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Brasileiros são os maiores beneficiados por cooperação entre Brasil e Rússia

Relação econômica é chave contra expansão abusiva do Ocidente, que destrói as economias nacionais e os vestígios de soberania
Sergio Quiroz
Diálogos do Sul Global
Moscou

Tradução:

Enquanto a crise ucraniana continua, Washington está tentando aumentar a pressão do Ocidente sobre países que não participam de sanções contra a Rússia. Um lugar especial entre estes pertencem ao Brasil, que não é apenas o maior e um dos mais ricos países da América Latina, mas também, potencialmente, o mais forte parceiro econômico da Rússia no hemisfério Ocidental. Isso, se os EUA não mudarem drasticamente a sua política externa, o que, no futuro previsível, parece pouco provável.

Para esta região, é tradicional uma extrema dependência das autoridades de direita/conservadoras dos governos dos EUA. Mas curiosamente, o presidente do Brasil Jair Bolsonaro, conhecido como implacável adversário político dos principais aliados da Rússia na América Latina – Venezuela, Bolívia e Cuba –, tomou o rumo para demonstrar a neutralidade no atual conflito mundial. Apesar da inegável pressão do “centro imperial”, ele não permitiu que o Brasil estivesse envolvido no confronto entre a OTAN e a Rússia. 

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Evidentemente, este fato não se deve aos princípios “humanistas” do atual governo brasileiro. A razão verdadeira são os interesses de círculos empresariais brasileiros. Paradoxalmente, os países da América Latina, que ainda ontem pareciam tão dependentes dos Estados Unidos, em comparação com os principais países da Europa vistos por muitas pessoas como modelos de soberania, hoje em dia fazem uma espécie de milagre provando a sua independência e senso comum. Nenhum país da América Latina, com toda a diversidade ideológica de seus governos, aderiu às sanções contra Rússia e, ao contrário da Europa, nenhuma grande força política, nem entre os de direita, nem do meio de esquerda, exigiu tais medidas.

É completamente claro que o potencial para o desenvolvimento das relações econômicas entre o Brasil e a Rússia permanece grande e sua realização depende não apenas da vontade política dos líderes desses países, que é óbvia, mas também dos círculos empresariais e da sociedade civil, que nesta situação de emergência da iminente crise mundial devem se unir contra a expansão corporativa e política, financeira e especulativa do Ocidente, que, destruindo as economias nacionais e os vestígios de soberania, ameaça a todos de mesma maneira.

É particularmente interessante que no caso da mais provável vitória de Lula nas eleições presidenciais, o potencial de cooperação com a Rússia e a cooperação no âmbito do Brics pode e deve desenvolver-se em direção das transformações profundas da sociedade brasileira, para que os vencedores sejam os próprios cidadãos em vez de indicadores macroeconômicos que ganham de costume.

Há um grande número de projetos científicos, educacionais, culturais e tecnológicos que devem ser colocados a serviço dos habitantes de ambos os países. As proporções gigantescas da Rússia e do Brasil, a sua diversidade, os seus avanços e as particularidades dos seus problemas, abrem diante de nós grandes oportunidades. Mas os primeiros passos para se conhecerem e concretizarem as perspectivas poderiam ser os contatos diretos entre as regiões, passando por cima do centro, que geralmente é mais rico e mais burocratizado. 

Relação econômica é chave contra expansão abusiva do Ocidente, que destrói as economias nacionais e os vestígios de soberania

Agência Brasil – Ricardo Stuckert/PR

Em particular no primeiro semestre deste ano, o Brasil aumentou as importações da Rússia em 91,8%




Fatos concretos

E falando dos fatos concretos, devemos observar que o desenvolvimento da economia brasileira depende em grande parte dos recursos energéticos russos. A Rússia poderia fornecer totalmente ao Brasil o combustível diesel de que muito precisa. No entanto, atualmente o Brasil adquire os produtos de petróleo da Rússia através de traders, já que as empresas deste setor que atuam no Brasil, tendo sede nos Estados Unidos ou na Europa, não podem realizar negócios com a Rússia devido às sanções.

Esta questão faz parte de uma série de problemas que precisam ser resolvidos pelos esforços dos dois países. Outra questão importante é a exportação de fertilizantes minerais russos para a agricultura brasileira, com a perspectiva de criar sua produção conjunta para as necessidades do Brasil e dos países vizinhos da região, para seu fornecimento direto, ignorando as bolsas ocidentais.

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Ao mesmo tempo, tem que se enfatizar que essa cooperação deve se desenvolver em esferas pacíficas e nunca deve ser direcionada contra outros países, o que é especialmente valioso nas condições da crise econômica e militar mundial. Até o Financial Times observa: “não podemos culpar países como a Índia e o Brasil por comprarem o petróleo russo. Também não devemos nos surpreender que haja muitos que desejam comprar o trigo russo também”.  

Nesse sentido, o Brics não podem deixar de desempenhar um papel importante e devem tornar-se o centro econômico dum mundo multipolar ressurgente. Por exemplo, o Brasil e a Rússia no formato de Brics podem realizar os pagamentos mútuos em moedas nacionais, sem o dólar dos EUA, o que fortalecerá as economias de ambos os países.

Isso é muito importante porque, como escreve o Financial Times, se trata dum tipo de guerra totalmente novo, quando o dólar americano militarizado é transformado numa arma para castigar os seus adversários. Ao mesmo tempo, no que “diz respeito à China, a Índia, o Brasil e outros países, eles enfrentam uma questão mais profunda sobre o papel do dólar americano na economia global: ainda é possível confiar nos Estados Unidos?”. Com esta pergunta, o Financial Times conclui sua publicação.

O enorme potencial do Brics é reconhecido mesmo nos centros ocidentais. Stefan Aust, ex-editor-chefe da revista alemã Der Spiegel, escreve: “40% da população mundial vive em apenas cinco países: no Brasil, na Índia, na China, na África do Sul e na Rússia. São mais de três bilhões de pessoas. Estes estados se uniram para formar uma comunidade chamada Brics pelas iniciais dos países. O Brics é visto como um contrapeso aos países do Grupo dos Sete que são as potências industriais economicamente mais fortes do mundo ocidental. Em comparação, tem que se lembrar que os países do G7 abrigam cerca de 11% da população mundial”.

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Como observamos acima, nesta base foram dados os primeiros passos que já renderam grandes retornos para os dois países. Em particular no primeiro semestre deste ano, o Brasil aumentou as importações da Rússia em 91,8%. Os fertilizantes entre os produtos comprados na Rússia representam 77%.

E estes são apenas alguns exemplos. A lista pode ser expandida. Esses resultados foram alcançados apenas alguns meses após a operação, quando a logística global de transporte e pagamento ficou dramaticamente complicada. Sem dúvida, pode-se alcançar muito mais no futuro bem próximo, desempenhando o papel de modelo para todos os países interessados no progresso social e na descentralização do poder mundial.

Sergio Quiroz é colaborador da Diálogos do Sul em Moscou.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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