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No país da fraude pronta, instituições fingem não ver o golpe armado por Bolsonaro

O Distritão já era. Uma excrescência a menos na reforma política no Congresso. Alteram a Constituição sem consulta ao povo. Isso é ditadura da maioria
Paulo Cannabrava Filho
Diálogos do Sul Global
São Paulo (SP)

Tradução:

O Distritão já era. Uma excrescência a menos na proposta de reforma política em andamento no Congresso. Alteram a Constituição sem consulta ao povo. Isso é ditadura da maioria. O Executivo confronta o Judiciário. Isso é o arbítrio de um poder autoritário com certeza de impunidade. Nas redes, tudo vira piada.

É impressionante a criatividade desse povo que, na mesma hora produz memes e paródias, ridicularizando os atos insanos desse governo de ocupação. Eu me pergunto se isso não estaria contribuindo para perplexidade e falta de reação diante dos fatos. Já virou piada, estou satisfeito. Acabou.

Rechaçaram o Distritão e reabilitaram a Coligação partidária. Fica uma pergunta para vocês responderem: A Coligação é boa ou ruim para o país? Qual a reforma política ideal para o país?

A coligação junta três, quatro, até mais de dez partidos. Você vota num partido e elege um personagem de outro partido. Essa é a realidade da coligação numa eleição proporcional. Na eleição majoritária até que dá para aceitar, são vários partidos fechados em torno de uma candidatura, e, supõem-se, de um projeto.

Confira na TV Diálogos do Sul:

A Câmara aprovou para beneficiar pequenos partidos que, devido à cláusula de barreira, estavam condenados à extinção, ou fusão entre si para sobreviver. A tal cláusula de barreira é um dispositivo constitucional em vigor desde 2017 que requer dos partidos um número mínimo de votos no âmbito nacional para existir.

O ideal seria ter partidos estrito senso, ou seja, parte da sociedade organizada para disputar e gerir o poder. Partidos com princípios e projetos de país. Então se disputaria eleição em torno de escolher o melhor projeto e as pessoas qualificadas para executar o projeto.

Do jeito que está, temos partidos ônibus, sem princípios e sem projetos, que atuam em função de ganhar dinheiro e ascensão social. Projetos de poder que podem até nos levar a uma teocracia fundamentalista, como a de Israel. Não é brincadeira, o risco existe, está na intenção dos neopentecostais sionistas.

Fazer alianças em torno de projetos. Hoje é uma questão vital. 

Fazer aliança em torno de um projeto de soberania e democracia para tirar os militares do poder. Não tem uma terceira via. Qualquer outro caminho só favorecerá a perpetuação dos militares no poder. Com ou sem militar, a continuidade do neoliberalismo suicida e entreguista.

Marina, da Rede, anunciou que busca uma terceira via? Ciro Gomes, João Dória se apresentam como sendo a opção para a polarização entre Lula e Bolsonaro. Que terceira via é essa, dona Marina? Só existe uma via para derrotar os militares e o neoliberalismo. Os banqueiros também estão se empenhando para essa terceira via, que não passa da manutenção do status quo.

Saiu mais uma pesquisa da XP, a maior empresa financeira do país, Bolsonaro continua despencando e Lula mantém a linha ascendente. Também os índices de rejeição do capitão e de desaprovação de seu governo, mantém-se em escalada. Nunca houve tanta rejeição. Bolsonaro perde para qualquer um dos candidatos. 

Bom, isso é um retrato de hoje, nas circunstâncias de equilíbrio político do momento. Faltam 14 meses para a eleição. O que está sendo planejado pelo alto comando das forças armadas é que constitui o X do problema. Eles fizeram um plano de captura do poder e devem estar revisando suas estratégias e táticas para se manterem no poder. 

O Distritão já era. Uma excrescência a menos na reforma política no Congresso. Alteram a Constituição sem consulta ao povo. Isso é ditadura da maioria

Nando Motta
É impressionante a criatividade desse povo que na mesma hora produz charges e paródias ridicularizando os atos insanos desse governo de ocup

A urna e o voto impresso

Sobre a celeuma em torno do voto impresso, vale lembrar que essa era uma velha reivindicação da esquerda. Leonel Brizola foi vítima de uma tentativa de fraude orquestrada pela Globo na eleição de 1982 para impedir que fosse eleito governador do Rio de Janeiro. 

Detectada a fraude, Brizola botou a boca no mundo, ficou na história como o escândalo da Proconsult, e passou a colocar o voto auditável como uma das bandeiras de seu partido. A ele se juntaram muitas vozes, de um grande número de partido, destacando-se o PMDB, PSDB e inclusive PT.

