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ToggleA primeira imagem que me veio à cabeça quando da notícia da demissão do ministro da Defesa foi aquela dos ratos abandonando o navio prestes a naufragar. Longe de comparar os militares aos ratos, mas o fato ilustra. A nave está afundando, não querem naufragar juntos.
Eis alguns dos sintomas de que chegou a hora de dar um basta à barbárie:
- Manifesto de 500 banqueiros e financistas, ou seja, dos donos do dinheiro, exigindo que o governo faça corretamente o que tem que ser feito;
- Uma centena de empresários a pedir uma renda mínima para a economia não paralisar de vez;
- Ajuda emergencial inferior e para menos gente agrava o drama social;
- Cerco internacional se estreitando;
- Cerca de 300 diplomatas se manifestam contra a política externa;
- O Senado inteiro sublevado com o episódio de confronto provocado pelo ministro Araújo ofendendo a senadora Katia Abreu
- O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco DEM/MG, teve que fechar suas redes sociais devido aos ataques sofridos;
- O presidente da Câmara, Artur Lira, dando ultimato: “ou cuida da pandemia, ou haverá impeachment“;
- 16 governadores, de diferentes partidos políticos, assinam manifesto em que denunciam uma onda de notícias falsas inundando as redes com objetivo de desestabilizar as instituições e pedem providências ao Congresso e ao STF
- Com as palavras de ordem: Vida, Pão, Saúde e Educação, estudantes (e viva a juventude) estão bloquearam ruas e avenidas nas principais capitais. Com certeza isso se espalhará por todas as cidades.
Não é fácil o impeachment, já dissemos isso várias vezes, pois o “centrão“, que é quem de fato governa, acaba de dar uma demonstração de força ao aprovar um Orçamento da União absolutamente contrário ao que pretendia o governo, e, sobre todos os pontos de vista, insustentável.
Mais um elemento a corroborar com que o caos está se tornando inevitável e que caos se resolve com troca de governo. Quando a tempestade é perfeita não se deve perder a oportunidade. Oxalá nossos deuses iluminem a sociedade civil.
São muitos os sintomas de que os militares estão incomodados.
Piero Leiner, especialista em poder militar, da Universidade Federal de São Carlos, diz que o desembarque começou com o general Santos Cruz, lá atrás, afirmando que uma coisa é o governo e outra coisa são as forças armadas.
Mais recentemente, tanto o ministro da Defesa quanto o comandante do Exército voltaram a afirmar que as forças armadas não se metem na política.
Reprodução: Winkiemedia
O ex-ministro da defesa Fernando Azevedo
Em carta de demissão do Ministério da Defesa o general Fernando Azevedo e Silva afirma que enquanto titular preservou as forças armadas como instituição de Estado.
O Exército não é instituição do governo nem de partido político, é instituição do Estado, disse o ex-comandante do Exército general Pujol, em novembro de 2020.
Muito bem, só que a coisa ganhou muita complexidade. Não são 11 ministros que poderiam abandonar seus cargos e voltar aos quartéis como se nada. São, na realidade, mais de 10 mil militares usufruindo de duplo salário e mordomias. Convencê-los a largar o osso: eis o grande problema!
Sobre a saída do general Azevedo, da Defesa, há quem culpe o fato de ele ter se negado a ordenar o ex-comandante do Exército general Pujol a mobilizar a arma em defesa do capitão presidente. Outros por não ter punido o general Paulo Sérgio, chefe de Recursos Humanos, por ter, em entrevista à imprensa, alertado sobre uma terceira onda da Covid. Há também quem, com razão, alega que isso ocorreu porque queriam que o general Pujol se pronunciasse contra a decisão do STF favorável a Lula e desfavorável a Moro. Justo Moro, uma possível terceira via para a eleição de 2022!
Ato contínuo especula-se por toda parte que os próximos a serem defenestrados serão os comandantes das três armas. Mas eis que para surpresa de todos os três renunciam a seus cargos por discordarem do comandante supremo, ou seja, do presidente. Está armada a maior crise militar da história…
E agora José?
O general Walter Braga Neto, novo na Defesa, terá força para trocar os comandantes das três armas. Braga Neto deixou a Casa Civil, que foi ocupada pelo geral Luiz Eduardo Ramos, que era ministro-chefe da Secretaria do Governo que, por sua vez, foi ocupada pela deputada Flávia Arruda (PL/DF).
Baixo oficialato segue a quem?
Bolsonaro dizia, com insistência, ter o “nosso exército” (milícias?) o Exército e o povo. O Exército pulou fora; o povo é uma aposta duvidosa, com o rechaço a seu governo batendo recordes. Sobraram os milicianos. Isso explica as tentativas de sublevação das PM que estão ocorrendo.
A “neutralização” de um soldado da PM por soldados da tropa está sendo utilizada para transformá-lo e em herói e incitar os PMs, em geral, a se sublevarem. “Não vou permitir que violem a dignidade do trabalhador”, dizia o soldado, armado de fuzil, disparando a esmo. Disparou também contra os que tentaram rendê-lo.
Bia Kicis, porta-voz da família palaciana, diz que o soldado, gente do povo, se negou a reprimir o povo por ordem do governador Rui Costa, da Bahia.
Estado de Mobilização Nacional
Em desespero, nesta terça-feira (30), o líder do PSL na Câmara, major da PM Victor Hugo, tentou viabilizar projeto que estabelece Estado de Mobilização Nacional, o que daria amplos poderes ao presidente, acima das instituições.
Realmente é hora de mostrar que a sociedade civil está contra isso aí. Cercar a Câmara.
Modus operandi
A fake news disseminada pelos grupos bolsonaristas dá o tom do desespero.
Um áudio atribuído à ministra pastora Damares Alves, uma mulher aos gritos e lágrimas pede que todas as mães se dirijam aos quartéis para pedir aos militares que salvem esse governo que “foi eleito por Deus”. A peça diz que os comunistas querem derrubá-lo.
Esse tipo de material, além de enganar as pessoas, foi plantado para gerar medo, gerar confusão e caos.
Cai ministro, cai todo mundo só não cai Bolsonaro
Caiu o Ernesto Araújo… não é para menos, conseguiu se indispor com o Senado inteiro e com todo o corpo diplomático. Assumiu o diplomata Alberto Franco, que tomava conta do cerimonial do Planalto.
É o mesmo que trocar seis por meia dúzia. Araújo não dava mais, porém, que importância tem esse terraplanista diante da maior crise militar da história?
Dizem que a dança das cadeiras tem o único propósito de fortalecer a famiglia.
Leia também: Amigo de Flávio Bolsonaro, novo ministro da Justiça já foi acusado de sequestro e tortura
No super Ministério da Justiça e Segurança, saiu o calvinista André Mendonça, que volta para a Advocacia Geral da União e, em seu lugar um delegado da Polícia Federal, Anderson Torres, amigo da famiglia. Assim sendo, outras pastas serão movidas para satisfazer o Centrão.
Tudo leva a crer que estavam preparando algo para comemorar o 31 de março, comemorando com o fechamento do regime.
Para nós, 1º de abril que foi quando declararam vaga a presidência da república. Esses militares não são confiáveis.
O que estarão tramando?
* Paulo Cannabrava Filho é jornalista e editor da Diálogos do Sul
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