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Brasil: Nem a plutocracia aguenta mais

Paulo Cannabrava Filho

Tradução:

Reflexões sobre a proposta da Frente Parlamentar Mista de Defesa da Soberania Nacional do Brasil.

Paulo Cannabrava Filho*

paulo canabravaO vetusto “Estadão” (O Estado de São Paulo) diário da oligarquia transformado em porta-voz do pensamento único, em editoriais de sábado e de domingo, lasca o pau nos erros cometidos pelo supremo procurador geral Rodrigo Janot. “Açodamento” no acordo com Batista, “ação descuidada atrapalhou a vida de todos os brasileiros intimidando todo e qualquer movimento de recuperação da economia”.

Os editoriais revelam também uma certa covardia dos Mesquita, pois resolveram atacar o procurador já nos estertores de sua carreira, com data marcada para sair e a substituta tendo já sua equipe formada. Por que não denunciou antes? Será que só agora perceberam isso?

Ilustração tt Catalão
Ilustração tt Catalão

Surpreendentemente,  pois até agora sempre dedicou pelo menos dez páginas por dia aos processos do que já chamam de República de Curitiba mas que está mais para uma república de fofocas. E diz agora que as últimas revelações (ou fofocas?) significam “derrota avassaladora para Janot”.

Um bom sinal. Nem a plutocracia manipulada aguenta mais tanta burrice, tanta violação do Estado de Direito Democrático, e resolveu reclamar, denunciar. Parece que se deram conta que sem um mínimo de respeito às leis se torna inviável até mesmo o Estado oligárquico entreguista. O caos só serve para as forças invasoras do império, para ninguém mais. Faz tempo que estamos denunciando que a estratégia do império é a implantação do caos.

Nos casos extremos em que não conseguem desestabilizar a ponto de gerar o caos invadem como fizeram no Iraque e na Líbia.

Lembra-me a história do Berthold Brecht, que reinvento: enquanto levavam os judeus, enquanto levavam os negros, enquanto levavam os comunistas eu não dizia nada, mas quando levaram meu vizinho senti que estavam perto, porém… já era tarde demais.

Oxalá não seja tarde. Será que ainda sobram esperanças para o Brasil?

Crime maior que a corrupção é traição à pátria

Moniz Bandeira, em entrevista ao Jornal do Brasil (13/12/16) (1) demonstra exaustivamente o que já se tinha denunciado nesta mídia e outras alternativas, que tanto Sérgio Moro como Rodrigo Janot, mantêm vínculos com instituições estadunidenses. Mostra que Moro foi treinado lá e que Janot recebeu de lá as informações para iniciar sua operação de desmontagem.

Em outras palavras, desde que começou o imbróglio da Petrobrás denunciamos que se tratava de um complô urdido nos Estados Unidos, para acabar com a Petrobrás, tirar do mercado a concorrência das empresas de engenharia, entre outros fins. Crime maior que corrupção é o de traição à pátria.

As mais recentes revelações envolvem a advogada Rosângela Moro (esposa de Sérgio Moro) com o doleiro  espanhol Tacla Duran e que a digníssima esposa recebe somas milionárias para proferir conferências sobre causas que ainda estão sendo julgadas no Brasil.

Marcelo Muller, destacado membro da procuradoria de Janot, deixou o cargo para ajudar a JBS nos acordos de Delação Premiada. O acordo de leniência da JBS é  em torno de 10,3 bilhões de reais para ser pago em 25 anos.

Resumo da ópera: No Brasil, juízes acham normal reunir-se com entidades do governo dos Estados Unidos, receber e dar informações. No Brasil, juízes acham normal participar direta ou indiretamente de escritórios de advocacia ligados a grandes corporações.

É muito dinheiro rolando pra todo lado. A corrupção, dizem nas redes, viralizou no Brasil. E não escapa ninguém. Corruptos e os traidores da pátria movidos pelos serviços de inteligência estadunidenses.

O poder corrompe e também descerebra

Ilustração tt Catalão
Ilustração tt Catalão

No século XIX o historiador inglês Lorde Acton, vaticinou que poder absoluto corrompe absolutamente. No século XX o professor de filosofia matemática, José de Jesús (Chuchu) Martinez, referindo-se ao Xá Reza Pahlevi, a quem serviu de intérprete (Chuchu falava uns dez idiomas), constatou que “de fato o poder absoluto corrompe absolutamente, para definir suas impressões sobre o Xá.

No século XXI descobriu-se que o poder não só corrompe o espírito como também o próprio cérebro. Estudos paralelos, na Universidade da Califórnia (EUA) e na McMaster, em Ontário, Canadá, ao analisarem tomografias constataram que a sensação de poder bloqueia um processo neural específico, impedindo a manifestação de empatia, ou seja, prejudica o relacionamento (2).

Estamos bem com o poder descerebrado e o povo em surto psicótico.

Há evidências de que o comando está lá fora, em Washington e em Langley servindo aos interesses de Wall Street, de George Soros e seus agentes infiltrados até a medula no sistema econômico-financeiro brasileiro. É de máxima urgência recuperar o controle sobre os centros de decisão de política econômica e financeira.

Como romper o desânimo?

Se difunde o desânimo quando se pergunta, como mudar se o Judiciário dá suporte jurídico a todas as maldades que estão sendo cometidas?

É o Judiciário mais caro do mundo. Tudo indica que o que deveria ser o teto salarial constitucional (ninguém nos poderes da República pode ganhar mais que 45 mil reais) virou piso, e há juízes que ganham até mais de dez vezes o teto constitucional. Isso mesmo, juízes ganhando mais de 450 mil reais por mês. Em síntese, a carreira judicial é trampolim para ascensão social.