Assista na TV Diálogos do Sul:

Veja que desde 2017, já candidato, Jair Bolsonaro alardeava que só seria derrotado pela fraude. Sabemos, já provamos que foi eleito através da fraude. Inúmeras modalidades de fraudes. Experto, bastou que assumisse a bandeira da oposição, pelo voto auditável, que a oposição se colocou contra. Teriam derrotado Bolsonaro se dissessem é isso mesmo, vamos aprovar o voto impresso para evitar possíveis fraudes. 

A quem interessa a fraude? Por que ele diz que a eleição de 2018 foi fraude? Nós sabemos que foi fraude, porém, ele falando isso desvia a atenção do fato que poderia impugnar a inteira chapa. Bem ao estilo de Niccolo Machiavelli, adota a bandeira de seu inimigo para que ele a abandone. 

Saiba Mais:
Desmentindo o capitão, gabinete de Bolsonaro admite não ter provas de suposta fraude eleitoral em 2018

Quem será o impichado?

A nação perdeu semanas inteiras numa discussão estéril, que não serviu para nada, só para distrair a atenção do povo das questões, essas sim, essenciais, vitais, como as notícias crimes contra o governo de ocupação em curso no TSE e no STF. 

A Justiça não age, o governo militar de ocupação age. Bolsonaro acaba de anunciar que pediu o impeachment de ministros do Supremo ao Senado. O Senado é quem aprova é também quem desaprova e pode destituir um ministro. Deixam de fazer, ele faz. Assim que funciona. É muito difícil, eu diria quase impossível que o Senado entre numa fria desta, porém, a nação perde tempo precioso com mais essa distração. E a bandeira do impeachment muda de mãos.

Roberto Jefferson extrapolou nos xingamentos e nos apelos conclamando a subversão contra as instituições, está preso. O capitão que ocupa a presidência, ferido reage botando mais lenha na fogueira. O vice, general Hamilton Mourão se reúne com Barroso, na casa do magistrado e diz que as forças armadas se mantêm infensas às querelas políticas.

Terminará tudo em pizza? Ou alguém está blefando. Desde 2017, início da campanha, vivemos um blefe atrás do outro. Lembram que diziam que não haveria golpe? Prometeram eleição e nos deram uma farsa. E continuam blefando com a história do meu exército, que derrota só com fraude, e tantas outras baboseiras para tumultuar o ambiente.

Por que a Justiça não age? A pergunta que não quer calar.

Seria por cumplicidade? A realidade é que deixam de fazer, eles fazem e se fortalecem.

Temos que concentrar a atenção agora, a retomada dos trabalhos da CPI da Covid, melhor dito, CPI da Pandemia, no Senado. Segundo informam da Comissão, Jair Bolsonaro será acusado, entre outras coisas, de charlatanismo e curandeirismo. É um falso curandeiro ao posar como garoto propaganda da cloroquina. O Exército também está envolvido e não escapa desta: produziu 3.2 milhões de drágeas do remédio inadequado para a Covid.

Tem mais uma acusação grave, de perjúrio, que pode levar qualquer um à cadeia. Falsificou documento do Tribunal de Contas da União, para enganar a opinião pública sobre a quantidade de mortos pela Covid. 

Eles estão encurralados, são como tigres enjaulados. Mas têm muito poder ainda.

Estão usando o violeiro Sérgio Reis para pregar difundir uma mentira sobre uma paralisação do país no dia 8 de setembro. Pura bravata. Os dirigentes autênticos dos caminhoneiros desmentiram, mas nas redes prevalece, ou circula mais a mentira.

Leia também:
Negacionismo, fome, mortes e voto impresso: o samba de Bolsonaro para se manter no poder

É preciso tomar muito cuidado com as manobras diversionistas. Eles é que dão as pautas, tanto para a situação como para a oposição. A ocupação do poder pelos militares resultou de uma operação de guerra.

Dizer que são o poder moderador é outra falácia. Nunca foram. Todas as rebeliões foram por melhores salários e os golpes de estado por pura ânsia de poder. E toda vez que exerceram o poder foi um desastre, do ponto de vista dos direitos humanos e da soberania, principalmente, hoje, a questão da soberania. Submissão incondicional ao comando sul dos Estados Unidos. Vergonhosa traição `a pátria.

Por isso insistimos que falta a compreensão dos dirigentes políticos, da esquerda à direita, de que a luta é de libertação nacional. Duas palavras para unir uma ampla frente capaz de derrotar o imperialismo, seus áulicos e suas tropas pretorianas: democracia e Soberania.

Paulo Cannabrava Filho é jornalista e editor da Diálogos do Sul.

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Paulo Cannabrava Filho Iniciou a carreira como repórter no jornal O Tempo, em 1957. Quatro anos depois, integrou a primeira equipe de correspondentes da Agência Prensa Latina. Hoje dirige a revista eletrônica Diálogos do Sul, inspirada no projeto Cadernos do Terceiro Mundo.

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