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ToggleA Campanha dos Pobres, a ressurreição da última campanha do reverendo Martin Luther King de 1968, convocou milhares de participantes de diversos pontos do país à sua “Assembleia e Marcha moral sobre Washington”, no último sábado (18), para promover uma mudança sistêmica para enfrentar a pobreza, o racismo, o militarismo e a emergência climática no país mais rico do mundo.
Sobre a Avenida Pensilvânia com o Capitólio ao fundo, oradores incluindo líderes religiosos, sindicalistas, ambientalistas, de movimentos sociais e imigrantes, de direitos das mulheres, entre outros, abordaram a ampla gama de lutas para resgatar comunidades pobres de seus desafios por emprego, saúde, educação, água, ar limpo e direitos fundamentais.
É ilusão pensar que só engajamento nas redes sociais pode mudar sistemas político
O reverendo William Barber, copresidente da Campanha dos Pobres, reiterou que no país aproxidamente 140 milhões – quase a metade da população – vivem na ou à beira da pobreza e disse que está sendo criado um magno movimento dos mais afetados para transformar o país com uma agenda de justiça econômica, social e ambiental. “Somos negros, indígenas, latinos, asiáticos, brancos, velhos e jovens, gays (…) Somos os rechaçados pelo neoliberalismo”.
Diante do mosaico de raças, idades, religiões, sindicatos e organizações em suas diversas camisetas e sob suas faixas e cartazes – o sindicato de serviços SEIU, Greenpeace, Veteranos [militares] Pela Paz, organizações de imigrantes de vários estados, representantes religiosos protestantes, católicos, judeus e muçulmanos – Barber declarou que “não somos uma insurreição, somos uma ressurreição” ao falar sobre a continuação das lutas anteriores e do legado do reverendo King.
“Já não nos manteremos mais em silêncio”, repetiu, e essa foi a consigna e canto do dia.
A reverenda Liz Theoharis, co-presidenta da campanha, apresentou os oradores de lutas locais ao redor do país, do Alabama ao Maine, de Illinois a Florida, Indiana, Kansas e Oklahoma, ante os que viajaram de dezenas de estados mais e ofereceram suas histórias pessoais sobre os efeitos da desigualdade econômica, o acesso à saúde, educação e outra coisas mais para os pobres, o encarceramento massivo (falou um homem que esteve encarcerado durante 23 anos por um delito que não cometeu), a violência sistêmica do racismo e das armas de fogo (falou um filho da vítima mais idosa, 86 anos, do tiroteio massivo em Buffalo no mês passado por um supremacista branco).
![Presente em 45 dos 50 estados, mobilização já conta com mais de 250 organizações aliadas contra racismo, pobreza, militarismo e mudança climática](https://dialogosdosul.operamundi.uol.com.br/wp-content/uploads/2023/10/47fbf749-9ea1-4d3f-b8d6-628d171c3ac1.png)
Hora do Povo
“Milhares participam na marcha sobre Washington da Campanha dos Pobres”.
Velhas e novas canções sintonizando as antigas lutas
Um coral e um conjunto gospel ofereceram velhas e novas canções sintonizando as antigas lutas de direitos civis com expressões contemporâneas ao longo da assembleia popular.
A campanha afirma que “qualquer nação que ignore quase a metade de seus cidadãos está em uma crise moral, econômica e política (…) Desde março de 2020, enquanto centenas de milhares de pessoas faleceram, milhões estão à beira da fome e de ser expulsos de suas casas, e ainda sem seguro de saúde ou salários dignos, a riqueza dos multimilionários cresceu 2 trilhões de dólares”.
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Em sua convocatória, a Campanha sublinha que esta assembleia tem o objetivo de ser uma “declaração de poder dos pobres e de trabalhadores de baixa renda e nossos aliados morais para declarar que este sistema nos está matando a todos e não podemos, nos recusamos a manter-nos em silêncio”.
Victor Alvarez, do Comité Popular de Asheville para a Justiça Social, parte de uma coalizão “O Coletivo” de organizações de imigrantes na Carolina do Norte, comentou ao La Jornada que ele e seus companheiros participam nestas lutas pelos direitos humanos nos Estados Unidos e por uma reforma migratória.
O originário do estado do México que migrou há 20 anos diz que a luta na Carolina do Norte implica confrontar o racismo e a onda anti-imigrante, e que “viemos trabalhar neste país, aportamos o nosso, durante a pandemia arriscamos a vida para manter funcionando este país”. Afirmou que não cederão até conseguir uma reforma, e com isso, apoiar outras lutas por justiça social em ambos os lados da fronteira.
O filósofo e intelectual público Cornel West declarou ante os manifestantes que os afro-estadunidenses que padeceram “400 anos de ódio, respondem uma e outra vez com oferecimentos de amor” em lutas como esta. Insistiu em que a meta é desafiar tanto “os republicanos neofascistas como os democratas neoliberais mornos” para conseguir uma transformação aqui “e estar em solidariedade com lutas na África, Ásia e América Latina (…) Temos que viver estando dentro do Império, mas não formar parte dele”.
“Terceira Reconstrução”
A campanha está promovendo a iniciativa chamada de “Terceira Reconstrução” – em referência à transformação da Primeira Reconstrução depois de Guerra Civil e a Segunda Reconstrução da luta pelos direitos civis do século passado – a qual formula uma série de políticas públicas por pôr fim à pobreza por meio do enfrentamento do racismo sistêmico, a desigualdade, o militarismo e uma crise climática cujas maiores consequências são padecidas pelos mais pobres e vulneráveis dentro e fora deste país.
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A Campanha dos Pobres, com a presença organizativa em 45 dos 50 estados, foi lançada como a continuação do trabalho de King, em 2018, e agora conta com uma rede de mais de 250 organizações aliadas, as quais apoiaram e/ou participaram nesta assembleia, incluindo a central operária AFL-CIO, o movimento ambiental Sunrise, o Conselho Nacional de Igrejas, o Círculo Islâmico da América do Norte, a Planned Parenthood, vários sindicatos nacionais – incluindo SEIU, AFT (professores) UE, UFCW e AFSCME – Friends Committee on National Legislation, Greenpeace, entre outros. [www.poorpeoplescampaign.org].
David Brooks, correspondente de La Jornada em Nova York.
Tradução de Beatriz Cannabrava.
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