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Neoliberalismo apoiado pela Globo expõe que globolsonarismo é mais real que bolsopetismo

Globo tem forçado a disseminação do termo “bolsopetismo” por causa do que acontece na Petrobras
Victor Farinelli
Diálogos do Sul Global
São Paulo (SP)

Tradução:

Várias ironias despertam quando a Globo força a disseminação do neologismo “bolsopetismo” por causa do que acontece na Petrobras. A maior delas é que a Globo, e não o PT, que está entre as maiores apoiadoras da política bolsonarista para a estatal enquanto ela estava sob gestão do neoliberal Roberto Castello Branco – postura que, pela mesma lógica, merecia a alcunha de “globolsonarista”.

O que Castello Branco fez na Petrobras é o que muitos outros bolsoguedistas fazem em outras estatais: um plano de sucateamento express para justificar privatizações, o qual incluiu a Caixa, o Banco do Brasil e mais recentemente a Eletrobras.

Aliás, talvez não seja mero acaso que a resposta de Bolsonaro às críticas da Globo pela já anunciada queda do neoliberal seja acelerar o projeto globolsonarista em outras empresas públicas.

Globo tem forçado a disseminação do  termo “bolsopetismo” por causa do que acontece na Petrobras

Reprodução: Facebook
Globo tem relativado o que bolsonaro tem feito interferindo na Petrobras.

A Globo força a barra ao lançar o termo “bolsopetismo”, porque o PT jamais defendeu a política bolsonarista para a Petrobras. Nem agora. A questão é que tanto o PT quanto a esquerda em geral consideram positivo que a saída de Castello Branco possa significar uma obstrução, mesmo que de leve, no processo de privatização da empresa, mas não acreditam que será o fim dessa lógica, afinal, nada garante que o general Joaquim Silva e Luna, nomeado por Bolsonaro como sucessor de Castello Branco, será menos privatista.

Aliás, quem conhece os conceitos em economia do general Eduardo Villas Bôas – admirador confesso de Reagan e Thatcher e um dos sustentáculos deste governo – sabe que não falta ortodoxia neoliberal na caserna. Portanto, achar que um militar no comando da estatal possa trazer uma gestão nacionalista à empresa seria no mínimo ingenuidade.

Também é ingenuidade achar que a fórmula neoliberal de desestatização vai resultar em melhores preços e serviços. Mas tudo bem, já que o ingênuo, nesse caso, é quem compra esse discurso, e já está comprando preços e serviços mais caros – achando que o culpado são os outros, já que continua sob o efeito alucinógeno da retórica globolsonarista – que tendem a ficar ainda mais caros.

Quem propaga essa lógica sabe muito bem o resultado dela, e sabe que os efeitos desastrosos para a economia do país serão compensados (para si) com maiores lucros privados.

Quem governa com essa lógica também sabe das consequências, mas agora vive um dilema. Chegarmos em 2021 e a necessidade da reeleição em novembro do ano que vem obriga a tentar encontrar um meio termo a uma situação econômica que castiga uma parcela grande da população, que pode ser decisiva na hora de votar.

As pesquisas mostram que a popularidade de Bolsonaro está em queda, e a rejeição ao governo em alta. Não é errado supor que o preço dos combustíveis, o valor do dólar, o efeito dessas duas coisas na inflação e a progressão desse cenário nos próximos meses, junto com a progressão do desastre da gestão na saúde, podem ter efeitos catastróficos nas pretensões eleitorais.

Busca-se, portanto, um neoliberalismo que seja menos daninho à economia do país (se é que isso é possível), menos cruel com os mais pobres (se é que isso é possível) e menos negativo para a popularidade do presidente (veremos se uma boa estratégia de comunicação pode tornar isso possível).

Aécio Neves tentou representar essa proposta, mas fracassou. José Serra tentou duas vezes, também sem sucesso. Temer deu um golpe em nome dessa agenda, e talvez por isso nem se preocupou com a popularidade.

Bolsonaro tem um projeto muito mais ambicioso, e, para se manter no poder pelo longo tempo que deseja, precisará saber se equilibrar entre os interesses do mercado que o patrocina e as necessidades básicas da maioria da população, não só daquele cerca de 25% que o idolatra sem questionar.

Também terá que lutar contra a tentativa da Globo, que lançou o bolsopetismo (querendo vincular o desastre bolsonarista à sua antítese petista) esperando se desfazer do estigma globolsonarismo (a defesa ortodoxa da política econômica de Paulo Guedes, inclusive se isso significa fazer vistas grossas aos absurdos no combate à pandemia, à devastação na Amazônia e no Pantanal, ao aumento do poder das milícias e tantos outros problemas).

A emissora nunca foi contra a política econômica de Bolsonaro, somente contra sua figura. Sonha com voltar a defendê-la sem temor, mas com um aliado seu no Planalto, ou até mesmo um nome da casa (loucura, loucura, loucura…) como administrador.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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