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Paulo Cannabrava Filho*
Alguém, sabiamente, conhecedor da psicologia e da psiquiatria, reconheceu que o Brasil está enfermo. Na realidade, mais além do que a professora Elza Pádua, da Unisinos, define como esquizofrenia social, a nação está em surto psicótico múltiplo e profundo.
Todos os sintomas estão aflorados, percebíveis: paranóia, esquizofrenia, ansiedade, síndrome do medo, ódio, ira, depressão profunda. Isto está manifesto no indivíduo que já não suporta o semelhante, na invisibilidade dos excluídos, na incapacidade de ouvir o outro, na sede irresistível de consumir, na ocupação predadora (genocida e ecocida) compulsiva do território urbano e rural, na indiferença com que se mata ou se manda matar, e por aí vai.
É certo que o país tem um histórico de ódio e violência social que talvez esteja na raiz do surto psicótico atual. O professor Leandro Karnal, da Unicamp, considera que esse ódio é histórico e está representado no massacre dos escravos (extermínio de Palmares) que se perpetua no massacre aos trabalhadores; a fúria avassaladora com que reprimiram a saga de Lampião ou os devotos do Conselheiro ou do Condestado. No caso do cangaço, Karnal lembra e eu também me lembro, as “autoridades” percorreram o Brasil exibindo a cabeça de Virgulino Lampião e Maria Bonita, pra servir de exemplo. Para ele o país está em guerra civil permanente não admitida.
Com esse mesmo ódio executaram os jovens que já estavam rendidos na guerrilha do Araguaia. A ordem era não deixar sobreviventes. A mesma ordem com que liquidaram com os quadros dirigentes dos partidos comunistas. Ou não é guerra civil a ocupação por forças militares das favelas do Rio de Janeiro. A Cidade Maravilhosa está em permanente estado de sítio. A patologia é profunda.
A morte de Vlado e Marighella
Por toda parte se rememorou o assassinato do jornalista Vladimir Herzog, em outubro de 1975. A catedral da Sé ficou lotada com 800 cantores e 24 corais cantando. Foi impressionante, arrepiante, pode ser visto no yotube, ninguém conseguiu segurar as lágrimas. Eu era amigo fraterno de Vlado. São coisas que não se deve deixar de lembrar para que nunca mais se repita. Não obstante, são dezenas de jovens que diariamente são assassinados pela força do estado militarizado.
Vale registrar que o Estadão deu um quarto de página sobre a homenagem realizada na Sé. A Folha simplesmente ignorou o acontecimento. Mas não deixou de registrar o velório do coronel Ulstra, torturador confesso, para o jornal porta-voz do fascismo crioulo é o herói nacional.
Que país é esse? É ou não é coisa de maluco.
Eu vejo o assassinato brutal do Vlado como o fim do jornalismo independente no Brasil. A TV Cultura, uma televisão pública na capital do estado de São Paulo, mantinha um telejornal que, dirigido por Vlado, encarava os acontecimentos mundiais e locais com ética. Por isso liquidaram com Vlado e acabaram com o jornalismo independente. Antes disso, a ditadura já tinha liquidado com os jornais A Nação, Ultima Hora, Correio da Manhã, radio Marconi, os canais de TV 2 do Rio e 9 de São Paulo, meios que tentaram manter um jornalismo ético, não submisso ao projeto da ditadura. A partir daí, todos os meios cresceram e se enriqueceram apoiando o regime autoritário e seu projeto de destruição do país até que se chegou à situação de hoje, transformados em porta-vozes do pensamento único imposto pela ditadura do capital financeiro.
Dia 4 de novembro, na Alameda Casa Branca, na altura do número 900, prestou-se uma homenagem ao revolucionário Carlos Marighella, 46 anos de ter sido assassinado pelos esbirros da ditadura nesse mesmo local. Mesmo desarmado infundia medo pânico na gentinha da repressão. Para chegar a ele torturaram até levar à loucura militantes dominicanos. Tortura é prática de gente insana. Hoje a juventude rebelde o vê Marighella como herói nacional e exemplo. Estão se mobilizando, levando os jovens às ruas para protestar e exigir direitos. É o único caminho para salvar o país. É isso mesmo, só uma nova geração recupera o país. Valeu a pena.
