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ToggleCom o assassinato do indigenista brasileiro Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, ficamos sabendo que aventureiros de todo tipo, acompanhados de missionários, estão iniciando a matança de povos indígenas ainda isolados.
Isso ocorreu em junho de 2022, na tríplice fronteira entre Peru, Colômbia e Brasil. O fato é: isso começou em 1500 e nada mudou. É o Estado assassino o único responsável.
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Nada mudou tampouco na outra tríplice fronteira, entre Argentina, Brasil e Paraguai, à qual se soma a Bolívia, onde estão sendo massacradas, dizimadas as múltiplas etnias do tronco tupi-guarani.
De 1500 a 1900, foram milhões os mortos só desses povos que habitavam o que compreende hoje os estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, o Chaco Argentino, o Paraguai e a parte oriental da Bolívia.
TT Catalão (in memorium)
Desde 1500 nunca cessaram os assassinatos dos povos originários
Ditadura militar
Relatório da Comissão da Verdade mostra que pelo menos 8.300 indígenas foram mortos entre 1946 e 1988, a maioria durante o governo dos militares de 1964/85, e quase dizimaram o povo Waimiri Atroari, matando, em média, 395 por ano. Num único massacre, em 1960, conhecido como Massacre do Paralelo 11, em Rondônia, foram assassinados 3.500 Cinta Largas a mando de fazendeiros. Mudou algo com a democratização? Não!
Não mudou porque a transição foi mediada pelos próprios militares, seguiram com seus planos mirabolantes de ocupação da Amazônia, ignorando que ela já é ocupada há milhares de anos, seja pelos povos originários, seja pela fauna e flora, a grande riqueza oculta.
Mato Grosso concentra a maior concentração de população indígena, pouco mais de 140 mil, segundo o IBGE. A maior parte, 285 mil, espalhadas pelo Amazonas, 284 mil, e Pará, 105 mil.
Entre 2009 e 2019, 2.074 foram mortos, média de 207 por ano. Somente em 2019 foram 277, segundo nota do G1 da Globo. Isso numa população de pouco mais de um milhão de pessoas (1.133.106, segundo Censo de 2010). Isso percentualmente é uma barbaridade.
Desde o início, o governo militar investiu para liquidar com a Sesai, que cuida da saúde indígena. Isso apesar da pandemia da Covid 19 que, em março de 2021 já tinha liquidado com 600. Como nem metade da população foi vacinada, em junho deste ano, os mortos já eram 1.311, em 162 povos afetados.
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Necropolítica
A matança nunca parou. É subproduto de toda a expansão da fronteira agrícola. De 1900 a 2000, quantos mais foram mortos? De 2000 a 2010, contabilizados foram 253 e em 2021, já eram 539. Em 2011, o cacique Nísio Gomes foi executado, a tiros, por uma empresa de segurança contratada por fazendeiros.
Esses números são os que o Estado admite. Por quanto se teria que multiplicar esse número para se ter a verdade? E os mortos por desnutrição, por doenças e por pesticidas, quantos são? Tampouco estão contabilizados os mortos por suicídio. É o desespero da perda da identidade, de não ver futuro para si e seus descendentes que leva o indígena ao suicídio.
Na sexta-feira, 24 de junho, foram mortos dois jovens Guarani Kaiowá e ao menos 15 ficaram feridos no município de Amambai em mais uma chacina perpetrada pelo Estado assassino. O massacre foi realizado por policiais militares de Mato Grosso do Sul, porém, essa força que deveria ser polícia civil, está militarizada e subordinada ao comando das Forças Armadas.
A PM entrou batendo e atirando a pedido de fazendeiros, sem mandado judicial, após os Guarani Kaiowá ocuparem uma área da Fazenda Borda da Mata, vizinha da Terra Indígena Amambai.
O imóvel, de 269 hectares, pertence à empresa VT Brasil Administração e Participação, controlada por Waldir Cândido Torelli e seus três filhos: Waldir Júnior, Rodrigo e um adolescente, com menos de 18 anos. Torelli tem várias fazendas no município, fundou frigorífico no Paraguai e já foi autuado por desmatamento e extração ilegal de madeira.
Provavelmente se trate de mais um caso de grilagem de terra. Grileiros e PMs mancomunados com a anuência do Planalto, do governo de ocupação, chefe supremo do Estado Assassino. O Estado é fascista porque é assassino.
Paulo Cannabrava Filho, jornalista latino-americano e editor da Diálogos do Sul.
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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