Ao longo dos recentes meses temos lido e ouvido com muita constância essas perguntas: Quem matou e quem mandou matar Marielle Franco e Anderson Gomes?
Marielle era vereadora na cidade do Rio de Janeiro e tinha o mandato repleto de militâncias e confrontos contra interesses de milicianos.
Atuava em favelas, defendendo pobres e oprimidos. A vereadora atuava em temas de interesse das milícias, incluindo o chamado “escritório do crime”. Defendia as causas mais complexas como os direitos de negros, mulheres e especialmente LGBTs. Foi homossexual assumida e não fugiu dessa sua prerrogativa. Tanto assim que tinha como esposa a arquiteta Mônica Tereza Benício.
Impressionante como a vereadora lutava pela proteção das populações mais vulneráveis, mas também defendia a integridade de jovens militares e seus familiares. No seu entendimento, os soldados também são oprimidos pelo sistema que os impulsiona e treina para matar, “se necessário”. Necessidade muito relativa e repleta de dúvidas.
Na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, a vereadora foi combativa. Apresentou projetos para proteger esses segmentos sociais que são desrespeitados em seus direitos mínimos. Suas lutas nacionais também estavam presentes e ocasionavam reações violentas por parte de seus opositores. Sua postura de vanguarda a colocava como um risco para o sistema vigente. Assim é que foi ameaçada de morte por mais de uma vez. Mesmo com as ameaças, a determinação dessa jovem mulher lhe dava muito vigor e determinação para as lutas nas quais acreditava.
No mês de fevereiro de 2018 o nome de Marielle aparecia como provável Senadora que seria eleita para representar o Estado do Rio de Janeiro. O assassinato de Marielle Franco aconteceu no dia 14 de março de 2018 e foi acompanhado da morte de Anderson Gomes, seu assessor e motorista do veículo no qual era conduzida. Desde seus assassinatos, a comoção popular e os destaques internacionais indagam, afinal QUEM MATOU MARIELLE FRANCO?
PSOL na Câmara
Marielle era vereadora na cidade do Rio de Janeiro e tinha o mandato repleto de militâncias e confrontos contra interesses de milicianos
Quando se chegou a um possível assassino, veio a outra indagação, ainda mais veemente QUEM MANDOU MATAR MARIELLE FRANCO?
Cada vez que se faz essas perguntas redunda na reação agressiva de pessoas e setores reacionários. Em Uberlândia aflora essa reação agressiva, oriunda do medo em relação às indagações feitas. A imagem de Marielle Franco, exposição artística, exposta no muro da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) foi borrada por várias vezes. Neste momento a imagem se encontra adulterada.
Quem estaria atacando criminosamente a obra de arte que retrata Marielle Franco?
Com o risco de haver envolvimento da família do Presidente da República nos assassinatos referidos, amplia-se a possibilidade de haver violência praticada pelos setores que o defendem, acima de toda normalidade. Filho do Presidente Jair Messias Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro reage com agressividade e ameaça com a instalação de um novo AI-5, que instaurou o período mais repressivo da ditadura militar.
As pessoas que batalham contra a opressão certamente não se intimidarão. Daí poderão ocorrer confrontos, caso as autoridades da UFU e do município não adotem as medidas preventivas para desestimular tais provocações e confrontos.
Esses assassinatos são tão representativos dos riscos para a democracia, que a prefeita de Barcelona, Espanha (Catalunha) Ada Colau, se manifestou numa postagem direcionada: “Preste atenção Jair Bolsonaro, Marielle vai te tirar do poder que hoje usurpas com mentiras, mortes, ameaças e crueldade”.
As revelações mais recentes apontam indícios de que os assassinos de Marielle e Anderson, momentos antes de cometerem os crimes, se reuniram no condomínio onde mora o Presidente Jair Messias Bolsonaro. Ali um deles teria seguido até a residência do suspeito de ter acionado o gatilho contra Marielle e Anderson. Isso aumenta as suspeitas de que a família de Bolsonaro pode estar envolvida nos acontecimentos. Na investigação sobre esses fatos foi apresentado laudo feito para a Promotoria Pública para o qual os investigadores não se utilizaram do material original e ficou pronto poucos minutos antes da coletiva de imprensa oferecida pelas promotoras, sendo que uma delas já foi retirada do tratamento desse caso jurídico.
Assim é que continuam vivas as perguntas: quem matou e quem mandou matar Marielle Franco?
*Cláudio Di Mauro é geografo, ex prefeito de Rio Claro, professor universitário e colaborador de Diálogos do Sul
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