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Caiena: Bela cidade de triste história

Revista Diálogos do Sul

Tradução:

 

Farol de Caiena
Farol de Caiena

Caiena, capital do Departamento de Ultramar da Guiana Francesa (Guyane), é uma cidade de triste história, vinculada em suas origens às lutas entre potências coloniais e à construção de presídios (1848-1951). Está localizada na costa do Oceano Atlântico e foi erguida sobre uma ilha na desembocadura do rio Cayenne e hoje ocupa mais de 23 quilômetros quadrados e uma população de aproximadamente 58.000 habitantes, embora chegue aos 100.000 se contarmos o subúrbio de Matoury onde está o aeroporto da capital Félix Eboue.

Nas últimas décadas essa cidade cresceu rapidamente por causa dos altos níveis de migração verificados da Ásia, das Antilhas (especialmente do Haiti) e do Brasil, tudo isso unido a uma elevada taxa de natalidade.
Esse salto na população se vincula economicamente à produção de açúcar de cana, rum, ouro, couro, pimenta e outras especiarias, madeiras e camarões.
Segundo os historiadores, essa região foi descoberta por Cristóvão Colombo em 1498 que a chamou de Terra de Parias; depois suas costas foram exploradas em 1500 por Vicente Yánez  Pinzón, mas os espanhóis a encontraram quente demais.
Em 1604, a França funda um assentamento que denominou de La Revardière, mas que foi destruído, pois o Tratado de Tordesilhas (7 de junho de 1495) havia repartido o Novo Mundo entre a monarquia espanhola e o reino de Portugal.

A arquitetura remte à colonização francesa. A arquitetura remete à colonização francesa.

Os franceses voltaram em 1643 e fundaram a cidade de Caiena, mas tiveram que abandoná-la tal como ocorreu com o vizinho assentamento de Kourou entre 1763 e 1765.
Atacados por nativos hostis e doenças tropicais, os colonos terminaram refugiados em três ilhas a noroeste de Caiena (Real, São José e a do Diabo, muito inóspita e rodeada por fortes correntes marítimas).
Contam os cronistas que quando os sobreviventes regressaram à metrópole contaram histórias tão terríveis que talvez tenham influído no destino de castigo dado depois a aquele distante lugar do planeta.
Devido aos conflitos entre potências coloniais da época, Caiena trocou de mãos várias vezes, sendo ocupada temporariamente por holandeses, franceses e britânicos, até que no século XVIII seria definitivamente da França.
Estabeleceram-se fazendas com o trabalho de escravos africanos que com o fim da escravidão em 1848 ficaram arruinadas porque os libertos se negaram a continuar trabalhando nelas. Trouxeram indianos, malaios e chineses, mas eles se dedicaram ao comércio.

De colônia penal a destino turístico

Nesse cenário, em 1848, decidiu-se situar em Caiena, na Ilha do Diabo, uma colônia penal e em 1852 começaram a chegar convictos acorrentados que depois eram libertados para habitar a colônia, mas eram incapazes de ganhar a vida. Com o passar dos anos os prisioneiros foram recebendo um tratamento cada vez mais brutal até que as colônias penais foram fechadas em 1951, embora tenham ficado confinados ali, até 1954, alguns presos enlouquecidos, em condições infra-humanas.
Sobre esses acontecimentos foi escrito o romance autobiográfico Papillón (1970) que é a história de Henri Charrière (1906-1973) sentenciado a prisão perpétua em 1931 por um crime que afirmava não ter cometido.

A Catedral Católica do Santo Salvador de Caiena A Catedral Católica do Santo Salvador de Caiena

Esse livro relata as tentativas de fuga e os maus tratos recebidos até em 1945,Charrière consegue finalmente escapar aproveitando precisamente uma característica das correntes marinhas da Ilha do Diabo.
Tanto Caiena como o resto da Guiana Francesa cresceram pouco economicamente  depois de 1954 e até hoje o departamento é muito dependente das importações de alimentos e combustíveis e com alto nível de desemprego.
O estabelecimento de uma base de lançamento de satélites em Kourou, em 1964, proporcionou emprego local limitado, com técnicos e especialistas importados e soldados que defendem o complexo a serviço de consórcios europeus.
A cidade foi construída com um belo estilo arquitetônico colonial francês e se destacam a Catedral Católica do Santo Salvador de Caiena (1833) e outros lugares de interesse como o Museu das Culturas, o Jardim Botânico e várias praças.
A população está composta de crioulos, ameríndios, afro-descendentes e europeus, que lhe conferem uma grande riqueza cultural evidenciada no carnaval, na música caribenha e nas esculturas de madeira elaboradas por artistas locais.
Perto de Caiena há um grande atrativo turístico: a exuberante selva tropical que inclui um parque amazônico de dois milhões de hectares e que guarda uma abundante biodiversidade de flora e fauna.
*Original da revista Orbe/PL para Diálogos do Sul
 


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

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