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Biden renuncia à candidatura e endossa Kamala Harris para 2024

Em uma surpreendente reviravolta, Joe Biden anunciou sua saída da corrida presidencial, apoiando Kamala Harris como a melhor opção para enfrentar Donald Trump nas eleições de novembro
David Brooks, Jim Cason
La Jornada
Nova York

Tradução:

Beatriz Cannabrava

Joe Biden finalmente decidiu render-se ante o esmagador coro de seu partido, e eleitoral, ao declarar este domingo que abandonará a contenda presidencial e endossou à sua vice-presidenta, Kamala Harris, como a melhor opção para substituí-lo na luta para derrotar Donald Trump nas eleições nacionais de novembro.

A decisão de Biden se dá umas três semanas depois de seu desempenho desastroso no primeiro debate presidencial contra seu opositor republicano Trump e o fracasso de convencer a legisladores e doadores de seu partido de que isso foi um lapso de um dia, ante crescente dúvidas sobre o estado físico e mental do presidente de 81 anos. Com isso, Biden, que esteve no mundo político por mais de meio século, tomou a primeiro decisão para pôr fim à sua carreira política eleitoral.

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“Enquanto foi minha intenção busca a reeleição, creio que está no melhor interesse de meu partido e país que me faça a um lado e enfocar-me só em cumprir com meus deveres como presidente pelo resto do meu período”, declarou Biden em uma carta aberta ao povo estadunidense. Agregou, via X, um pouco depois que “desejo oferecer meu pleno apoio e endosso a Kamala para ser a nominada de nosso partido este ano. – Democratas, é hora de unir-nos e derrotar a Trump. Vamos fazê-lo”.

No que de imediato foi qualificado como “um dia histórico” – de fato, nenhum presidente ativo que tinha a opção de buscar a reeleição a havia rechaçado, desde Lyndon B. Johnson en 1968 – tudo indicava que a estratégia era passar-lhe a batuta diretamente a Harris e tentar reabrir o concurso para a nomeação do próximo candidato presidencial democrata na Convenção Nacional Democrata programada desde 10 a 22 de agosto, onde até agora era a sede para a coroação de Biden.

Poco depois do anúncio de Biden, Harris emitiu um próprio declarando que “estou honrada em ter o endosso do presidente e minha intenção é obter e ganhar esta nominação”.

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Embora haja oposição interna entre alguns legisladores, doadores e estrategistas democratas a que Harris seja a sucessora, as declarações cuidadosamente coreografadas este domingo tentam ao mesmo tempo, reconhecer que não há consenso absoluto, mas também buscar frear outras opções e consolidar a candidatura de Harris.

A ex-senadora e procuradora geral da Califórnia é a primeira mulher em ocupar a vice-presidência e a primeira hindu-americana nesse posto. Sua candidatura presidencial anunciada este domingo já conta com o endosso do ex-presidente Bill Clinton e sua esposa, ex-candidata presidencial e ex-chanceler Hillary, e também a da senadora liberal Elizabeth Warren como de dezenas de outros eleitos que se expressaram a favor dela ao longo do dia, incluindo duas figuras que se haviam mencionado como possíveis candidatos presidenciais, o governador Gavin Newsom da Califórnia e sua contraparte de Pensilvania, Josh Shapiro.

Já para a tarde do domingo, poucas horas desde o anúncio, a campanha de Joe Biden para Presidente já havia trocado seu nome para campanha de Harris – e como ela era já a companheira de fórmula, os fundos arrecadados para a campanha de seu chefe aparentemente agora podem ser utilizados por ela.
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Esta tarde, Harris enviou sua primeiro mensagem como pré-candidata presidencial para arrecadar fundos: “Esses não são tempos comuns. E esta não será uma eleição comum… Mas isto é nosso Estados Unidos. E te necessito comigo nesta luta”.

A aposta é que uma candidatura de Harris entusiasmará os eleitores jovens – ela, de 59 anos de idade, é mais de 20 anos mais moça que Biden e 18 mais moça que Trump – como também a mulheres e alguns setores minoritários já que buscaria ser a primeira mulher, e a segunda pessoa de “cor” que se enfrentaria contra a fórmula republicana de dois homens brancos os quais trabalharam para anular os direitos das mulheres sobre seus próprios corpos e cujas bases incluem supremacistas brancos.

No entanto, alguns duvidam de que seja a melhor candidata nessa conjuntura, em particular por sua desempenho em sua fracassada campanha presidencial anterior como por sua falta de logros em sua capacidade como vice-presidenta. Maria Cardona, integrante do comitê de regras do Comitê Nacional Democrata comentou a NBS News que “sei que há gente trabalhando atrás do cenários os quais pensam que não é a melhor para levar-nos à vitória” em comentários antes do anúncio de Biden. Advertiu que se um intento para impor a Harris “for percebido como um tática inorgânica encabeçada por altos mandos no Partido Democrata, haverá uma guerra civil dentro do partido na que ninguém sobreviverá”.

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Talvez por isso, a primeira declaração de Harris foi cuidadosamente redigida para expressar que estava pronta para “concursar” e ganhar a nominação para ser a candidata presidencial democrata. Vários observadores políticos e juntas editoriais em meios nacionais sugeriram que a melhor opção é um processo aberto e competitivo para selecionar o/a melhor candidato/a para o partido.

Durante semanas se mencionaram vários possíveis candidatos na eventualidade de que Biden se retirasse da contenda, incluindo Newsom, a governadora de Michigan, Gretchen Whitmer entre outros 4 ou 5, sobre todo aqueles políticos estaduais ou federais que provêm dos estados claves que finalmente determinarão os resultados da eleição nacional.

Em teoria, os democratas poderiam abrir o processo incluso em sua convenção nacional em meados de agosto, mas o presidente do partido Jamie Harrison afirmou em uma declaração este domingo que “nos dias vindouros, o partido realizará um processo transparente e ordenado para proceder como um Partido Democrata unido com um candidato que possa derrotar Donal Trump em novembro”.

A cúpula do partido aparentemente teme um debate aberto em sua convenção nacional e está buscando gerar apoio esmagador para Harris e com isso usar a convenção como sede para lançar sua candidatura na eleição geral. Na eleições de 2020 Harris se apresentou como pré-candidata presidencial mas rapidamente se retirou da contenda por uma série de tropeços e mal manejo de sua campanha e seu fracasso em gerar maior apoio.

Em seu tempo como vice-presidenta, Harris se reuniu com o Presidente Andrés Manuel López Obrador en várias ocasiões e foi encarregada por Biden para desenvolver estratégias de longo prazo para abordar as “causas raiz” da migração, embora seus logros não tiveram grande impacto político. Dentro deste país, Harris foi uma das protagonistas em enfrentar a agenda antiaborto dos republicanos como também, em seu papel de ex-procuradora estatal, em ressaltar os problemas legais de Trump e seus aliados. Suas posições sobre assuntos de política exterior são menos conhecidas.

Sua tarefa imediata é convencer tanto as suas próprias filas como a opinião pública de que ela pode ser a cara do futuro de seu partido e deste país.

Enquanto isso, e apesar de uma decisão tão demorada, se pode escutar um suspiro coletivo de alívio entre democratas e seus aliados de que Biden usou a saída de emergência do cenário eleitoral.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.
Jim Cason Correspondente do La Jornada e membro do Friends Committee On National Legislation nos EUA, trabalhou por mais de 30 anos pela mudança social como ativista e jornalista. Foi ainda editor sênior da AllAfrica.com, o maior distribuidor de notícias e informações sobre a África no mundo.

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