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Milícia tem projeto de poder para dominar todo Estado brasileiro", afirma Monica Benício

Execução da vereadora carioca Marielle Franco (PSOL) completa dois anos em março e é emblemático por ser uma ruptura do Estado democrático de direito
Joel Franco
Brasil de Fato
João Pessoa

Tradução:

“Tem cadeira no Senado, na Câmara Federal, na Assembleia do Rio de Janeiro, na Presidência da República. A milícia é hoje o Estado brasileiro. A milícia não domina apenas território. Faz projeto de poder no país. E não é um projeto de poder que inclui o povo. É pra manter a ordem vigente desses homens brancos, fundamentalistas, machistas, LGBTfóbicos, racistas tudo que a gente já sabe desde que o Brasil começou sua história”, afirmou Monica Benício, ex-companheira da vereadora carioca Marielle Franco (PSOL), assassinada a tiros em 14 de março de 2018. 

Quem mandou matar Marielle? foi tema de um debate do Projeto Realidade Brasileira e Universidade, realizado pela Associação de Docentes da Universidade Federal da Paraíba (ADUFPB), na última sexta-feira (14) em João Pessoa. Além da ex-companheira, estiveram presentes na atividade a tia de Marielle Franco, Solange Cavalcante e o presidente estadual do PSOL, Tárcio Teixeira.

Benício destacou o fato de o Rio de Janeiro ser uma cidade dominada pela milícia, que tem uma Câmara dos Vereadores extremamente fundamentalista e um prefeito bispo da Igreja Universal do Reino do Deus, Marcelo Crivella (Republicanos), que não sabe o que significa Estado laico.

“Quando o corpo da Marielle tomba a vida de ninguém aqui está segura. Todas correm riscos quando o Estado brasileiro não responde quem foi que mandou matar.  O corpo da Marielle é um corpo que o Brasil olha e julga um corpo descartável. O corpo da Marielle é um corpo matável no Brasil, é o corpo negro, feminino, favelado, periférico, LGBT. Esse é o corpo que o Brasil mata todo dia”, alertou.

O policial militar aposentado Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz estão presos sob a acusação de terem cometido os assassinatos de Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes. Lessa reside no condomínio Vivendas da Barra no Rio de Janeiro, onde o presidente Jair Bolsonaro também mantém residência.

Segundo laudo da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Lessa autorizou a entrada de Queiroz no condomínio no dia do assassinato da vereadora. Do condomínio ambos partiram juntos até o local do crime, segundo o Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ). 

Execução da vereadora carioca Marielle Franco (PSOL) completa dois anos em março e é emblemático por ser uma ruptura do  Estado democrático de direito

Foto: Ciro Caleb
Debate realizado na Aduf -PB

Escritório do Crime

Uma das linhas de investigação sobre o assassinato de Marielle e Anderson tem como foco a participação da organização criminosa “Escritório do Crime” com atuação em Rio das Pedras, de onde teria partido o carro utilizado no crime]

Apontado como chefe da organização e foragido desde janeiro, Adriano da Nóbrega foi executado no dia 9 de fevereiro na Bahia.  

Nóbrega chegou a ser ouvido pela Polícia Civil do Rio de Janeiro sobre sua possível ligação com o ex-policial Ronnie Lessa.

Até novembro de 2018 quando ainda era filiado ao PSL – partido do qual se desligou em outubro de 2019 – o senador Flávio Bolsonaro (sem partido), empregava a mãe e a esposa de Adriano de Nóbrega em seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), pois era deputado estadual.

Em entrevista ao Brasil de Fato, o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ), afirmou que a “família Bolsonaro deve explicações” sobre o assassinato de Nóbrega.

Assassinato político

Benício ressaltou que a luta por Justiça por Marielle não é apenas por ela ser sua companheira, o amor de sua vida. “O caso da Marielle é um caso emblemático porque ela era uma figura política. E pedir justiça por Marielle, pedir resposta, é dizer que a gente no Brasil, enquanto pessoas que defendem o Estado democrático, a gente não quer que isso aconteça nem com outras Marielles, nem com qualquer outra pessoa nessa sociedade. Enquanto essa resposta não chega, a imagem que o Estado brasileiro passa para a sociedade brasileira e internacional é que se pode matar qualquer um, no Brasil”, disse.

Para Mônica Benício, o assassinato de Marielle Franco é emblemático por ser uma ruptura do  Estado democrático de direito no Brasil e um recado político daqueles que não querem disputar espaços de poder com corpos como aquele que Marielle representava. “Uma vereadora democraticamente eleita, a segunda mulher mais votada do Brasil, a quinta pessoa mais votada da cidade do Rio de Janeiro com 46.502 votos, Marielle fez uma campanha pautada no fato de ser uma mulher negra e da favela”, ressalta.

“Tragédia anunciada”

Mônica Benício considera fundamental entender o ano de 2018 em qualquer debate sobre a realidade brasileira. “Um ano que não começa em 2018. A gente vai ter que olhar para o que foi o ano de 2016, o golpe misógino contra a presidenta Dilma, para poder fazer uma leitura”, ressaltou.

Segunda ela, tudo era uma tragédia anunciada, “quando a gente tem um deputado que faz a menção ovacionando um torturador dentro de um plenário e não sai algemado desse plenário, a gente começa a entender que a atual conjuntura não é favorável à democracia”, afirma em referência ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

No momento do impeachment de Dilma Rousseff, ainda deputado pelo PSC-RJ, Bolsonaro homenageou o torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra, ex-comandante do Departamento de Operações Internas (DOI-Codi).

FonteBdF Paraíba

Edição: Leandro Melito e Heloisa de Sousa

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Joel Franco

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