Fernando Henrique Cardoso e o mar de lama
Fernando Henrique, o indefectível. Propôs diálogo nacional. Diálogo em torno de que, cara pálida? Ele, e também os economista que o acompanham, diz que todo mundo sabe o que tem que ser feito. Mas, não diz o que é que tem que ser feito. Loucura arrematada. No dia seguinte propôs um pacto social. Cinismo puro. Soluções? Diz, por exemplo, que é errado apostar na Petrobras (no pré sal) e que se deve voltar ao etanol. Mesmo que os veículos automotores sejam todos elétricos ou por célula de hidrogênio, o petróleo continuará sendo produto essencial e estratégico em todo o mundo. Mais de mil sub-produtos do petróleo são indispensáveis para manter a civilização do consumo. Se não, porque os Estados Unidos e seus aliados invadiram e Iraque, a Libia e trata de desestabilizar todo o Oriente Médio?
A política do pro-álcool poderia ter sido formidável se previamente planejada. Transformou regiões produtoras de alimento em um mar de cana, assoreou rios, contaminou terra e atmosfera e hoje temos cerca de 300 usinas fechadas, com milhares de desempregados.
Contudo, Fernando Henrique, fala em crise moral. Justo ele que desde os tempos da Maria Antônia tem fama de trambiqueiro; ele que com dólares a fundo perdido ‘inventou’ a “teoria da dependência” para justificar a submissão ao império; justo ele que comprou um Congresso Nacional para se reeleger; ele que ‘vendeu’ a Vale do Rio Doce a preço de banana, a empresa mais lucrativa do mundo; ele que ‘salvou’ o lucro absurdo dos bancos através do Proer, um rombo de R$ 30 bilhões para o tesouro nacional; ele que acabou com o esforço tecnológico e científico do país para favorecer as teles. Há coisa mais maluca que tudo isso?
O mar de lama que destruiu um bairro inteiro de Mariana e afetou a mais de 20 cidades em dois estados seguramente é sequela da privatização da Vale e abertura das riquezas minerais para mineradoras estrangeiras. Esse mar de lama é fruto da irresponsabilidade de empresas predadoras preocupadas em saquear a maior quantidade de minério, sem a mínima preocupação com a natureza e o ser humano. Quantos são os mortos e desaparecidos? Qual a extensão dos danos no Rio Doce que abastece mais de milhão de pessoas? Fruto também da irresponsabilidade dos poderes executivos em todos os níveis e das entidades relacionadas com o meio ambiente.
A própria imoralidade não tem moral para julgar o que é ou não moral. Fernando Henrique deveria vestir o pijama e ir para casa, ou como diz o professor Fábio Konder Comparato, idealizador e diretor da Escola de Governo da USP, FHC deveria ser submetido a julgamento por um Tribunal Popular por seus crimes de traição à pátria. O professor que também é doutor em Coimbra e Paris considera que o que “constitui um crime histórico,notável na história brasileira, foi a entrega desse país ao estrangeiro, de pés e mãos atados… Esta é uma ação infinitamente mais danosa que todas as corrupções… Mas, a alienação do país, a submissão do país ao estrangeiro é um crime de consequências incalculáveis, de modo que se um dia, o que eu espero, nos viermos a ter um governo de reconstrução nacional, é indispensável que todos esses homens, se ainda estiverem em vida, que eles sejam processados perante um tribunal popular e condenados à indignidade nacional. Se eles já tiverem morrido, os atos deles serão julgados e a memória deles deve ser marcada com esta condenação de indignidade nacional”.
Um novo ministro na Comunicação
Um novo ministro da Comunicação, André Figueiredo, do PDT, se diz admirador de Leonel Brizola, porém… não pensa como Brizola que, se vivo fosse estaria puxando-lhe a orelha. Figueiredo diz concordar com que a mídia deve ser regulamentada, porém, esclarece que deve ser auto-regulamentada. Propõe a formação de uma Agência Reguladora, sem participação do governo entendendo que a mídia pode muito bem se auto-regulamentar. Pode? É o mesmo que botar a raposa pra tomar conta do galinheiro.
