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Brasil é coerente ao receber Lavrov e não pode ceder para agradar aos EUA, diz pesquisador

"Coerente, neutro e soberano" | Ainda segundo Pérsio de Paula, da Escola de Guerra Naval, é "descabido acusar o Brasil de se alinhar com China e Rússia"
Ana Livia Esteves
Sputnik Brasil
Moscou

Tradução:

Mídia brasileira cita diplomatas dos EUA para criticar recepção a Lavrov em Brasília. Para especialista em Relações Internacionais ouvido pela Sputnik Brasil, Brasil não pode ceder sua soberania para agradar potências estrangeiras e faz bem em receber o chanceler russo no Palácio do Planalto.

* * *

Nesta segunda-feira (17), os ministros das Relações Exteriores de Brasil e Rússia se reuniram no Palácio do Itamaraty para debater questões bilaterais e temas prementes da política internacional.

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O encontro foi realizado no âmbito da visita de Lavrov à América Latina, que teve o Brasil como primeiro destino oficial.

“O que nos une é a vontade de formar um mundo mais justo, multipolar, […] que reflita o interesse de todos os Estados, e não o de um grupo determinado de países”, afirmou o diplomata russo durante a conferência de imprensa realizada após o encontro, no Palácio do Itamaraty.

Os chanceleres confirmaram que a crise ucraniana esteve na pauta da reunião. Os diplomatas debateram não só o contexto que levou ao conflito, mas também a proposta brasileira para iniciar negociações diplomáticas.


O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, durante conferência de imprensa ao lado de seu homólogo brasileiro, Mauro Vieira, no Palácio do Itamaraty, Brasília, 17 de abril de 2023 (Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil)

“Hoje nós conversamos sobre o contexto que é necessário levar em consideração para resolver esse problema, não de uma maneira apressada, mas baseando-se em negociações de longo prazo […] que vão considerar os interesses de segurança de todos os Estados sem exceção”, disse Lavrov.

O diplomata declarou que a Rússia tem interesse de encerrar o conflito o quanto antes e reafirmou a necessidade de impedir que o território da Ucrânia seja utilizado para ameaçar a segurança nacional russa.

“Estamos interessados em acabar com o conflito ucraniano o mais rápido possível. Já explicamos detalhadamente em várias ocasiões as razões do que está acontecendo, os objetivos que perseguimos a esse respeito”, declarou Lavrov.

De acordo com o russo, “nossos colegas ocidentais realizam uma luta severa para manter sua postura dominante em assuntos internacionais […] e isso deu o impulso para a situação atual das relações entre Rússia e OTAN, União Europeia, e inclusive no que se refere ao processo na Ucrânia”.

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"Coerente, neutro e soberano" | Ainda segundo Pérsio de Paula, da Escola de Guerra Naval, é "descabido acusar o Brasil de se alinhar com China e Rússia"

Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
De Paula: "Ceder a nossa autonomia na confecção da política externa por pressões internacionais iria na contra mão dos nossos interesses"

Lavrov agradeceu ao Brasil por entender “a gênese dessa situação” e pelos esforços para dar a sua contribuição para a solução do conflito. Já o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, reiterou a postura de seu país em relação ao conflito e pediu um cessar-fogo.

“Reforcei a disposição brasileira para contribuir para a solução pacífica para o conflito”, disse o chanceler Vieira. “Reiterei nossa posição em favor de um cessar-fogo negociado, com respeito aos direitos humanitários e uma solução negociada com vistas à paz duradoura.”

O Itamaraty ainda recebeu do diplomata russo a garantia de apoio da candidatura do Brasil a um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU.

Os Ministros das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, e da Russia, Sergei Lavrov, durante conferência de imprensa no Palácio do Itamaraty, Brasília, 17 de abril de 2023 (Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil)

“Reafirmamos hoje nosso apoio à candidatura do Brasil a um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, assim como apoiamos a Índia e a necessidade de atender aos interesses do continente africano”, disse Lavrov.

A expressão diplomática de Lavrov é uma referência ao fato de que a África ainda não chegou a um consenso sobre qual será o seu candidato à um assento no conselho mais importante da ONU.


EUA dão o recado

A cobertura da grande mídia brasileira sobre a visita de Lavrov foi tomada por declarações fornecidas anonimamente por diplomatas dos EUA, descontentes com a disposição brasileira em receber o chefe da diplomacia russa.

Para o especialista em Rússia do Núcleo Avançado de Avaliação de Conjuntura (NAC) da Escola de Guerra Naval, Pérsio Glória de Paula, o Brasil acerta ao receber Lavrov.

“Teria sido estranho se não tivéssemos recebido o [chanceler russo Sergei] Lavrov. O Brasil é um país soberano e a abordagem do governo Lula para a política externa nos primeiros meses tem ressaltado isso”, disse Glória de Paula à Sputnik Brasil.

Segundo ele, é “descabido acusar o Brasil de se alinhar com China e Rússia”, já que o posicionamento brasileiro em relação ao conflito ucraniano é “coerente, neutro e soberano”.

“Ceder a nossa autonomia na confecção da política externa por pressões internacionais iria na contra mão dos nossos interesses”, afirmou Glória de Paula.

(U.S. Army Korea/Flickr)

O especialista acredita que os esforços do governo brasileiro para negociar a paz através de um clube de países “com notória presença do Sul Global […] aparentemente desagradou aos EUA”.

“Críticos dizem reiteradamente que o Brasil vai gerar descontentamento no Ocidente. Mas aqui cabe ressaltar que o bloco ocidental também é parte ativa no conflito”, declarou Glória de Paula. “Não cabe fazer uma política externa para agradar aos EUA, o Reino Unido, ou quem quer que seja.”

Cair na retórica da Guerra Fria 2.0, numa suposta luta de ‘democracias’ contra ‘autocracias’, de caráter puramente ideológico, não atende aos interesses nacionais e pode prejudicar a autonomia e soberania brasileira na arena internacional”, disse o especialista.

Glória de Paula ainda lembrou a recente visita do assessor internacional de Lula, Celso Amorim, a Moscou, “o que indica a relevância que a Rússia tem para o Brasil e para setores da economia brasileira”.

 O embaixador e ex-ministro das Relações Exteriores Celso Amorim (Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil)

A Rússia também dá sinais de priorizar suas relações com o Brasil, já que Celso Amorim foi recebido não só pelo chanceler russo, Sergei Lavrov, mas também pelo presidente do país, Vladimir Putin.

Durante a conferência de imprensa realizada pelos chanceleres, o brasileiro Mauro Vieira anunciou convite do presidente Putin para que Lula realize uma visita à Moscou.

“Lavrov comunicou o convite do presidente Putin ao presidente Lula da Silva para organizar uma visita oficial à Rússia”, anunciou Vieira. “Vamos trabalhar para definir uma data conveniente para ambas as partes.”

Terminada a reunião com Mauro Vieira no Itamaraty nesta segunda-feira (17), Lavrov deve seguir para almoço de trabalho com diplomatas brasileiros e russos. Em seguida, Lavrov deve seguir ao Palácio do Planalto para se reunir com o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva.

Ana Livia Esteves | Sputnik Brasil


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Ana Livia Esteves

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