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Bolívia: A um mês da eleição presidencial, pesquisa aponta vitória de Evo Morales

De acordo com estudo, bolivianos defendem continuidade de políticas sociais e expansão da nacionalização de setores estratégicos para desenvolvimento
Alfredo Serrano Mancilla
Outras Palavras
São Paulo (SP)

Tradução:

Faltando cerca de 40 dias para a eleição presidencial na Bolívia, seu desfecho se torna cada vez mais claro. Ao analisar o contexto de um processo eleitoral, é importante entender que sempre surgem questões na conjuntura com um impacto impossível de se prever, e que o fundamental é identificar as tendências nas preferências dos eleitores, assim como o mapa de sensações vigente na opinião pública. É cada vez mais comum observar a enorme proliferação de informações, de uma ou outra pesquisa, que determinam as chances de cada candidato na disputa, como se fosse uma corrida de cavalos. Porém, a chave de um estudo rigoroso está na coerência entre o número de intenção de voto e outras variáveis que dão uma visão sociológica e política mais ampla.

Segundo a última pesquisa do Centro Estratégico Latino-americano de Geopolítica (CELAG), ao nível nacional, e com uma amostragem de 2 mil entrevistados, tanto na cidade quanto no campo, predomina na Bolívia um clima de sensações positivas a respeito da situação do país. Quase um terço dos bolivianos demonstram esperança com relação ao futuro – a principal sensação em ordem de importância – seguida da sensação de confiança (14%). Isto é justamente o contrário do que ocorre na “Argentina de Macri”, onde a raiva e a angústia são os sentimentos majoritários, segundo outra pesquisa do CELAG do mês de julho. Em outras palavras: ocorre nas eleições bolivianas o extremo oposto do que algumas vozes da oposição afirmam, de que o país estaria à beira de uma catástrofe.

A partir da mesma fonte, é importante ressaltar que 54% dos bolivianos têm uma imagem positiva do presidente Evo Morales – nas mesmas proporções que manifestam ter sentimentos como confiança, respeito e afeto por sua pessoa. Além disso, após 13 anos de mandato, 72% avaliam positivamente sua gestão, sete pontos superiores ao levantamento de março de 2018. Esse contexto favorável ao atual líder se contrasta com as opiniões da população de setores de oposição: dois terços dos bolivianos têm sentimentos negativos sobre “as brigas da oposição” (angústia, cansaço e ódio). Outros dados da mesma pesquisa do CELAG: somente 37% veem o desempenho dos oponentes com bons olhos.

De acordo com estudo, bolivianos defendem continuidade de políticas sociais e expansão da nacionalização de setores estratégicos para desenvolvimento

Agência Boliviana de Informação
O presidente da Bolívia e líder indígena Evo Morales

É importante também ressaltar que a oposição não é homogênea, portanto, é pertinente decifrar o que ocorre em seu interior. Se percebe a candidatura de Carlos Mesa estagnou em seu teto de votos na casa dos 37% das intenções, e sua imagem positiva diante do eleitorado geral caiu de 35,2% à 28,6%. Se observado apenas dentro da sua bolha eleitoral, só desperta sentimentos positivos em 39%, enquanto que a decepção e rejeição acumulam 42,3%. Por sua vez, a candidatura “made in Santa Cruz”, de Óscar Ortiz, se estabiliza e todos os indicadores apontam melhora, alcançando alto nível de desempenho – questão que há poucos meses era sua principal dificuldade. Sua avaliação positiva diante dos eleitores saltou de 15,2% a 23,1%, e aumentou significamente sua margem de 12,5% para 28,7%. Se comparado com Mesa, no que diz respeito a decepção e rejeição, seu número é muito menor (33%).

Outra variável fundamental que ajuda a entender melhor o clima da disputa são as expectativas sobre quem vencerá o pleito, para além das preferências de cada eleitor. Segundo o CELAG, os números falam por si só: 60% dos bolivianos e bolivianas acreditam que o próximo presidente será Evo Morales. Inclusive entre os que afirmam votar na oposição, os números são muito elevados: dos eleitores de Mesa, quase metade assume a vitória de Evo. Em outras palavras, 4 em cada 10 eleitores de Carlos Mesa não acreditam que seu candidato vai vencer as eleições, o que denota que a desesperança cresce nointerior de seus próprios apoiadores.

Outro aspecto que nos permite explorar dentro da pesquisa quantitativa são os sentidos comuns e os posicionamentos ideológicos dos eleitores, o para detectar o mapa de afinidades entre as diferentes candidaturas. No mesmo levantamento do CELAG, por exemplo, observamos que mais da metade da população apoia a continuidade das atuais políticas sociais e consideram que deveria ser ampliada a nacionalização de setores estratégicos. Em uma avaliação global da política econômica dos últimos anos, mais de 50% dos bolivianos consideram o o atual modelo econômico melhorou o bem-estar, consumo, salários e nível de emprego desde a última pesquisa de março.

Apresentados os dados, é quase desnecessário informar os números referentes às intenções de voto, visto que qualquer leitor já pressupõe que haja uma diferença cada vez maior entre Evo Morales e seus adversários. São 18 pontos à frente de Carlos Mesa. Evo Morales cresceu seis pontos desde março até hoje, saltando de 37,5% para 43,4%; enquanto Mesa apresenta queda de 28,6 para 25,1% e Ortiz avança de 7,6 para 12,8%. Diante deste cenário, é evidente como a oposição é incapaz de agregar os anseios da população, embora Ortiz tenha uma tendência de crescimento nos últimos meses.

Os setores da oposição, no entanto, estão bem distantes da centralidade que Evo Morales ocupa na política boliviana. O atual mandatário goza de grande credibilidade, reconhecimento majoritariamente positivo de seu modo de governar e incorpora os principais consensos, alcançados graças às políticas sociais aplicadas pela sua gestão, em matéria econômica e social, durante todos estes anos. E, por tudo isso, nas eleições de 20 de outubro, a ocorrência de um segundo turno é cada vez mais improvável.

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Alfredo Serrano Mancilla Doutor em Economia e diretor do Centro Estratégico Latinoamericano de Geopolítica (CELAG).

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