A sociedade sim pode e o fez na Conferência Nacional de Comunicação que culminou com a apresentação de um projeto democratização dos meios que o governo não se atreveu executar. Franklin Martins, enquanto ministro da Comunicação, chegou a instituir o necessário Sistema de Comunicação para servir ao Estado e à Sociedade. O sistema está lá, em Brasília, um desperdício de recursos materiais e humanos. Não cumpre com a finalidade, deixou de ser projeto. Se quiser entrar para a história como um verdadeiro seguidor de Brizola, pode começar por dotar o país de uma TV pública que seja mais atraente que as privadas. Competir com qualidade, como faz a BBC de Londres, por exemplo.
A Globo se gaba de ter destruído o Brizola. De fato,a família Marinho tentou de tudo, inclusive da fraude na apuração das eleições. O engenheiro Brizola, de uma integridade fora do comum, nunca quis destruir a Globo. O que ele reivindicava era simplesmente o cumprimento da Constituição. A Carta de 88 é clara com relação a proibição do monopólio na mídia. E a Globo é puro monopólio, e dos grandes.
Brizola tinha um projeto estratégico para o desenvolvimento do país que foi debatido em todos os níveis do partido em toda geografia nacional. E Brizola foi demonizado pela mídia e pelos partidos políticos precisamente por isso: por pretender retomar o projeto nacional de desenvolvimento social e econômico iniciado por Vargas, continuado por João Goulart.
Para ser fiel a Brizola, Figueiredo deve perder o medo dos meios, buscar apoio da sociedade organizada e fazer com que se cumpra a Constituição.
The Globe
A Globo nasceu por iniciativa do casal Luce (Henry Robinson Luce e Clare Boothe Luce) do grupo Time-Life, que se divertia financiando operações encobertas da Cia por esse mundo afora. Marinho recebeu dinheiro a fundo perdido e se apropriou da infra estrutura dos canais 2 do Rio e do 9 de São Paulo, expropriados da família Simonsen pela ditadura que usurpou o poder da República em 1o de Abril de 1964. Nas Constituições anteriores a de 1988, para ser dono de meios de comunicação era preciso ser brasileiro nato. A Globo nasceu contrariando esse preceito, pois o verdadeiro dono era Luce.
A Globo cresceu tornando quase que hegemônica à sombra da ditadura militar. E hoje é a principal porta-voz da ditadura do capital financeiro. Em 2014 o grupo fechou com faturamento de R$ 16 bilhões, 9,7% mais que em 2013. Em 2006 desapareceu um processo em que os Marinho deveriam ser indiciados por sonegação de nada menos que R$ 615 milhões em valores da época.
E os atuais proprietários, herdeiros de Irineu e Roberto Marinho: José Roberto, João Roberto e Roberto Irineu figuram entre os 100 bilionários mais ricos do planeta na lista da revista Forbes com uma fortuna em torno de 8.2 bilhões de dólares cada um. Pode? Comunicação não deveria ser serviço público? Com toda essa fortuna a Globo figura também como uma das maiores sonegadores do país.
Zelotes
Segundo o jornalista Helio Gaspari, a Operação Zelotes, levada pela Polícia Federal, está diante do maior dos escândalos de corrupção e roubo que todos os outros que estão alimentando o noticiário diariamente. Muito maior que a Operação Lava Jato. O que está por trás dela são os grandes sonegadores que desviam -deixam de pagar de maneira fraudulenta- ou seja, roubam bilhões do Tesouro Nacional.
Nessa relação da Polícia Federal estão só pesos pesados do mundo empresarial, nenhum carreirista ou corrupto político, nenhum partido político. Por serem os grandes, entre eles a própria mídia, a mídia esconde. Não só esconde como inventa. Inventaram que a empresa do filho do Lula está sendo investigada pela Operação Zelotes. De onde sacaram isso? Realmente uma grande sacanagem. Diversionismo puro, diriam os agentes de Inteligência. Fala que é o Lula, todo mundo acredita? e ninguém pergunta quem são os verdadeiros culpados.
Os meios não divulgaram a lista embora se saiba quem são esses peixes gordos. São 21 que estão sendo investigados entre os quais a Globo, a Gerdau, bancos como o Bradesco e o Safra. Mas os meios preferem inventar uma mentira com o objetivo de liquidar com Lula e o PT, tal como fizeram com Brizola e o PDT, a mesma receita utilizada ao longo da nossa história, receita que tem a inspiração, orientação e o dinheiro dos Estados Unidos.
