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TogglePor determinação daquela horripilante “operação lavajatista”, invadiram a casa de Lula, de seus filhos, levaram o computador de mão de seu neto. Algo inusitado e triste de assistir, ainda que pela televisão. Depois de conduzido coercitivamente para o Aeroporto de Congonhas, o ex-Presidente foi levado aos piores constrangimentos.
Ao ser levado de avião, preso, para Curitiba, houve mesmo a tentativa de algemá-lo.
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Preso, Lula teve o imenso sofrimento de perder sua esposa, seu neto e seu irmão. Sofrimentos agravados pelas dificuldades e até mesmo impedimentos de se despedir dos restos mortais de alguns dos seus familiares. Quando levado para uma dessas despedidas, foi conduzido como se fosse um bandido de alta periculosidade.
Foram 580 dias de prisão, nas dependências da Polícia Federal em Curitiba. Situação que não foi vivida nem pelos mais cruéis militares que ocuparam a Presidência da República em um período de ditadura, quando centenas de pessoas foram submetidas a tortura e morte.
Situações articuladas com participação do governo dos Estados Unidos e complacência, por exemplo, do General Ernesto Geisel. Pilhas de cadáveres foram jogados em “valas comuns”, o exemplo mais gritante é o da Vala de Perus. E figuras com essa trajetória são homenageadas com seus nomes em Escolas, Hospitais, Rodovias, Ruas, Avenidas e Praças de nossas cidades. Tudo isso como consequência da cultura escravagista e patriarcal colonial que caracteriza a história dos “vencedores” no Brasil.
Sala de Imprensa Dilma 13 – Flickr
Golpe aplicado contra o Estado Democrático de Direito, em 2016, merece um capítulo especial na elaboração da nossa história
História: passado, presente e futuro
Um País que não conta corretamente sua história não constrói um verdadeiro encontro com seu passado. Não é capaz de entender com profundidade seu presente. Não se torna de fato um País Independente e Livre. O Brasil não é um País que pode comemorar sua Independência.
Quando o Brasil comemora em 7 de setembro seu aniversário de independência de Portugal, precisa reescrever sua história, na perspectiva dos povos agredidos e sofridos que o constituem.
Carta da CNBB ao povo brasileiro é crítica contundente ao golpismo do atual governo
Também a história moderna do Brasil, neste século, precisa ser escrita e contada respeitando as verdades dos fatos.
Golpe de 2016
O golpe aplicado contra o Estado Democrático de Direito, em 2016, merece um capítulo especial na elaboração da nossa história. O Brasil, a partir desse golpe, se constitui naquilo que meu amigo Paulo Cannabrava Filho identifica como sendo dirigido por governo de ocupação.
As histórias contadas por Julian Assange e também por Glenn Greenwald comprovam as ingerências dos governos estadunidenses no ataque institucional contra a democracia, no Brasil.
Para isso contou com o apoio institucional do setor do Ministério Público nas trágicas figuras de Deltan Dallagnol e nas injustiças praticadas pelo Juiz Sérgio Moro e seus asseclas.
Premonição
Em certo depoimento, Lula disse ao então Juiz Sérgio Moro: “hoje sou eu quem está nesta situação… amanhã poderá ser o senhor”. Se tratou de uma premonição. Lula, convicto de que estava certo, assistiu nesta semana o fato de a Polícia Federal fazer busca e apreensão na casa do agora cidadão Sérgio Moro.
Algo que esse senhor jamais imaginou que ocorreria. Pensou que estava imunizado contra as suas próprias práticas. Mas, a realidade mostrou que ele não estava certo e é sim um fantoche a serviço de interesses escusos.
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Para que possamos comemorar de fato a Independência do Brasil, é preciso fazer essa limpeza em nossa história. Não tínhamos apenas que nos livrar das tutelas portuguesas.
Mas é preciso vencer essa dependência histórica do patriarcado colonial, do escravagismo que se fincou em nossa cultura e que está inserida nas estruturas do poder.
Do que o Brasil precisa
Por fim, para comemorar nossa verdadeira independência, o Brasil precisa:
– Reescrever nossa história na perspectiva popular e não dos interesses da burguesia;
– Fazer justiça com a construção de uma democracia popular e não burguesa; essas conquistas são possíveis de serem obtidas, mas, para isso, cabe o reconhecimento das injustiças até aqui praticadas e que os Movimentos Populares assumam de fato seus protagonismos. É indispensável o reconhecimento de que somos filhos do Planeta Terra. É preciso o reconhecimento da necessidade de assumirmos que não temos tratado todos os seres vivos (animais e vegetais), como nossos companheiros no percurso da vida.
Se o modelo capitalista que impera entre nós impede tais avanços, está em tempo de reconhecermos os avanços revolucionários que serão indispensáveis para fazermos as pazes com a natureza e, daí, com a humanidade.
O mundo há de ser melhor, com a verdadeira independência.
Cláudio Di Mauro | Geógrafo e colaborador da Diálogos do Sul.
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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