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Biden promove campanha ambiciosa contra corrupção para perseguir manobras ilícitas financeiras nos EUA

A chamada “Estratégia de Estados Unidos para Combater a Corrupção” apresentada nesta semana afirma que “a corrupção é uma doença que deteriora a confiança pública"
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Joe Biden se converteu no primeiro presidente na história do país em elevar a luta contra a corrupção financeira ao máximo nível ao proclamar que é um assunto de “segurança nacional” ao presentar sua estratégia para combatê-la, embora tenha feito mínima referência ao que muitos consideram a pior ameaça corruptora do país: o dinheiro privado quase ilimitado nas eleições. 

A chamada “Estratégia de Estados Unidos para Combater a Corrupção” apresentada nesta semana afirma que “a corrupção é um câncer dentro do corpo das sociedades – uma doença que deteriora a confiança pública e a capacidade dos governos de cumprir com os cidadãos”.   Biden, em junho, declarou que a “corrupção ameaça a segurança nacional dos Estados Unidos, a equidade econômica, esforços globais contra a pobreza e pelo desenvolvimento, e a própria democracia”, e foi com isso que deu instruções para o desenvolvimento da estratégia 

[https://www.whitehouse.gov/wp-content/uploads/2021/12/United-States-Strategy-on-Countering-Corruption.pdf].

Na estratégia, Biden promove o que chama de uma “campanha” para identificar e perseguir aqueles que estão envolvidos em lavagem de dinheiro e outras manobras ilícitas financeiras tanto dentro dos Estados Unidos como ao redor do mundo.  

A chamada “Estratégia de Estados Unidos para Combater a Corrupção” apresentada nesta semana afirma que “a corrupção é uma doença que deteriora a confiança pública"

Wikimedia
Joe Biden promete uma verdadeira guerra contra a corrupção financeira nos EUA

A estratégia busca examinar e avaliar empresas, banqueiros, advogados que participam na ocultação ou lavagem de dinheiro, intensificar as investigações anticorrupção pelos departamentos do Tesouro, Comércio, Estado, e maior coordenação no tema entre agências de inteligência tanto dentro do país como no estrangeiro. Enfatiza as dimensões “transnacionais” da corrupção e propõe medidas para limitar “a capacidade de atores corruptos de usar os sistemas financeiros dos Estados Unidos e os internacionais para ocultar ativos e lavar os ingressos de atos corruptos”, e portanto propõe maior cooperação internacional nesse esforço. 

Alguns especialistas afirmam que a estratégia representa um dos esforços contra a corrupção mais ambiciosos na história do país, e que se for implementada extensamente conseguirá reformas necessárias e urgentes ante o que alguns críticos chamam de um sistema financeiro paralelo que opera quase de maneira encoberta. 

Partes desse sistema financeiro quase clandestino – conformado por empresas fantasmas e fideicomissos sob nomes emprestados – foram reveladas pela explosiva investigação pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos conhecida como os Papéis de Pandora, em outubro, na qual estava a surpresa para muitos de que os Estados Unidos tinham se convertido em um dos maiores paraísos fiscais do planeta.  

A investigação revelou que Estados Unidos superou a Suíça como o país que mais ajuda a milionários ao redor do mundo a ocultar suas fortunas das autoridades fiscais. Essa indústria de serviços legais elaborados para ocultar fortunas está centrada nos estados de Dakota do Sul, Florida, Texas, Delaware e Nevada entre outros. Só em Dakota do Sul foram identificados fideicomissos estabelecidos para ocultar fortunas pessoais por um valor acumulado de mais de 360 bilhões de dólares, incluindo contas de altos ex-funcionários e empresários sob investigação em várias partes do mundo 

[https://www.jornada.com.mx/2021/10/05/politica/002n1pol].

Estas operações são legais, mas frequentemente empregadas para ocultar riquezas geradas por atividades menos inocentes, como o caso do famoso traficante de armas Viktor Bout, do ditador sérvio Milosevic ou do indonésio Suharto e uma longa lista de mais ex-mandatários, empresários e outros personagens sob investigação que usaram empresas fantasmas nos Estados Unidos para ocultar seus negócios ilícitos.  

Por sua vez, a corrupção financeira, como bem o afirma Biden e seu governo, se estende a outros rubros, incluindo o político. De fato, segundo o último informe anual da Transparência Internacional emitido em janeiro, Estados Unidos está padecendo seu pior nível de corrupção em quase uma década. Seu deterioro é em parte resultado de uma queda na confiança em seu sistema eleitoral gerada não só por desinformação, mas sim pelo investimento de montantes sem precedentes de dinheiro cujas fontes não são divulgadas. 

O que em qualquer outro país seria considerado como atividade corrupta por definição, nos Estados Unidos se injetam somas astronômicas de dinheiro privado nas eleições nacionais, estaduais e locais, tudo de maneira legal. Os doadores não têm que ser identificados, e podem evadir limites em contribuições através de várias manobras.  

A eleição federal – presidência e legislatura – de 2020 foi a mais cara até hoje, chegando a um total de quase 14 bilhões, mais do dobro do ciclo anterior em 2016, segundo a organização especializada Open Secrets. Em 2020, 20 multimilionários aportaram um total de 2,3 bilhões – cifra que é o dobro de que gastou a campanha eleitoral de Biden. 

Mas esse tema não foi mencionado por Biden e sua equipe como parte do enfoque de seu combate contra a corrupção, e só mereceu uma frase em todo o documento de sua estratégia, onde afirma que o governo “vai defender uma maior transparência no sistema de financiamento de campanhas [eleitorais] dos Estados Unidos” e promete fortalecer as proibições em tentativas estrangeiras para influenciar nas eleições.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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