Bilhões la fora – as perdas internacionais
Joaquim Levy, o novo ministro da Fazenda: para a mídia, esse é o cara. Mas, afinal, quem é esse cara? O que os jornalões informaram é que ele foi indicado pelo Bradesco onde gerenciava um setor financeiro. Antes ele havia sido secretário da Política Econômica do ministério da Fazenda de Fernando Henrique. Ele na realidade é o próprio chicago’s boy. Além de doutorado pela ortodoxa escola de Chicago, dirigiu um setor do Fundo monetário Internacional, o FMI que vive de sufocar os países, como está fazendo com a Grécia e a Itália, por exemplo. Também foi da direção do Banco Interamericano de Desenvolvimento, o BID, órgão financeiro da OEA, uma espécie de prolongação do ministério de Relações Exteriores dos Estados Unidos.
O que não disseram é que Levy é muito ligado a Paulo Sotero, que vive em Washington, foi correspondente da Gazeta Mercantil e do Estadão, é professor na Escola de Assuntos Internacional da Universidade George Washington, diretor do Instituto Brasil do Centro Internacional Woodrow Wilson e reconhecido como da folha de pagamento da Cia. Levy, seu amigo íntimo, também morou lá e sua esposa e filhas ainda residem em Washington e é por isso que ele voa pra lá todo feriado. O Huffington Post, portal virtual especializado em economia, considera Levy como chave para uma relação mais produtiva com o Brasil.
O novo ministro da Fazenda estima que poderá atrair em torno de 150 bilhões de reais em dinheiro de brasileiros mantidos no exterior. Um projeto de Lei foi apresentado para facilitar a repatriação desse dinheiro mas a oposição vetou. Oposição a que? a quem?, cara pálida? É coisa de maluco.
Alias, o mercado financeiro, ou melhor, o grande cassino global é realmente coisa de maluco. Ou não é coisa de malucos um cartão de crédito cobrar mais de 400 por cento de juros por ano, para quem não paga a fatura no dia ou saca dinheiro pelo cartão ou paga só uma parte e rola o resto. No cheque especial os juros vão de 60 a 200 por cento. Só um maluco para aceitar isso.
Coisas que meu avô sabia
Meu avô dizia que não se faz um ilícito no mundo sem a participação de um banco. E no tempo dele não havia personagens como Pablo Escobar que movimentava trilhões do tráfico de drogas e de armas. Mas já havia todo tipo de artimanha para ganhar dinheiro fácil e esconder.
O HSBC uma sociedade inglesa com origem no século XIX tornou-se uma das principais instituições financeiras do mundo, a maior da Grã Bretanha. Os chefões da sede tiveram que pedir desculpas para práticas inaceitáveis do banco na Suíça, como se isso não fosse a própria origem e história da mega instituição bancaria e financeira.
Vazou que 106 mil clientes de 203 países mantinham contas com origem do dinheiro não confessada na sede suíça. Isso foi em 2007 quando um funcionário da área de tecnologia, Hervé Falconi, escapou para a França com os arquivos de dados. Com isso o governo britânico identificou mais de mil sonegadores e recuperou 135 milhões de libras.
Nessa época a lista inclui 5.500 contas secretas de brasileiros totalizando 7 bilhões de dólares. A lista cresceu e já são 8.667 brasileiros com 20 bilhões de euros depositados, algo entre 60 e 80 bilhões de reais. Entre os donos das contas estão os donos dos grandes meios de comunicação. Todos.
Em junho de 2009 o escândalo em torno das revelações de que o Credit Suisse tinha um esquema para captar recursos de grandes fortunas e de doleiros. Evasão de divisas e burla fiscal denunciada pela Polícia Federal através da Operação Kaspar 2. Os jornais não falaram de valores e nunca mais se falou no assunto. Só mesmo num país de doidos irresponsáveis.
Fecha escola, abre cadeia
Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro sonhavam com não ter nenhuma criança fora da escola. Escola de qualidade, em tempo integral onde a criança se alimenta, tem assistência médica e uma educação esmerada, sem descuidar da parte esportiva. Em cada superquadra tinha uma Escola Parque em Brasília, invenção de Anísio e Darcy que também criaram a Universidade de Brasília para ser referencia da universidade necessária para o Brasil. Com essa mesma ideia, com Brizola no governo Darcy encheu o Rio de Janeiro de Ciepes.
