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Roberto Corrêa Wilson*
Como outras nações da África, Burkina Faso, localizada no ocidente continental, é pouco conhecida no âmbito internacional devido à política das metrópoles europeias que, durante séculos de sistema escravagista e domínio colonial impediram sua projeção independente.
A presença estrangeira não só significou a exploração da mão de obra nativa e o saque dos numerosos recursos naturais, como também a intenção de destruir toda a riqueza e herança cultural acumulada durante séculos.
Burkina Faso não foi conhecida em seu início com esse nome genuinamente africano que em língua autóctone significa “república de homens não corruptos” ou “terra de homens dignos”. O nome atual foi dado depois da independência.
Nos tempos coloniais o país era conhecido como Alto Volta, por causa de três rios principais: Volta Negro, Volta Vermelho e Volta Branco, que convergem no sul do país, no território de Gana, para formar o rio Volta.
Burkina Faso é um país mediterrâneo e compartilha fronteiras, além de Gana, com o Mali, a Costa do Marfim, Togo, Benim e Níger.
A população se divide em dois grandes grupos étnicos, os voltaicos que, por sua vez estão integrados pelos mossi, cuja língua é falada pela maioria dos habitantes, e é o grupo mais numeroso, juntamente com os gruashis ou krurunsi, os bobo e os lobi.
O outro grande grupo é o mande, de que fazem parte os samo, marka, busansi, senufo, dyola ou dioula. Sua língua é utilizada no comércio local. Outros pequenos grupos são os hausa, fulani, tuareg e bella.
Sobre sua história
As primeiras notícias do país remontam aos séculos XI e XIII, quando os mossi estabeleceram-se definitivamente no território e consolidaram sua organização social. Este povo que, segundo se acredita, veio do leste do atual Níger, constituiu distintos estados que se destacaram por sua poderosa organização política, social e militar.
No século XV os navegantes portugueses foram os primeiros europeus a chegar à região. Talvez devido a serem mediterrâneos, distantes das costas ocidentais, não há menção à presença lusitana no país.
Na época, os portugueses estabeleceram um comércio de intercâmbio com a população nativa, assentada nas áreas costeiras das nações ribeirinhas do Golfo da Guiné, e com outros, com costas no Atlântico. Naquele século Portugal iniciou o tráfico de escravos para sua colônia do Brasil, onde os lusitanos chegaram naquele mesmo período.
Os franceses
No século XIX a França transformara-se em uma das potências coloniais mais importantes na África. A extensão dos territórios conquistados só era comparável à da Grã Bretanha, sua grande rival na rapina e no saque do continente.
Esses impérios coloniais caracterizaram-se por seu desprezo em relação à população nativa, que era brutalmente reprimida por qualquer protesto provocados pelos abusos de que era vítima. Nesses atos de crueldade a França não se diferenciava dos demais europeus.
Quando, no final do século XIX, ocorreu a conquista militar da África Ocidental pela França, o colonialismo galo chegava a uma etapa de máxima expansão. Os territórios ocupados estendiam-se a leste e ao arquipélago do Oceano Índico.
No que muito mais tarde seria Burkina Faso, os dois reinos mais importantes que ocupavam o território eram o império mossi, governado pelo Mouro Noba de Ouagadougou, e o reino de Yatenga.
Em 1895, uma missão militar francesa estabeleceu um protetorado sobre o reino de Yatenga. Ante a resistência oferecida pelo Mouro Naba, as forças francesas efetuaram uma ofensiva que culminou com o estabelecimento do protetorado de Oeuagadougou, em 1896.
O protetorado foi uma figura administrativa jurídica implantada para legitimar o saque e a exploração. Foi amplamente utilizado pela França e pela Grã Bretanha.
Em 1904 foi proclamada oficialmente a África Ocidental Francesa, composta, inicialmente, por cinco países, entre eles o Alto Senegal, do qual em 1919 foi separado o território voltaico e proclamada a colônia do Alto Volta, como parte da África Ocidental Francesa. O resto do território do Alto Senegal passou a chamar-se Sudão Francês (hoje Mali). Durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), esses povos, incluindo os voltaicos, sofreram o chamado “esforço de guerra”, imposto pela França e que se traduziu em um recrudescimento da exploração colonial. Muitos africanos da região serviram no exército francês.
A colônia do Alto Volta foi dissolvida em 1932, e seu território incluído entre as colônias de Costa do Marfim, Sudão Francês e Níger. Depois da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), em 1947, o território voltaico foi reintegrado e reapareceu a colônia do Alto Volta.
Depois do conflito universal, surgiram na África vozes que, em cada uma das nações reivindicavam a independência da tutela e do domínio colonial.
Em Burkina Faso, como nas restantes nações começou um longo período em que se intensificaram as reinvindicações independentistas, mas na metrópole multiplicaram-se as manobras dilatórias das forças mais recalcitrantes que se opunham à libertação das colônias.
Mas tais manobras estavam destinadas ao fracasso. Não era possível manter um sistema colonial como se a época não tivesse mudado, e Alto Volta tornou-se independente em 1960, passando a chamar-se Burkina Faso: terra de homens dignos.
*Prensa Latina de Havana, especial para Diálogos do Sul – Tradução de Ana Corbisier