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ToggleEsses dias, com tempo para ler os vários jornais, ver TV… dá asco constatar como a mídia perdeu completamente a vergonha e se colocou a serviço do projeto de ocupação estrangeira. A ética já vinha sendo desrespeitada faz tempo, mas ultrapassa as razões da política quando o que está em jogo é abrir ou fechar o caminho para o nazi-fascismo.
Sou de um tempo em que a maioria dos meios de comunicação pertenciam a famílias oligarcas, conservadoras, mas não reacionárias. Faziam um jornalismo plural, cometendo alguns pecados, claro, mas pecados veniais, suportáveis e até cômicos. Volto sobre o tema mais adiante.
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O velho doutor Julinho, por exemplo, ordenou que não se escrevesse o nome de Adhemar de Barros no Estadão. Bronca da família por ter Adhemar, como interventor no Estado, cumprido ordem de Getúlio Vargas e intervindo no jornal. Um dia conto essa história com detalhes. Mas nunca o Estadão de então deixou de noticiar o que tinha que ser informado. Dizia: o governador do Estado, ou, em raras ocasiões, se referia ao senhor A de Barros, etc, etc.
Os tempos mudaram, ainda é a família Mesquita quem manda, mas o jornal perdeu o sentido da ética e da política. Me explico:
Ontem assisti à entrevista de Lula à TVT.
Confira a entrevista
Todos se dirigiam a ele com o respeito devido a quem ocupou o mais alto cargo da República. Encerrado seu mandato, sua história não se apaga e se mantêm o respeito que lhe é devido. Enfim, continua gozando de privilégios inerentes ao cargo que exerceu.
Que falta nos faz o Brizola
Tenho ouvido sempre que posso as intervenções de Lula, sempre na esperança de vê-lo assumindo o papel que lhe toca como líder do maior partido de militantes. Nessa última, disse coisas razoáveis, como “dinheiro, nessa hora, não se economiza. Trump soltou dois trilhões…”
![Dá asco constatar como, mesmo enxovalhada e tripudiada por Bolsonaro, a "grande" imprensa brasileira se mantêm serviçal e esconde propostas de Lula](https://dialogosdosul.operamundi.uol.com.br/wp-content/uploads/2023/10/1048cf14-17f2-4075-8ae6-b0f6fadfc8da.png)
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Além disso, me chamou a atenção, particularmente, duas coisas.
A primeira, ele dizer “que falta faz o Brizola, com ele a gente podia dialogar”.
A segunda, negar-se a conversar com Fernando Henrique Cardoso, um ex-presidente, esse sim, que não merece respeito e sim a condenação da história. Uma excrescência a serviço dos Estados Unidos e do capital financeiro e que enganou a Nação.
Com relação a Brizola… pena que tão tardiamente Lula o reconhece como líder, um estadista a toda prova.
PIG, a economia e a cobertura da pandemia
Num dado momento, Lula disse que nas discussões sobre os problemas do país, principalmente na área econômica, tanto a mídia como a atual administração pública são vozes uníssonas em torno de uma teoria fracassada e que não abrem espaço para jovens talentos da economia que têm muita contribuição a oferecer.
Reafirmou que a Globo não lhe dá espaço nem trégua aos ataques furibundos à sua pessoa. Dá espaço a Fernando Collor e a Fernando Henrique, dois bandidos, um ligado ao tráfico de drogas, outro ao diabo, mas ao Lula nunca… e isso, é a pura verdade.Ilustração: Vitor Teixeira
Neste contexto, registre-se que o “Estadão” desta quinta-feira (2) tampouco publicou sequer uma linha sobre a entrevista de Lula. Preferiu manter manchetes ditadas pelo “porta voz” do governo de ocupação, ou se preferirem, do palhaço da corte, que diverte enquanto os outros roubam você e o seu país.
Lula elogiou a cobertura que estão dando à pandemia provocada pelo vírus do Trump, o coronavírus. Concordo em parte porque tudo que é em exagero faz mal. O certo seria se limitar a dar as informações sobre a evolução dos contágios, as medidas tomadas e insistir nas medidas preventivas. Pra isso, não precisa dedicar um jornal inteiro, de mais de 20 páginas, martelando sobre o mesmo. Cansa e gera pânico.
Tudo que é em exagero faz mal. Ilustração: tt Catalão
Zé Dirceu e os militares
Ouvi também a entrevista que o Zé Dirceu deu para Fernando Moraes, na TV Nocaute. Fez uma apreciação correta dos militares. Nós não podemos prescindir deles e tampouco vale pensar que poderão se desprender da ideologia da Segurança Nacional, nome que disfarça extrema submissão deles aos Estados Unidos.
Assista à entrevista:
Dirceu disse com acerto que militar não deve se meter em política e que os comandantes das três armas que emitiram a ordem do dia elogiando o golpe de 1964 deveriam ser presos. Concordo… mas, quem é que vai prender?
Lembro que Dilma Rousseff, quando presidenta, puniu o general Mourão por estar pregando o golpe militar, estando no comando do Exército no Rio Grande do Sul. Ele deu o troco participando da operação de inteligência que derrubou o governo dela e, na sequência, apoiou a fraude eleitoral que, inclusive, o elegeu e que levou um bando de generais despeitados a assumir o poder legitimados pelo voto. É o que dizem. E por conta disso se sente autorizado a tripudiar sobre toda a nação.
Nessa hora de emergência, eles deveriam estar sob o comando de civis para cumprir com tarefas de logística (especialidade deles) para combater a pandemia, evitar que se alastre aos rincões mais vulneráveis do país, é também o que nós defendemos.
Paulo Cannabrava Filho é jornalista e editor da Diálogos do Sul.
Imagem da capa: Vitor Teixeira
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