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Lula lá e Fora, Bolsonaro: atos de 11 de agosto foram além das cartas pela democracia

Manifestações na Faculdade de Direito da USP e replicadas pelo país contaram com presença de ativistas, juristas, artistas e entidades de diferentes setores
Guilherme Ribeiro
Diálogos do Sul
Bauru (SP)

Tradução:

Atualizado às 15h57

Esta quinta-feira, 11 de agosto, iniciou de maneira histórica em todo Brasil. Em diversas cidades foram organizados atos, com início desde a manhã, contra os ataques de Bolsonaro à democracia.

Essas articulações ganharam força após a divulgação da “Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito”, escrita por ex-alunos da Faculdade de Direito da USP (FDUSP). O texto, que foi disponibilizado em 26 de julho e conta com quase 1 milhão de assinaturas, foi lido hoje, aproximadamente às 12h, no Pátio da FDUSP, do Largo de São Francisco, em São Paulo (SP).

Leia também: Atos em defesa da democracia em todo o Brasil; acompanhe minuto a minuto

A praça esteve lotada e contou com a presença de artistas, estudantes e ativistas, que discursaram contra a crise autoritária enfrentada pelo Brasil e em defesa do Estado Democrático de Direito.

Simone Nascimento, dirigente do Movimento Negro Unificado, destacou que a Carta é também memória a Moa do Katendê, Luana Barboa, Marielle Franco, Dom, Bruno, entre outros, “corpos ceifados pelos ataques à democracia brasileira”, apontou.

Presidente do Sindicato dos Advogados do Estado de São Paulo, Fábio Gaspar recordou o golpe contra a ex-presidenta Dilma Rousseff, do qual resultou um ataque sistemático aos direitos sociais, como a Reforma Trabalhista. “Hoje é um ato de união de brasileiras e brasileiros que defendem o Estado Democrático de Direito”, acrescentou.

A atriz e ativista Roberta Estrela D’Alva foi a responsável por intermediar os diferentes discursos e observou: “a ampla adesão à carta reforça o caráter republicano democrático e diverso da carta e deste ato”.

Daniela Mercury também subiu ao palco. Ela deu vivas ao Estado Democrático de Direito e declarou que as eleições vão acontecer: “Nosso pacto constitucional e democrático e está de pé e estamos aqui para exigi-lo”.

A leitura da Carta às brasileiras e aos brasileiros foi transmitida em vídeo com a participação de diversas personalidades, como Fernanda Montenegro, Anitta, Antônio Pitanga, Lázaro Ramos, Milton Nascimento, Djavan, Paula Lima, Dira Paes, Txai Suruí, Caetano Veloso e muitos outros.

Além da defesa dos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, o texto recorda que as eleições brasileiras têm servido de exemplo no mundo: “As urnas eletrônicas revelaram-se seguras e confiáveis, assim como a Justiça Eleitoral”.

Enquadrando como intoleráveis as ameaças de Bolsonaro – ainda que não cite nomes – aos poderes e setores da sociedade civil, o manifesto assevera também que, no Brasil, não há espaço para retrocessos autoritários: “Ditadura e tortura pertencem ao passado”. A mensagem completa pode ser lida aqui.

Vale mencionar que a Carta às brasileiras e aos brasileiros é inspirada na Carta de 1977, lida pelo mestre em Direito Goffredo da Silva Telles Jr., no Largo de São Francisco, contra a ditadura militar e pedindo restabelecimentos da democracia.

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Carta “Em Defesa da Democracia e da Justiça”

Mais cedo, também na Faculdade de Direito da USP, no Salão Nobre, instituições, juristas, ativistas e empresários se reuniram para a leitura da carta articulada pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Diferente do texto dos ex-alunos da Faculdade de Direito da USP, aberto para adesão de pessoas físicas, o manifesto da Fiesp foi direcionado para entidades econômicas, empresariais, jurídicas e da sociedade civil. A ação conta com mais de 100 assinaturas, incluindo Febraban, OAB-SP, Greenpeace, USP, Unicamp, Unesp, PUC-SP, UNE, Grupo Tortura Nunca Mais, CUT, entre outras.

Manifestações na Faculdade de Direito da USP e replicadas pelo país contaram com presença de ativistas, juristas, artistas e entidades de diferentes setores

Foto: Twitter @xuniorl
“Não podemos admitir que o presidente da República não respeite a Constituição”, assinalou Miguel Torres, presidente da Força Sindical

Iniciado aproximadamente às 10h, o encontro contou com a fala de Bruna Brelaz, presidente da UNE, cujo DNA é marcado pelo compromisso de lutar por um Estado Democrático de Direito, segundo Brelaz: “Lutamos contra o nazifascismo e resistimos à ditadura militar. Não aceitamos as sanhas de uma tentativa de golpismo”.

“Não podemos admitir que o presidente da República não respeite a Constituição”, assinalou também Miguel Torres, presidente da Força Sindical.

Pouco antes, Raimundo Bonfim, coordenador da Central dos Movimentos Populares (CMP), também participou, declarando que é por meio do regime democrático que podemos superar a desigualdade social: “11 de agosto de 2022 ficará marcado na história do Brasil. No Brasil atual não há mais espaço para retrocessos autoritários”.

A carta “Em Defesa da Democracia e da Justiça”, buscou reunir diversos setores e preferências partidárias na tentativa de abarcar grupos que tem evitado se posicionar contra Bolsonaro. No ano passado, a Fiesp cancelou um manifesto pró-democracia agendado para as comemorações do 7 de setembro, pelo fato de a declaração ter desagradado a Febraban.

O presente ato afirma compromisso com a soberania do povo brasileiro, em conformidade com a Constituição e define “a estabilidade democrática, o respeito ao Estado de Direito e o desenvolvimento” como “condições indispensáveis para o Brasil superar os seus principais desafios”.

Leia também: Cannabrava | Não adiantam cartas se elas defendem a democracia dos banqueiros

A Fiesp, junto das demais entidades, reforça a valorização dos Três Poderes e acrescenta que o STF “tem conduzido com plena segurança, eficiência e integridade nossas eleições respeitadas internacionalmente”. Confira o documento na íntegra aqui.


Ataques de Bolsonaro às cartas

Bolsonaro tinha encontro marcado com a Fiesp para hoje, 11 de agosto, mas cancelou, direcionado por auxiliares do governo. Segundo a equipe, a reunião poderia causar constrangimentos, caso Bolsonaro fosse convidado a assinar a carta.

O encontro faria parte da rodada promovida pela federação paulista com candidatos à Presidência para discussão de propostas. O mandatário tinha encontro também com o grupo de empresários Esfera Brasil, e igualmente deu pra trás.

Em 28/07, Bolsonaro declarou que a carta divulgada pela Fiesp é evidentemente contra ele e que, por isso, não assinaria. Em relação aos signatários da Carta às brasileiras e aos brasileiros, ele os chamou de “cara de pau” e “sem caráter”, além de descrever o manifesto como “cartinha”.

A seguir, confira trechos de alguns dos discursos que marcaram os atos desta quinta, na Faculdade de Direito da USP:

Guilherme Ribeiro, jornalista e colaborador da Diálogos do Sul.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Guilherme Ribeiro Jornalista graduado pela Unesp, estudante de Banco de Dados pela Fatec e colaborador na Revista Diálogos do Sul.

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