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Bolsonaro arruma briga com Centrão e dá "tiro no pé" com bloqueio do Orçamento Secreto

"Bolsonaro vai precisar de muita ajuda ano que vem, porque ele pode realmente ir para a cadeia", explica o geógrafo e professor Elias Jabbour
Luana Bonone
Revista Fórum
São Paulo (SP)

Tradução:

O ainda presidente Jair Bolsonaro (PL) bloqueou os recursos do orçamento secreto para o restante do ano em dois atos assinados nesta quarta (30), um dia após reunião do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com o deputado federal Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados. O PT e o PSB decidiram apoiar a reeleição de Lira também nesta terça (29), aproximação que desagradou o quase ex-presidente da República. O PT também deve apoiar a reeleição do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

Como um garoto que tem propriedade da bola e resolve acabar com o jogo, Bolsonaro suspendeu o pagamento dos cerca de R$ 7,8 bilhões que ainda não haviam sido liberados para o pagamento das emendas de relator, o chamado orçamento secreto, que tinha R$ 16,5 bilhões reservados. Ou seja, aproximadamente 47% do recurso destinado ao instrumento criado pela atual gestão do Poder Executivo não serão mais pagos neste ano.

O presidente da República alega que faltam recursos para outras áreas com os sucessivos bloqueios que o governo precisou fazer para cumprir o teto de gastos – embora o teto tenha sido excedido em R$ 795 bilhões até agora em sua gestão. Como resposta, o centrão já articula alterar a PEC da Transição para incluir uma regra que torna as emendas secretas impositivas, o que obrigaria o Executivo a fazer os pagamentos ainda este ano e blindaria os repasses de cortes.


Tiro no pé

“Ele espera que isso vá obrigar o Lula ano que vem a refazer o orçamento secreto para gerar um desgaste. Mas pode ser um tiro no pé”, avaliou Hugo Albuquerque, advogado e publisher no Brasil da revista Jacobin que participava da edição desta quarta do Jornal da Fórum quando recebeu a notícia, inicialmente divulgada por reportagem do Estadão. Ele acredita que Lira precisará do PT para se reeleger, especialmente após este ataque de Bolsonaro, o que pode fazer com que o presidente da Câmara não pressione a nova gestão para manter o instrumento.

"Bolsonaro vai precisar de muita ajuda ano que vem, porque ele pode realmente ir para a cadeia", explica o geógrafo e professor Elias Jabbour

Foto: Alan Santos/PR
Elias Jabbour: "Bolsonaro corre um risco enorme (…) Lira não vai engolir isso de graça"




Banho de política

Outro participante do Jornal da Fórum, o professor universitário Elias Jabbour questionou: “Será que o Bolsonaro acreditou que o Lira seria fechado com ele até o final? Sendo que nem o Ciro Nogueira vai ser…!”. Para Jabbour, enquanto Lula está “dando banho de política”, Bolsonaro se apequena ainda mais. O autor de livros sobre a China considera o apoio do PT e PSB a Lira uma “vitória da grande política”.

“Então, na verdade, o Bolsonaro tentou dar um tiro no pé do Lira para evitar a reeleição dele, e isso pode se voltar contra ele”, continuou. Para ele, comprar briga com o centrão neste momento pode gerar uma fatura alta para o atual presidente em 2023. “Bolsonaro vai precisar de muita ajuda ano que vem, porque ele pode realmente ir para a cadeia. O Bolsonaro corre um risco enorme”, lançou, para em seguida concluir: “o Lira não vai engolir isso de graça”.


Perdeu timing do golpe

Hugo Albuquerque diz que Bolsonaro “perdeu o timing do golpe” e não sabe como agir porque nunca perdeu uma eleição. Ele acredita que Bolsonaro apostou todas as suas fichas nas manobras feitas para garantir a eleição no voto, incluindo a atuação da Polícia Rodoviária Federal no dia na votação do segundo turno e outras medidas que conseguiram “impedir que muita gente fosse votar”.

“Como o Bolsonaro viu que perdeu na urna e o [presidente dos EUA Joe] Biden reconheceu rapidamente o resultado, ele perdeu o timing. Aí ele desapareceu, agora aparece dando uma dessas, que na verdade prejudica a ele próprio no ano que vem”. O advogado ainda cita como erros o fato de o mandatário ter exposto seu partido, o PL e o presidente da agremiação, Valdemar Costa Neto, em uma ação de questionamento do resultado das eleições que gerou uma multa de R$ 22,9 milhões de reais à legenda. Também citou a discussão com a deputada federal Carla Zambelli em um jantar do PL ocorrido nesta terça. “De novo, é o Bolsonaro contra as mulheres. Ele não falou que o Roberto Jefferson fez ele perder a eleição, mas brigou com a Carla Zambelli no jantar, imputando a ela a derrota. Infelizmente, não é por uma pessoa sacar uma arma que vai fazer alguém perder eleição no Brasil de hoje. Infelizmente”, argumentou.

Luana Bonone | Revista Fórum


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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