A Anistia Internacional divulgou uma nota pública exigindo o fim das investigações sigilosas sob responsabilidade do Ministério da Justiça contra críticos do governo Bolsonaro, a maioria agentes de segurança do Movimento dos Policiais Antifascismo e professores. A revelação de que o Governo Federal vem monitorando opositores foi divulgada pelo portal Uol.
Várias entidades e movimentos de defesa da democracia e dos direitos humanos repudiaram a criação de um setor responsável por investigar, de forma sigilosa, quase 600 pessoas até o momento.
Leia a nota da Anistia Internacional na íntegra:
Allan Santos / Agência Brasil
Agência privada de inteligência foi montada já sob a gestão do ministro André Mendonça, que sucedeu Sérgio Moro
Nota Pública
A Anistia Internacional exige o fim de toda e qualquer investigação secreta e ilegal contra opositores do governo, como a que foi noticiada recentemente sobre 579 servidores federais e estaduais da segurança pública, além de professores universitários críticos ao governo. Tais investigações teriam resultado em um dossiê contendo nomes, fotografias e endereços de redes sociais dessas pessoas.
De acordo com o que foi noticiado pela imprensa, o Presidente da República Jair Bolsonaro e o Ministro da Justiça, André Mendonça, seriam os responsáveis por essa medida, que inclui entre as pessoas monitoradas, Paulo Sergio Pinheiro, ex-secretário nacional de direitos humanos e atual relator da ONU sobre direitos humanos na Síria; Luiz Eduardo Soares, cientista político e conselheiro da Anistia Internacional Brasil e Ricardo Balestreri, secretário estadual de Articulação da Cidadania do governo do Pará e ex-presidente da Anistia Internacional Brasil.
A coleta de dados e compilação de informações pessoais contra ativistas de direitos humanos e opositores políticos sob o argumento de “prevenção, neutralização e repressão de atos criminosos” em razão de suas posições políticas fere a liberdade de expressão, inclusive de opinião política. Esse direito inalienável de toda pessoa está previsto na Constituição Federal de 1988 e nos Tratados internacionais de direitos humanos ratificados pelo Brasil.
Tal iniciativa preocupa a Anistia Internacional especialmente por conta do Brasil possuir um passado recente de perseguições políticas durante o período do Regime Militar, que durou 21 anos. Durante aquele regime, opositores do governo militar foram presos, torturados, mortos e desaparecidos em todo território nacional. Essas ações eram coordenadas justamente por agências de “inteligência”, que aparentemente o governo brasileiro tenta recriar. A Anistia Internacional recorda que a Corte Interamericana de Direitos Humanos determinou recentemente que as violações de direitos humanos, decorrentes do ataque sistemático do Estado brasileiro contra opositores políticos durante o regime militar, constituiu crime contra a Humanidade. Esse capítulo triste e vergonhoso de nossa história deve ser rememorado para mostrar a importância de repelir qualquer ameaça às liberdades individuais.
Por isso, a Anistia Internacional chama a todas as defensoras e defensores de direitos humanos no Brasil a repudiar veementemente a perseguição política empreendida pelo governo federal contra servidores públicos, professores, ativistas e influenciadores que se manifestaram legitimamente sobre os caminhos para a democracia brasileira. O presidente da República e seus ministros de Estado não devem se prestar a espionar e intimidar seus opositores políticos por meio investigações secretas e ilegalmente motivadas. Transformar órgãos oficiais em agências privadas de inteligência é intolerável em um Estado Democrático de Direito. Toda e qualquer atividade de “inteligência” do Ministério da Justiça precisa ter por base investigações policiais regulares, motivadas pela ocorrência de crimes, sendo autorizadas e supervisionadas pela autoridade judicial. Caso contrário, consistirá em arbitrariedade, violando os direitos humanos.
A Anistia Internacional está vigilante e sempre exigirá do Estado brasileiro o compromisso irredutível com os direitos humanos de todas e todos.
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