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Severa advertência sobre as manobras desestabilizadoras disfarçadas nas redes sociais.
Stella Calloni*
Em 6 de dezembro de 2010, a especialista em Guerra Cibernética, Rosa Miriam Elizalde se referiu a uma “criação web” do Comando Sul, similar às que o Pentágono administra em outras regiões em que interveem militarmente. Trata-se da divulgação de informação elaborada “desde seu ponto de vista” e necessidades estratégicas, através de Diálogo-Américas, publicado em inglês, espanhol e português.
Na capa dessa publicação, uma enquete convida os leitores da região a definir ‘qual o maior problema de seu país atualmente” e estes devem marcar as seguintes opções: Desemprego / crime / Segurança Pública / Problemas econômicos / Problemas de saúde / Terrorismo / Tráfico de drogas / Problemas políticos / Corrupção.
Elizalde adverte que o “estranho diálogo proposto por este sítio, pressupõem que todos os países do continente têm pelo menos um problema dos que aparecem na lista e que tem servido de pretexto para as intervenções militares do exército estadunidense na região”.
A página se anunciava como uma revista militar profissional publicada trimestralmente pelo comandante do Comando Sul dos Estados Unidos como “foro internacional para os profissionais militares da América Latina”, acrescentando que “o Secretário da Defesa determinou que a publicação desta revista é necessária para executar a atividade pública exigida pela lei do Departamento de Defesa”.
É muito importante levar em conta essas observações, se se condidera que tanto “propaganda como informação” já não é controlada por ministérios e funcionários civis estadunidenses, porque se está militarizando ambos temas de uso comum nas guerras psicológicas monitoradas pelo exército desse país.
Dessa maneira, o Pentágono vai obtendo dados com os quais logo desenha campanhas. Por exemplo, analisam se o tema “corrupção” pode “agitar” no Brasil, ou o de “segurança” (como é promovida na Venezuela e na Argentina) ou temas “econômicos” que chegam disfarçados com informes e acusações falsas de todo tipo.
O que resulta mais útil para “direcionar” os protestos nas população de cada país se instala a partir de informa’[coes preparadas – a maioria falsas – ou partindo de alguma situação real para criar uma corrente de opinião negativa. O Pentágono enviará estes bem preparados diagramas a suas diversas ONGs, 80 por cento das quais trabalham para fundações estadunidenses, e que por sua vez sugerem aos meios de comunicação de massa que estão em suas redes a plantar nas populações uma temática determinada.
Não importa que seja mentira. Na Guerra Psicológica, o golpe da mentira é a primeira ação em nível de massa e logo se posterga a resposta ou o desmentido o tempo suficiente para que não produza efeitos ou diretamente ocultam e assim a maioria nunca saberá a verdade.
Em 2005, o Los Angeles Times, publicou uma analise (30-12) em que informava que o exército tinha ativado em todo o mundo “centros de operações de imprensa que funcionam durante 24 horas por dia”, situando pela primeira vez “a internet e outros médios de informação não tradicionais” sob a competência de especialistas do Pentágono e das agências de Inteligência estadunidenses.
Neste caso, Elizalde cita que no Iraque, o Pentágono subcontratou o Lincoln Group, como redatores de artigos que apresentavam a ocupação estadunidense no Iraque de um ponto de vista favorável aos Estados Unidos. Dessa forma se mascarava a realidade.
A Lincoln Group comprou emissoras de radio e jornais, traduziram os materiais e se fizeram passar por jornalistas independentes ou executivos de publicidade. Enquanto isso ocorria, os funcionários dos EUA, dentro e fora do Iraque, promoviam os “princípios democráticos”, a “transparência política” e a “liberdade de imprensa”.
Ainda que a própria legislação estadunidense formalmente proíba que o exército realize esse tipo de operações, hoje se tornou uma de suas tarefas mais comuns. Precisamente Los Angeles Times argumentou – para justificar a violação dessa proibição- que “a existência da internet faz com que os esforços do Pentágono transcorram sob a suposição de que a imprensa alternativa internacional está exercendo influência negativa nos estadunidenses, e, portanto, forma parte de seu âmbito de competência”.
Claro que de acordo com esse critério essa imprensa “alternativa” afeta “sua” segurança nacional. Mais ainda, porta-vozes militares estadunidenses advertem que com a internet fica difícil “separar os meios estrangeiros dos domésticos. Essas linhas definidas já não existem”, assim confessou um “contratado” privado que se dedicava no Iraque a operações de informação para o Pentágono e que se negou a revelar seu nome ao Los Angeles Times.
“A ciberguerra é hoje uma realidade que ninguém deve desconhecer na nossa região, um tema a ser tratado no Conselho de Defesa que reúne nossos países sob a bandeira da União de Nações Sul-americanas.”
Já no ano 2007, sob o governo de George W. Bush uma das “estratégias favoritas da ciberguerra,” que já estava em prática, “eram ataques piratas contra os sítios de internet que incomodavam a administração” estadunidense. Para isso o Laboratório de Investigação da Força Aérea, dispunha de 40 milhões de dólares, mas o mais importante é que se fabricavam sítios web e “ciberdissidentes”, de acordo com as necessidades militares e de contra-insurgência e para justificar ações bélicas e ingerências diversas.
Em maio de 2008 já se sabia que o Pentágono “criava uma rede mundial de sítios web noticiosos em língua estrangeira, inclusive um sítio em árabe para os iraquianos”, contratando jornalistas locais para escrever histórias de acontecimentos de atualidade e outros conteúdos que promovam os interesses dos EUA e mensagens contra-insurgentes”.
Tudo isso supõe um enorme perigo para América Latina. Podem criar campanhas severas contra os governos, agitar setores opositores em ações diretamente golpistas como: Venezuela (2002-2003), Bolívia (2008), Equador (2010) os três impedidos por seus povos e pela solidariedade latino-americana. Também Honduras (2009) e Paraguai (2012), golpes que não puderam ser evitados especialmente porque em ambos países existem bases e presença militar dos Estados Unidos. Da mesma maneira atuaram os Parlamentos e as Cortes Supremas de Justiça, e essencialmente as campanhas midiáticas, como fatores chaves, incorporados ao novo golpismo para dar uma falsa “institucionalidade” a esses golpes de Estado.
Para as campanhas midiáticas conseguiram formar uma legião de jornalistas que em realidade atuam como “contratados” e escrevem em consonância com as necessidades bélicas, ingerencistas ou golpistas, no marco de um plano de guerra contra-insurgente ou diretamente militar.
Os projetos têm uma mesma característica e elementos culturais, políticos, religiosos, de acordo com as necessidades do Pantágono para informar a um público internacional. A informação é agora uma arma de guerra, capaz de transformar a invasão e ocupação de um país – em que se utilizam exércitos privados (mercenários) sob o comando da OTAN- em “guerras humanitárias” ou “democratizadoras”, termos que amparam a impunidade pese milhares e milhares de vítimas e crimes de lesa humanidade configurando os primeiros genocídios do século XXI.
*Colaboradora de Diálogos do Sul – de Buenos Aires