Tanto as Escolas Parque como os Ciepes foram extintos pelos governos do neoliberalismo. O que é necessário para manter o sistema de exploração e exclusão social é a má escola. Nas palavras de Darcy, a má escola é projeto. O sistema de exploração não resiste a uma escola que forma, informa e capacita, e mais que isso, que abra a mente para o olhar crítico e criativo da realidade.
Títulos dos principais jornais: Alkimin fecha 94 escolas e transfere 311 mil alunos; Capital terá 24 escolas fechadas, uma de cada quatro.
A pergunta que ninguém faz: Quantas cadeias já foram construídos e quantas mais serão necessárias? A resposta estava na mesma página: a cada cinco minutos uma pessoa é presa em São Paulo. O sistema judicial conta com 163 unidades prisionais. No ritmo em que as prisões são feitas seria necessário a construção de 12 centro de detenção por mês para atender a demanda.
Parece incrível, mas o Brasil ainda tem em torno de 14 milhões de analfabetos e o IPEA diz que serão necessários 22 anos para zerar isso. Como? Está louco? E como se não bastasse não mencionou o analfabetismo funcional, esse sim, um absurdo.
Pesquisa recente mostra que 75 por cento da população não sabe matemática básica. Pesquisa anterior já havia constatado que 75 por cento da população não é capaz de interpretar um texto. Em outras palavras, pesquisas confirmam que 75 por cento da população é analfabeta funcional.
Tal qual ocorre com os meios de comunicação está a ocorrer com a educação. A informação virou commodities e a educação também. Boas escolas só pra que tem muita grana ou condição para estudar noutro país. Em outras palavras, tudo é mercadoria, tudo é negocio para dar lucro. Manter a população na ignorância, sem juízo crítico, é condição para manter esse modelo.
Lava Jato ou Quebra Tudo?
Prender empresário por ato de corrupção, investigar falcatruas nas estatais, denunciar malfeitos nas hostes administrativas, tudo isso parece muito acertado. Sim, e pode até ser acertado, se não concertado. O que não é correto nem admissível, coisa de malucos, é punir uma população inteira a pretexto de acabar com um malfeito.
Isso fica bem claro com o que está a ocorrer no Rio Grande do Sul. O Estaleiro Rio Grande, na cidade do mesmo nome às margens da Lagoa dos Patos, uma área equivalente a 56 campos de futebol, com galpões e equipamentos de alta tecnologia com que se construía plataformas para perfuração de poços de petróleo em águas profundas e grandes petroleiros. Todo esse complexo que custou muitos anos de trabalho e muito dinheiro está abandonado em risco de transformar-se em sucata. E, mais grave que isso, esse cenário empregava 24 mil trabalhadores hoje a maioria desempregados. Mais que isso, o Polo Naval transformou a pequena Rio Grande num próspero e rico município, com hotéis, bancos, escolas, assistência à saúde, e com índice de crescimento incomum. Hoje é quase uma cidade fantasma. Duas páginas de reportagem no Estadão mostram essa dramática situação, sem, contudo, nenhum questionamento. A mídia que vem sendo cúmplice da desmontagem do parque industrial brasileiro não consegue esconder as consequências de seu próprio desmando.
A utilização de material fabricado no Brasil para as atividades da Petrobras foi uma decisão de Estado a favor da nação brasileira. O sucateamento dos estaleiros e da capacidade técnica só favorecerá os estaleiros de Cingapura, China ou da Europa. De exportadores de tecnologia e serviço voltaremos a ser mero exportadores de matarias primas e importadores de todo o resto. O país está em liquidação, admitiu Abílio Dinis, louco para proteger seus recursos. País nenhum aguenta tal modelo.
Temos que voltar a pensar como no tempo da substituição das importações. O que está em jogo é a sobrevivência do Estado e da Nação. É hora de o Estado intervir nas empresas para garantir a continuidade de seu funcionamento ou entregá-las à administração dos trabalhadores. Crime inafiançável é o desemprego endêmico e o surto de miséria decorrente da destruição do parque industrial. Só um louco de remate para admitir isso.
*Jornalista editor de Diálogos do Sul