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Brasil: o cerco a Temer está próximo

Revista Diálogos do Sul

Tradução:

No domingo passado, 12 de junho, quando completou um mês de seu governo interino, exercido com ares imperiais, o interino presidente Michel Temer reuniu-se com seus homens de interina confiança.

Eric Nepomuceno*
20150917_cupulapmdbNão se tratava de celebrar o Dia dos Namorados, comemorado nessa data no Brasil, mas sim de avaliar, por enésima vez, si valia ou não a pena fazer um pronunciamento à nação por uma cadeia de rádio e televisão.
No transcurso desse longo e agitado mês, Temer não ousou aparecer publicamente nem uma única e miserável vez. Seus ministros são vaiados por onde quer que andem, tanto no Brasil como no exterior. Os gritos de ‘golpista’ e ‘entreguista’ compõem a trilha sonora de suas andanças por qualquer lugar.
Aquele domingo não se chegou a nenhuma conclusão. Nem na segunda e menos na terça. Na quarta, sim, surgiu a solução: um pronunciamento denunciando todos os erros e equívocos da mandatária temporariamente afastada, Dilma Rousseff, e de seu desastroso governo, do qual, nunca é demais recordar, o próprio Temer desempenhou-se como vice-presidente decorativo e seu voraz partido, o PMDB, foi o principal aliado.
Seria um discurso duro, convocando para uma urgente união nacional, augurando melhores dias, o fim da corrupção desenfreada e com propostas tão genéricas como vazias. Pondo ênfase, claro, em um foco: das impolutas mãos de Temer nasceria um futuro claro, cristalino, quase virginal. Haveria um preço – alto preço – a pagar, mas no fim todos seríamos felizes, ou quase.
A data para o pronunciamento por cadeia nacional de rádio e televisão foi fixada para a última sexta-feira, 17 de junho, por volta das oito da noite.
Bom, não teve jeito. Na véspera do pronunciamento bombástico, soube-se que o ministro de Turismo, Henrique Alves, cuja trajetória de bandoleiro contumaz é igual à de outros luminares do interino governo do interino imperador, foi fisgado. Contas secretas na Suíça, enfim, o mesmo currículo de outros cúmplices que conformam o golpe institucional cujos braços de polvo se entendem por todos os associados, do ex refinado e elegante presidente Fernando Henrique Cardoso ao playboy de províncias Aécio Neves, derrotado por Dilma em 2014, para não mencionar o PMDB de Temer e toda a sua quadrilha.
E tem mais: o próprio Temer aparece denunciado como parte o esquema de corrupção instalado na Petrobras.
Em lugar de luminoso pronunciamento à nação, o que se viu foi o terceiro ministro ser catapultado de sua cadeira. O terceiro em 35 dias, uma média inédita. O ministério de Turismo tem importância apenas relativa, mas Henrique Alves integrava o núcleo duro do golpe institucional.
Ontem, sábado, se soube que outro, o da Educação, Mendonça Filho, rebento de uma dinastia podre da política brasileira, também será denunciado.
Há que reconhecer: não é sempre que se registra, na história do mundo, um governo que reúne tantos acusados de ser corruptos promovendo um golpe institucional em nome da moralidade.
A cada dia que passa fica mais claro que tudo isso não passa de uma farsa barata, patética, disfarçada de ato constitucional.
Temer, o ilegítimo, não ousa aparecer em público, a menos, claro, que se trate de um público especialmente domesticado. Sequer se atreve a uma cadeia nacional de rádio e televisão.
As classes médias, idiotizadas pelos meios oligopólicos de comunicação, estão atônitas: perceberam que foram manipuladas como massa de manobra por parte do que há de pior e mais antigo na apodrecida classe política brasileira.
A esquerda, por sua vez, trata de resistir, e resiste. No entanto, a grande incógnita está centrada no ex-presidente Lula da Silva, que se retrai – exceto por breves aparições públicas, sempre multitudinárias – como quem espera que o cenário se aclare, mesmo que seja um pouquinho, para então decidir como agir.
As denúncias de corrupção se sucedem em monótona avalanche. E mais, muito mais virá quando se conhecerem a confissões dos grandes empresários detidos.
A única coisa que parece funcionar são os avanços da equipe econômica, um bando de neoliberais extremistas dispostos a exterminar o Estado no menor prazo possível. Conquistas sociais alcançadas ao longo dos los últimos treze anos caminham céleres para a guilhotina.
A cada dia que passa fica mais e mais claro que Temer, o ilegítimo, não conseguirá se manter no poder.
O julgamento a Dilma Rousseff continua no Senado, cumprindo os requisitos constitucionais. Mas até esse trâmite defrauda os golpistas: a cada sessão fica claro que não há a menor justificativa para todo esse enredo. Até os que declaram como testemunhas de acusação à mandatária afastada reconhecem que não foram cometidos crimes de responsabilidade, ou seja, que não há justificativas para defenestrá-la.
Enquanto isso, Temer, o ilegítimo, assume ares imperiais, destroça a política externa dos últimos 13 anos, as políticas sociais alcançadas, ameaça com uma febre de privatizações, e assim vai.
Houve, sim, uma boa notícia, por esses dias: Dunga já não é o treinador da seleção nacional.
Há que admitir, em todo caso, que diante do caos instaurado pelo golpe institucional, se trata de um alívio apenas relativo…
 
*Original do La Jornada, do México.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

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