O que esperar de um Judiciário que além de ser o mais caro do mundo é também o mais ineficiente. É o que se depreende do Balanço do Judiciário divulgado pelo Conselho Nacional de Justiça: o número de ações à espera de julgamento chegou a 79,7 milhões. Quase 80 milhões de ações esperando julgamento. Que é isso cara pálida? Que judiciário é esse que comete crimes para apurar supostos crimes?

Como vamos voltar à normalidade (com segurança Jurídica) com um Judiciário como esse? É o que perguntam alguns dos perplexos mortais que querem ver as coisas mudarem.

Como voltar à normalidade democrática com um Congresso como o que temos?

Tal como o Judiciário, o Legislativo brasileiro é o mais caro do mundo. É também o mais inútil. O atual chefe do executivo governa através de medidas provisórias. De iniciativa própria só aprovam emendas ao orçamento em benefício próprio.

Os irmãos Batistas (da JBS) revelaram que gastaram 600 milhões de reais com 1829 candidatos de 28 partidos.  Não é à toa que entravam pela porta dos fundos no Palácio Jaburu, sede do presidente em exercício. Senadores e deputados dão um jeitinho para ganhar bem mais que o teto constitucional. Sem contar que dispõem de um gabinete com todas as mordomias possíveis e há um caso de um recordista que possui 79 funcionários.

Esse congresso praticou crime contra a soberania

Ilustração tt Catalão
Ilustração tt Catalão

Esse Congresso aprovou o Acordo de Cooperação Militar Brasil-Estados Unidos. Aprovou na calada da noite, sem nenhum debate e sem que a mídia denunciasse, para que no dia seguinte a senhora Dilma Rousseff fosse se encontrar com o presidente Barack Obama para levar em bandeja a entrega da soberania nacional.

Crime de lesa pátria, crime contra a soberania nacional praticado pela senhora Dilma em cumplicidade com esse pior legislativo de nossa história.

Vale lembrar que Fernando Henrique Cardoso quando presidente tentou aprovar este acordo militar com Estados Unidos (sempre o FHC) mas, esbarrou com bravos parlamentares nacionalistas que conduziram o congresso a vetar o acordo, precisamente com o argumento de que violava a soberania nacional. Escrevi na época “Para que servem os acordos Dilma-Obama”.

Parece que ninguém está mesmo preocupado com a soberania nacional. Os partidos políticos parece que só se interessam com as próximas eleições, não importando que é preciso assegurar o Estado de Direito e a Soberania Nacional.

Frente Parlamentar Mista de Defesa da Soberania Nacional

Essa Frente de Defesa da Soberania tem que agir rápido, senão…. poderá ser tarde demais. Como se trata de soberania, há algumas questões que precisam entrar na ordem de prioridade máxima.

A Frente tem que denunciar o Acordo de Cooperação Militar com os EUA, fazer um grande barulho, mobilizar as instituições, as universidades, os sindicatos, as organizações de profissionais, inclusive e principalmente o Estado Maior das Forças Armadas. Denunciar o Acordo e evitar que se realizem as manobras conjuntas na Amazônia.

Se ainda há brios entre os militares, os oficiais estarão contentes com que não se cumpra esse acordo que permite trânsito livre dos oficiais estadunidenses nos quartéis, que abre o espaço aéreo, que entrega a Base de Alcântara, para citar só as mais graves violações à soberania nele contidas. A Frente de Defesa da Soberania Nacional do Brasil tem que tornar públicos os termos do acordo para que as pessoas possam entender o que há por trás dessa entrega.

O senador paranaense, Roberto Requião, autor da acertada iniciativa de criar a Frente reconhece que só a mobilização dos brasileiros poderá anular os atos e está recolhendo assinaturas na Carta de Advertência aos que estão fazendo compras na liquidação dos bens públicos promovida pelo poder Executivo.

Enquanto isso, só de 2015 para cá a China já investiu 60 bilhões em setores estratégicos como energia, mineração, transporte, infraestrutura portuária. Onde eles vão parar? Gente, a China tem rios de dinheiro e está fazendo isso no mundo inteiro.

E Michel Temer, sem poder esconder sua cara de vitorioso, anuncia que vai fazer todas as reformas necessárias. É o novo rei a quem todos reverenciam: o Congresso, o Judiciário, quem mais?

Nós reclamamos, denunciamos, protestamos nas ruas e a única resposta é repressão, dizem as bases dos movimentos populares. E se não bastasse isso, está difícil romper os preconceitos contra os outros, o egoísmo e a prepotência dada pela Lei de Gerson (levar vantagem), superação sem a qual não se fará a frente com a amplitude necessária.

Os setores mais lúcidos já perceberam que só com uma ruptura institucional se poderá deter essa sangria.

É isso senador Requião. Está nas mãos dessa frente de Defesa da Soberania conduzir esse processo de ruptura. Se não, quem?

*Jornalista editor de Diálogos do Sul

(1) http://www.jb.com.br/pais/noticias/2016/12/03/moniz-bandeira-moro-e-janot-atuam-com-os-estados-unidos-contra-o-brasil/

(2) Revista Época Negócios – agosto 2017 – No 126 pag. 38

(3) Sobre os Acordos Dilma/Obama http://operamundi.uol.com.br/dialogosdosul/pra-que-servem-os-acordos-dilma-obama/03072015/


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Paulo Cannabrava Filho Iniciou a carreira como repórter no jornal O Tempo, em 1957. Quatro anos depois, integrou a primeira equipe de correspondentes da Agência Prensa Latina. Hoje dirige a revista eletrônica Diálogos do Sul, inspirada no projeto Cadernos do Terceiro Mundo.

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