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Bloqueio começou em 1962, mas cobiça dos EUA por Cuba nasceu há mais de 200 anos

A votação na Assembleia Geral da ONU neste 2022, deveria ser a última. O bloqueio genocida deve chegar ao seu fim
Gustavo Espinoza M.
Diálogos do Sul
Lima

Tradução:

Extenso e tormentoso é o período que vincula as relações entre Estados Unidos e Cuba, e que se estende até hoje carregado de sobressaltos. Poucos recordam, no entanto, que desde a própria independência do poderoso do Norte, a presença da maior das Antilhas assomou como uma apetitosa guloseima que a bandeira de barras e estrelas quis devorar.

Em 1808, Thomas Jefferson propôs a compra da ilha. E o propôs ao governo da Espanha, que não aceitou a ideia: “Vi Cuba como a mais interessante aquisição que se haja feito ao sistema de estados”, disse depois. 

Em 1823, o Secretário de Estado John Quincy Adams propôs sem pudor “a anexação de Cuba” como um requisito natural. A ilha “terá que gravitar inevitavelmente para a União norte-americana”, assegurou. Desde então, o tema foi uma febre na política dos EUA e assomou como uma ameaça significativa para a pequena ilha dos Mambises.

Para Washington, Cuba era algo assim como “a janela” para o Caribe e, portanto, peça chave para o domínio dos territórios situados ao sul do rio Bravo até a Patagônia.

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Cuba é garantia de paz, de solidariedade, de avanços científicos e de mão estendida




José Martí

José Martí, o Prócer cubano o soube sempre. Por isso disse antes de cair em combate em 1895: “meu dever é impedir a tempo, com a independência de Cuba, que se estendam pelas Antilhas os Estados Unidos e caiam como essa força mais sobre nossas terras de América. Quanto fiz até hoje, e farei, é para isso”.

Talvez a melhor oportunidade teve a Casa Branca em 1898, quando no fragor da luta de Cuba contra Espanha o governo norte-americano resolveu ocupar militarmente a ilha, fato precedido pela provocação do “Maine”, com um saldo doloroso de destruição e morte. 

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A coisa não resultou como esperavam os Infantes da Marinha, e eles tiveram que retirar-se diante do massivo repúdio da Ilha; não sem deixar dois nós: a base Naval de Guantánamo, e a Emenda Platt. Enquanto a primeira subsiste, a segunda ficou sepultada no esquecimento em 1925.


Fulgêncio Batista

Depois de alguns anos, veio Batista, e depois o 1º de janeiro de 1959. O triunfo de uma Revolução imbatível que liberou Cuba da ditadura tirou do sério os mandantes do Império. Eles buscaram uma forma de acabar com o que o julgaram “uma ameaça intolerável”. Idealizaram várias ações como “Praia Girón”, mas a mais monstruosa foi o Bloqueio que completa mais de 60 anos, gerando imensos prejuízos materiais à Ilha e deixando uma dolorosa esteira de sofrimento e morte.      

Se quisermos localizar a origem mais remota desta barbárie, bem pode recordar-se o já célebre Memorando do Secretário de Estado Lester Mallory que, em 1960, sugeriu avessamente sua concretização. 

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Recordemos o que disse: “A maioria dos cubanos apoiam Castro… o único modo previsível de tirar-lhe apoio interno é mediante o desencanto e a insatisfação que surjam do mal-estar econômico e das dificuldades materiais… há que se empregar rapidamente todos os meios possíveis para debilitar a vida econômica de Cuba… uma linha de ação que, sendo o mais habilidosa e discreta possível, alcance os maiores avanços na privação a Cuba de dinheiro e fornecimentos, para reduzir seus recursos financeiros e os salários reais, provocar fome, desespero e a derrocada do Governo”.


Episódios

Ao longo da história humana, se registraram diversos episódios nos quais um país mais forte submeteu seu adversário a um bloqueio para rendê-lo. Desde o sítio de Tróia até o Cerco de Leningrado, entre 1941 e 1944, a vida dos países conheceu episódios deste tipo. Mas nenhum alcançou a magnitude do que hoje contempla o mundo. 

Os outros ocorreram em tempo de guerra. Este, em tempo de paz, o que o faz inaudito. Mas o mais horrendo do século XX – Leningrado pela Alemanha Nazista – se prolongou por algo mais de 900 dias, mas este já dura mais de 30.000 dias. E Washington busca não só estendê-lo, mas inclusive perpetuá-lo.

O mundo observa com horror esta selvageria sem freio. Por isso, há 31 anos, a ONU discute e aprova uma moção anual de condenação ao bloqueio imposto contra Cuba. Conforme passa o tempo, mais países se somam a tão legítima iniciativa. Nos últimos anos, só Estados Unidos e Israel votaram contra. Mas Israel teve o cuidado de dizer que o faz por “lealdade” ao seu “melhor aliado”, não porque compartilhe a medida.


ONU e a moção

Na última quinta-feira (3), 185 países votaram pelo fim das sanções, durante a Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU). Apenas EUA e Israel foram contra o levantamento, enquanto Brasil e Ucrânia representaram as abstenções.

Mas o tema é outro: não basta aprovar uma moção anual de condenação ao bloqueio, para que esta se conclua. A política norte-americana não se guia pela vontade do mundo, mas apenas por seus interesses. São as pequenas camarilhas financeiras e guerreiras que converteram o regime que sustenta o gendarme do Capital e dos Monopólios.

Por isso, agem dando as costas à humanidade inteira. Hoje se diz que o mundo será melhor sem bloqueio. E é verdade. Mas seria também melhor sem o Império. O confirma a história e o sublinha a evolução da política mundial em nosso tempo. 

Cuba é garantia de paz, de solidariedade, de avanços científicos e de mão estendida. Os peruanos podemos dar testemunho vivo disso, porque percebemos o sangue e o braço estendido de Fidel e de seu povo. Mas todos sabem, como nós.

Gustavo Espinoza M. | Colaborador da Diálogos do Sul em Lima, Peru.
Tradução: Beatriz Cannabrava.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Gustavo Espinoza M. Jornalista e colaborador da Diálogos de Sul em Lima, Peru, é diretor da edição peruana da Resumen Latinoamericano e professor universitário de língua e literatura. Em sua trajetória de lutas, foi líder da Federação de Estudantes do Peru e da Confederação Geral do Trabalho do Peru. Escreveu “Mariátegui y nuestro tiempo” e “Memorias de un comunista peruano”, entre outras obras. Acompanhou e militou contra o golpe de Estado no Chile e a ditadura de Pinochet.

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