigências de sócios internacionais que apoiam sua permanência no poder.

Solidariedade de Cuba

No final de abril especialistas cubanos integraram-se à luta contra a Covid-19 no Haiti, em um dos centros nevrálgicos desta capital. Integrantes da brigada Henry Reeve, entre os quais há médicos, enfermeiras, laborataristas, farmacêuticos e outros, trabalham em turnos rotativos no Centro de Atendimento de Delmas 2.

Geralmente as pessoas que morreram tinham comorbidades associadas, eram pacientes hipertensos, diabéticos que se complicaram com a própria fisiopatologia da Covid-19 e lamentavelmente morreram, explicou para Prensa Latina a doutora Arletys Reinoso.

No momento, uma vintena de profissionais trata diretamente a doença no Haiti, mas não descartam aumentar este número se o país precisar, disse a Prensa Latina Luis Olivero, coordenador da Brigada Médica Cubana.

Lauré Adrien, copresidente da Comissão Multissetorial que Gerencia a Pandemia, agradeceu a colaboração cubana presente no país há mais de duas décadas.

Anelí Ruiz García, Correspondente chefe de Prensa Latina no Haiti.

Prensa Latina, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

Tradução: Ana Corbusier


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Anelí Ruiz García

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