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Balanço dos 100 dias de Trump II

Revista Diálogos do Sul

Tradução:

O professor titular do Centro de Estudos Hemisféricos sobre Estados Unidos da Universidade de La Habana, Luis René Fernández, em entrevista ofereceu uma análise sobre os primeiros 100 dias de Donald Trump na Casa Branca.

Jorge Petinaud Martínez*
Observa-se, ao concluir o primeiro trimestre, uma grande consistência entre suas ações e as promessas de campanha.

035203_394670Luis René Fernández: Não obstante, é preciso levar em conta a complexidade do governo estadunidense –que não é só o presidente- e as condições em que exerce a presidência, particularmente marcada por conflitos, divisões no interior da classe política e falta de consenso. Sabia-se que Trump enfrentaria oposição dentro do governo e no Congresso apesar de ter maioria republicana, precisamente por essa falta de consenso sobre muitas de suas ideias e com o poder judiciário.

Contudo, creio que levando em conta esses elementos, e que em geral tem muito peso na política de EUA a tendência à continuidade, o presidente Trump tem sido ativo e consistente em seus temas de campanha referentes a frear a entrada de imigrantes, a construção do muro na fronteira, o repúdio ou a revisão das políticas de livre comércio e a busca por fórmulas para atrair investimentos e aumentar o emprego.

Também com relação à construção do oleoduto com o Canadá e o desprezo sobre os acordos sobre o meio ambiente. Isso não significa que tenha tido êxito em tudo, nem que se executem literalmente tudo que anunciou, apresentados frequentemente de modo esquemático e simplista, mas, sim pode-se reconhecer e esperar por importante mudanças na política estadunidense nesses aspectos que pois há coincidência e obediência, ao menos parcial, com suas promessas.

Certamente, nos casos da política externa sobre a China e Rússia nota-se ajustes em direção a um maior pragmatismo com China e acomodação na política com Rússia para aproximar-se às tendências precedentes e evitar uma maior crise interna e conflito em seu governo com figuras do mais alto nível, como o secretário de Estado e suas relações anteriores com a indústria petroleira russa.

Não é de surpreender que persistam comportamentos semelhantes no futuro, porque derivam de situações reais no plano internacional e a correlação de forças, bem como mecanismos para compensar contradições internas em seu governo ou crises políticas.

Qual sua opinião sobre a oposição interna e externa à administração de Trump nesses 100 dias?

Luis René Fernández: As novas tendências políticas conservadoras, nacionalistas e de direita encarnadas por Trump têm importante oposição interna, dentro dos conservadores e no interior do Partido Republicano.

Naturalmente existe a oposição democrata e dos setores liberais e progressistas deste país.

Apesar disso, não se pode descartar o impacto que têm e terão suas ações sobre essas mesmas forças que podem redefinir as alianças, consensos e posições sobre os diferentes temas, ainda que não se aceita as posições mais radicais do Trump.

Creio que a administração Trump representa uma nova etapa no imperialismo e não se trata de um assunto conjuntural: é um fenômeno resultado da grande crise financeira e econômica do capitalismo *2007-2009) e suas sequelas, marcado com os antecedentes da contra revolução conservadora iniciada por Reagan em 1981, que representa um retrocesso ou correção nas tendências da globalização neoliberal, o que não significa uma ruptura com todas as políticas precedentes. Isso nunca ocorre.

No âmbito externo, suas políticos confrontam com a realidade das relações econômicas, políticas e militares e de segurança que não podem ser passadas por alto, a correlação de forças e a existência de países, políticas e tendências opostas ao imperialismo.

Também se observam contradições no interior dos países imperialistas e poderia alcançar maior significado nos próximos anos dependendo dos resultados das eleições em toda Europa.

Não obstante, considero correto identificar que o governo Trump marca uma nova etapa do imperialismo, de certo ajuste ou retrocesso do observado durante a globalização neoliberal.

No desenvolvimento do capitalismo, embora a tendência à internacionalização tenha sido em geral dominante, houve etapas em que, devido às crises econômicas, políticas e suas contradições, refletem retrocessos nesta direção, materializadas em guerras, aumento de manifestações protecionistas e ruptura ou ajuste nos processo de integração precedentes.

No caso das relações com Cuba, como se manifesta o Executivo de EUA depois da chegada de Trump à Casa Branca?

Luis René Fernández: As manifestações do presidente e principais colaboradores de seu gabinete têm variado, desde coincidir com a política de antecessor, embora sempre dizendo que “teria negociado melhor” , até anúncios de revisão total da política estabelecida durante os últimos dois anos da administração Obama, e leva-la ao passado se o governo cubano não se dobra às suas demandas.

Qualquer criança cubana sabe que essas pretensões de subordinação violam a soberania e independência de Cuba e não são objeto de negociação bilateral.

É preciso esperar que a eventual revisão da política anunciada em, EUA permita fazer entender as realidades em que se movem nossas difíceis relações. Há que dizer que continua existindo mais continuidade que mudança, apesar dos reconhecidos progressos e aproximações nas relações sem chegar à normalização, praticamente impossível para muitos, ou pelo menos muito difícil e distante.

A razão das modificações nas declarações políticas tem que ver com as dificuldades do governo Trump de criar alianças internas. Em perspectiva, como em outros casos, a administração terá que considerar as situações reais, os interesses econômicos e questões de segurança.

Por um lado, esses campos têm sua própria inércia e sem dúvida os avanços alcançados, como as relações diplomáticas, aumento das viagens e da comunicação; bem como um grupo de entendimento sobre temas de interesse comuns e sensíveis..

Tudo isso me leva a considerar que embora não se possa descartar tensões e certos retrocessos, não é o mais provável que ocorra uma ruptura de relações nem levar às mesmas a condições como as que caracterizaram a etapa da administração de W. Bush.

Além disso, os últimos acordos de janeiro de 2017 sobre o tema migratório são consistentes com a política manifestada por Trump, e em relação com o emprego, sabe-se que uma eliminação do bloqueio permitiria criar até meio milhão de novos postos de trabalho nos Estados Unidos e muitos significativos negócios da ordem de muitos bilhões de dólares em benefício para suas empresas de agricultura, turismo, transporte e setor energético.

Sua opinião sobre as recomendações dos políticos, empresários, líderes sociais e militares reformados para que Washington mantenha boas relações com Cuba.

Luis René Fernández: As visitas à Cuba, realizada por senadores e congressistas, governadores e homens de negócio confirmam a importância que essas personalidades dão à que se continue a política iniciada pela administração de Barack Obama. Não se pode dizer que sejam ações que determinem o rumo do vetor resultante da política de EUA para com Cuba, mas sem dúvida, são expressões positivas que influem nesse processo. Não esquecer que são parte do governo e tais ações marcam posições política e sinaliza para todos os agentes políticos.

*Prensa Latina, de La Habana especial para Diálogos do Sul


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

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