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ToggleO racismo estrutural no Brasil afeta a todos, mas mata os pretos.
Confesso que, mesmo sendo professora e educadora popular, eu não tenho a paciência de Camilla de Lucas ou de João Luiz Pedrosa, que ontem protagonizou a cena mais potente do BBB2021 e fez toda a internet discutir o tema.
Vou tentar explicar minha impaciência.
Muitos professores admitem ou às vezes adotam apelidos para crianças e adolescentes negros, por exemplo, reforçando o racismo.
Há inúmeros estudos acadêmicos sobre racismo escolar, orientados pela professora Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva, autora das diretrizes curriculares para a questão racial na sala de aula, fruto da Lei 10639/03. Busquem o trabalho, por exemplo, de Eliane Cavalleiro e outros estudos orientados por Petronilha.
Vocês descobrirão muito sobre o danoso racismo escolar desde a primeira infância.
Professoras que se dirigem a meninas negras e dizem que o cabelo delas não foi feito para andar solto ou professoras que não tocam em crianças negras, que não as pegam no colo. Professoras que apelidam bebês negros que estão começando a andar e a explorar o mundo de “furacão” e tratam meninas brancas de “princesa”.
Quando João do BBB se torna um professor, isso significa que ele resistiu como poucos: ele passou desde a primeira infância ouvindo barbáries sobre suas características físicas: a textura do seu cabelo, o tamanho de seu nariz e lábios, a cor da sua pele. Ele resistiu desde a primeira infância a inúmeras agressões sobre aspectos físicos que o constituem como pessoa e seu ser e estar no mundo.
Quando Camilla de Lucas, com toda sua paciência do mundo, tenta explicar pela enésima vez o porquê são expressões do racismo comportamental as falas xucras de Rodolffo Mathaus e ele se nega a ouvir ou a se desculpar ( lembremos que Rodolffo reafirmou ao João o que ele vê como semelhantes: os cabelos afro e os cabelos artificiais de uma peruca de homem das cavernas), Camilla sabe que está perdendo seu tempo. Ela fez isso a vida toda. João fez isso a vida toda.
@petitabel
O racismo estrutural no Brasil afeta a todos, mas mata os pretos.
“Cabelo bom, cabelo ruim“
O Brasil é um país que qualifica textura de cabelo. Aqui existe “cabelo bom” e “cabelo ruim”.
Aqui cabelo tem atributo de bondade e maldade.
Cabelo bom não é cabelo saudável, é cabelo liso.
Cabelo ruim não é cabelo que cai, por exemplo, por causa de um câncer, é cabelo afro.
Mães de meninas e meninos com cabelos crespos passam a vida tentando mostrar pra seus filhos que seu cabelo é lindo como qualquer outra textura de cabelo ou se rendem aos alisamentos e cortes curtíssimos. É exaustivo, profundamente exaustivo.
Porque essas mesmas mães não conseguem dormir à noite quando seu filho vira adolescente e não pode andar de capuz sem ser tratado pela polícia como marginal.
Não dormem à noite quando seu filho não pode ter uma vida normal de adolescente, porque ele tem a marca da cor, do cabelo, a marca da suspeição em um país onde o racismo é comportamental, institucional e estrutural, onde o genocídio de jovens negros é gritante e não há mobilização da sociedade para parar essa barbárie secular.
É possível formar adultos, com todos os recursos, deformados pelos preconceitos?
Vi branco sem noção (e às vezes sem caráter) criticando João por expor a sua dor, provocada por Rodolffo, em cadeia nacional. Qualificaram João como mau professor.
Não tenho paciência pra essa gente, não tenho mesmo.
A formação, a educação pode transformar sim comportamentos, mas se o sujeito não está disposto a aprender e já está deformado pelos preconceitos, não irá aprender.
Bolsonaro é um excelente exemplo disso. Bolsonaro jamais irá aprender, age como um sociopata e tem orgulho disso. Muitos que votaram nele, coadunam com o seu pensamento deturpado. São machistas, misóginos, lgbtqia+fóbicos, racistas, gente! Essa gente é um combo de preconceitos, são doentes sociais.
O racismo à brasileira é tão eficiente que há negros que tomaram o partido de Rodolffo, justificando sua fala preconceituosa, e condenaram João.
Não venceremos o racismo sem a participação do branco que reitera e reifica cotidianamente o racismo. No entanto, já passou da hora de branco que se diz não racista combater seu racismo por si mesmo, estudar, pesquisar, refletir e se transformar.
Façam, como diz Preto Zezé da Cufa, experimentem um autoconstrangimento pedagógico.
Os pretos deste país estão cansados de jogar pérolas aos porcos.
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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