Pesquisar
Pesquisar

Bernie Sanders representa movimento popular e antineoliberal sustentado pelos jovens

"Os jovens são a coluna vertebral deste movimento que nos animam, nos trazem a esperança de que efetivamente a luta continuará”, afirma o porta-voz do socialista
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

“Este é um movimento do povo… que brota da indignação e da esperança, e com uma coluna vertebral sustentada por jovens”, afirma José La Luz, representante nacional e porta-voz do candidato presidencial Bernie Sanders em entrevista a La Jornada.

La Luz é um veterano militante e estrategista trabalhista que foi diretor de educação popular de sindicatos e organizações sociais nacionais, que coordenou a organização massiva de mais de 125 mil trabalhadores do setor público em Porto Rico, promoveu a solidariedade internacional entre o México e os Estados Unidos como parte de movimentos altermundistas e que agora vê parte desse mosaico de experiências no movimento insurgente eleitoral do socialista democrático Sanders.

Em sua participação na campanha – no Texas, em Nevada e na Carolina do Sul – La Luz também introduz as realidades de “países” da América Latina como uma dimensão eleitoral.

Perguntado sobre como explicaria o fenômeno Sanders aos que estão observando tudo isto de fora dos EUA, La Luz responde que “sem dúvida, este é um movimento popular que tem todas essas forças que para alguns parece inexplicável, mas que para muitos que participam há anos como militantes de movimentos sociais sabem de onde provém a indignação e a raiva que os trabalhadores deste país sentem diante de promessas não cumpridas, da manipulação constante dos que se proclamam amigos dos trabalhadores e que logo após eleitos, esquecem os compromissos com os trabalhadores. Uma população que já não aguenta mais. Assim é que o copo está cheio e é isso é que estamos vendo e sentindo, uma indignação crescente entre os trabalhadoras, especialmente, entre os latinos”.

"Os jovens são a coluna vertebral deste movimento que nos animam, nos trazem a esperança de que efetivamente a luta continuará”, afirma o porta-voz do socialista

Gage Skidmore
Candidato presidencial Bernie Sanders

Esta indignação, acrescenta La Luz, provém da aplicação da agenda neoliberal dentro dos Estados Unidos, ressaltando que “em outros tempos, amplos setores da classe trabalhadora neste país se beneficiavam da expansão imperialista e das políticas neoliberais aplicadas em outros países, mas hoje estão padecendo as mesmas consequências. É uma classe trabalhadora multirracial, como sabemos, provavelmente a mais multirracial dos países avançados… e todos têm sofrido os embates desse projeto neoliberal.


“Desde a ótica de nossos países, o resultado de um eventual triunfo de Sanders é que existiria na Casa Branca um aliado estratégico que o povo da América Latina necessita desesperadamente, um presidente dos EUA que respeitará nossos povos, com um propósito de fomentar uma economia de prosperidade compartilhada e uma relação comercial que não seja definida pelos grandes interesses financeiros e empresariais, mas sim com base nas necessidades sociais do continente para fazer frente à crescente desigualdade”, afirmou.
 

“Por isto se apresenta a possibilidade de uma relação de solidariedade entre trabalhadores do norte e do sul que pode ser plasmada com um governo de uma pessoa comprometida como Sanders”, sublinhou.

Comenta que voluntários solidários internacionais que vieram da Europa, da Austrália, do Japão e de outros países para trabalhar com a campanha de Sanders, “veem Sanders como esse aliado estratégico que tanta falta nos fez por tantos anos”.

Às vésperas da “super terça”, La Luz considera que “se ganharmos no Texas e na Califórnia, será muito difícil que consigam impedir que Bernie ganhe a maioria dos delegados democratas mesmo que não consiga angariar a quantidade suficiente de delegados para obter a nominação (1.991). O Partido Democrata tem um dilema muito importante porque se fizer o que alguns propõem, organizar uma manobra (na Convenção Nacional) para negar a nominação a Bernie, eu creio que será como dizer preparem-se para outros quatro anos de Donald Trump”.

“O voto latino foi contundente em nosso triunfo em Nevada. A chave foram os jovens, já que sabíamos que iriam arrastar seus pais, e efetivamente assim aconteceu. Porque o medo que tinha nossa gente não só pelo assunto da migração e as deportações, mas também pela repressão que ocorre cotidianamente neste país desde que este senhor (Trump) nos colocou um alvo nas costas. Mas quem lhes deu coragem para participar foram seus filhos”, comentou La Luz. 

Recorda que quando chegavam nas casas para promover o voto, os pais não queriam deixá-los passar, mas que seus filhos diziam “são as pessoas do Tio Bernie, vocês têm que escutá-los”, e com isso nos deixavam entrar para conversar. 

E essa gente latina trabalhadora tem entre suas prioridades o acesso a serviços de saúde e à educação para seus filhos, justamente o que propõe Sanders, um seguro de saúde universal e educação universitária gratuita, além do seu compromisso com uma reforma migratória e cancelamento das medidas anti-imigrantes do atual governo. Isso explica o triunfo em Nevada, disse La Luz, portanto utilizaremos essa mesma estratégia em outros estados com significativas populações latinas. 

Ainda segundo o porta voz, o movimento será ainda mais importante no caso de uma vitória do senador democrata. “Sanders sempre reitera que este movimento não poderá se desarticular após sua vitória eleitoral, pelo contrário, será necessário que continue se organizando, fortalecendo e ganhando ainda mais força, já que para que seu projeto político se concretize, será necessária uma mobilização permanente para o enfrentamento de seus opositores, inclusive os presentes no próprio partido Democrata, que também são grandes aliados dos interessados que ocorra uma verdadeira transformação do país”. 

Os jovens que são a coluna vertebral deste movimento também são militantes em outros movimentos sociais, afirma La Luz. “São eles que nos animam, nos trazem a esperança de que efetivamente a luta continuará”. 

David Brooks é correspondente de La Jornada em Nova York

La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

Veja também

de 


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

LEIA tAMBÉM

Partido Democrata rejeita apelos do eleitorado e ignora genocídio palestino em atos de 7
Partido Democrata rejeita apelos do eleitorado e ignora genocídio palestino em atos de 7/10
Fepal Múcio reduz genocídio palestino promovido por Israel a mero problema ideológico
Fepal: Múcio reduz genocídio palestino promovido por Israel a mero problema "ideológico"
Luta entre tropas israelenses e civis palestinos desarmados não é guerra, é massacre
Luta entre tropas israelenses e civis palestinos desarmados não é guerra, é massacre
1 ano de barbárie em Gaza
Gaza: Ano 1 da barbárie