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Já começou a campanha de 2022: todo mundo lança candidato e ninguém se elege

Enquanto todo tipo de loucura acontece no Brasil, treze áreas do Pré-Sal são entregues, a preço de banana, para empresas estrangeiras, mas ninguém liga
Paulo Cannabrava Filho
Diálogos do Sul
São Paulo (SP)

Tradução:

A TV Globo, descaradamente, lançou o apresentador e milionário Luciano Huck como candidato à presidência da República. Ele já está viajando por terras nunca antes navegadas… ou seja, rincões que as elites desconhecem e desprezam. O que é que ele sabe de política ou de administração pública? Não importa que não saiba nada. O importante é capturar o poder. Dinheiro, sim importa. E tendo a Globo e dinheiro, tem atrás de si um tremendo cacife.

O Podemos, que diz ser o partido da Lava Jato, está de olho na candidatura do ex-juiz e hoje ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro. O Muda Senado, Muda Brasil, movimento criado pelo paranaense Oriovisto Guimarães, estrategista do Podemos, está se articulando por Moro. Se não emplacar, por que não o ex-procurador Rodrigo Janot, que está em alta? Depois do livro em que confessou que quase deu um tiro no supremo ministro Gilmar Mendes, vem acumulando cacife e mídia.

O mais provável é que, como na eleição anterior, o Podemos saia com o próprio João Amoedo, banqueiro que fundou o partido com apoio de todos os banqueiros do país. É o partido dos bancos. Estes não brincam em serviço. Fundaram o partido e anunciaram que executam uma estratégia, de longo prazo, de construir as bases para chegar à captura do poder. Por isso mesmo, no Congresso é um partido governista, seja lá quem for o governo, empresta o apoio de seus dez deputados.

Enquanto todo tipo de loucura acontece no Brasil, treze áreas do Pré-Sal são entregues, a preço de banana, para empresas estrangeiras, mas ninguém liga

Palácio do Planalto
Faixa Presidencial

Toda a loucura em que o país está metido e que vamos detalhar abaixo, só está beneficiando e fazendo crescer uma pessoa. Sim, é isso mesmo, Lula, o preso político mais notável do mundo.  

Sob seu guarda-chuva, Fernando Haddad já se lançou como virtual pré-candidato, sinalizando que pode ter o governador do Maranhão, Flávio Dino, como vice. Gravaram um vídeo se auto-proclamando candidatos da coligação PT-PCdoB sem o referendo desses partidos. 

Ciro Gomes, do PDT, desde 2017 está em campanha com discurso de ser o candidato da oposição.

E o Centro (que centro?) vai saindo da perplexidade pós-eleitoral, mas não se acha. 

“O centro virou uma coisa estigmatizada. Parece que o centro é o sujeito que não quer tomar posição. O país está fragmentado em pautas secundárias”, disse acertadamente o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Aldo Rebelo, ex-PCdoB, ex-ministro do Esporte, da Ciência e Tecnologia e ex-ministro da Defesa nos governos Lula e Dilma. Enfim, não se pode negar tino político a ele. 

Realmente, o país está fragmentado e as pautas são inteligentemente indicadas e manobradas pelo poder. Enquanto o Centro, a Direita e a Esquerda se fragmentam e discutem a cor da cueca do capitão do governo de ocupação, a turma de Paulo Guedes, no comando da economia, pisa no acelerador das reformas anti-povo e de entrega das riquezas do país.

E isso, realmente, facilita, incita à polarização entre o governo de ocupação e o PT, a única força ainda organizada.

O PT, historicamente, assegura 30% dos votos numa eleição. O governo e sua coligação têm condições de assegurar os 30% com que se elegeram em 2018. Outros 30% serão atomizados nos mais de dez partidos que estarão na disputa. Assim estará garantida a primeira etapa da eleição.

O segundo turno será uma nova eleição a ser conduzida pelos interesses do agronegócio, das transnacionais da mineração e do petróleo e pelos bancos, todos unidos numa poderosa frente única dispondo de todo o dinheiro do mundo. 

Insegurança jurídica

A Insegurança Jurídica chegou aos píncaros. Como acreditar na Lava Jato depois de todas as revelações feitas pelo The Intercept? Está mais do que comprovada a armação de um complô judicial-militar para deixar o ex-presidente Lula, do PT, fora do pleito presidencial de 2018. Aquela não foi uma eleição, foi uma operação de Inteligência do comando das forças armadas para a captura do poder.

Há que lembrar que Janot entrou em setembro de 2013 no Ministério Público e ficou quatro anos na Lava Jato. Os documentos que serviram para iniciar os inquéritos foram fornecidos pelo departamento de Justiça dos Estados Unidos. Quantas vezes Janot e Moro viajaram para Washington durante esses quatro anos? 

Sai Janot, entra Raquel Dodge. Nada muda com relação à insegurança jurídica. Não há democracia nem economia que sobreviva sem segurança jurídica. Sai Raquel e entra Augusto Aras, dando rasteira nos três escolhidos pelo Ministério Público. Foi indicado por ser evangélico e fazer juras de amor ao governo de ocupação.

A oposição tenta se rearticular para conter o desmonte. No Congresso, foi lançada a Frente em Defesa da Soberania Nacional, tendo Roberto Requião, ex-senador do MDB do Paraná, como presidente de honra e o petista Patrus Ananias como secretário-geral. A iniciativa, no entanto, não mereceu atenção da mídia.

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(In)Justiça

Eliane Cantanhêde, editorialista do Estadão, diz que a Lava Jato é um Titanic, ou seja, um barco à deriva naufragando. Com isso, cresce o supremo ministro Gilmar Mendes, o único a ter enfrentado e continuar enfrentando Janot, Sérgio Moro e Dallagnol.

Toda essa loucura deve ser ainda adicionada à índole assassina que grassa o país. Um presidente que trata como herói um torturador, manifesta disposição de assassinar os opositores e manda matar “bandidos”. Não é de surpreender que um governador saia de helicóptero metralhando pessoas, um procurador entre armado no Supremo e polícia mate crianças, no paroxismo da desumanidade.

Enquanto tudo isso acontece, a Federação dos Petroleiros denunciou a entrega, a preço de banana, das treze áreas do Pré-Sal que deveriam ser da Petrobras para financiar o desenvolvimento do país. A mídia noticiou aprovando a entrega.

Veja a nova situação: o pré-sal já está nas mãos das grandes corporações transnacionais do petróleo, como a BP britânica, a Total francesa, a Shell holandesa, a Gulf e a Standard Oil dos Estados Unidos. 

Vocês acham que essas empresas vão devolver nosso petróleo? O que eles receberam de graça não vão entregar nunca. Ademais, quem é que tem o poder de fazê-las retroceder? As corporações não vão permitir que as próximas eleições possam significar qualquer risco pra elas no país. 

*Jornalista editor da Diálogos do Sul


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Paulo Cannabrava Filho Iniciou a carreira como repórter no jornal O Tempo, em 1967. Quatro anos depois, integrou a primeira equipe de correspondentes da Agência Prensa Latina. Hoje dirige a revista eletrônica Diálogos do Sul, inspirada no projeto Cadernos do Terceiro Mundo.

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