“O Banco Central (BC) age como se fosse um comitê do sistema financeiro, sem compromisso com o desenvolvimento do país”, afirma Ricardo Gaspar. O economista foi o convidado do Dialogando com Paulo Cannabrava desta quinta-feira (3) para responder à questão: como combater a inflação sem aumentar o juros?
Gaspar critica com firmeza a presidência do Banco Central no Brasil — responsável pela manutenção da taxa Selic em patamares elevados — e denuncia que a autonomia do órgão, defendida por muitos economistas liberais, só aprofunda a dependência brasileira do capital externo.
“Não há justificativa econômica para manter os juros tão altos. Isso só transfere renda para o setor financeiro e impede o crescimento do país”, argumenta. Segundo o professor, o Brasil é um dos únicos países do mundo que remunera os bancos por deixarem dinheiro parado, através da chamada “política de juros sobre a sobra de caixa”.
A entrevista abordou ainda o papel dos grandes bancos e da mídia tradicional na construção de um consenso favorável a essa política: “Os meios de comunicação repetem o discurso da ‘inflação de demanda’ para justificar os juros altos, quando, na realidade, os preços sobem por fatores externos, como energia e alimentos”, explica.
Para ele, é urgente repensar o modelo econômico brasileiro. “Precisamos de um Banco Central que esteja a serviço do povo, e não do sistema financeiro. E isso só vai acontecer com mobilização popular e pressão política”.
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Gaspar aproveitou para comentar as recentes tarifas anunciadas por Trump: “Esse tarifáço é um negócio de louco. Mais de 40% para alguns países. O Brasil ficou com pouco, 10%. É a tarifa mais baixa de todo o tarifáço que ele impôs. Europa, 20%. China, 20%”, critica Gaspar.
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Segundo ele, a política do presidente Donald Trump de aplicar taxações em outros países é parte de uma estratégia para forçar a valorização do dólar e a desvalorização de moedas como o real: “Aumentar os juros e valorizar o dólar serve ao capital especulativo, mas destrói economias periféricas”, conclui.
A entrevista completa está disponível no canal da TV Diálogos do Sul Global no YouTube: