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Cannabrava | Brasil no novo no mapa da fome com 1,5 milhão a mais

Não bastam medidas isoladas ou políticas públicas inclusivas, é preciso que sociedade como um todo encare a tarefa de superar a miséria e a extrema miséria
Paulo Cannabrava Filho
Diálogos do Sul Global
São Paulo (SP)

Tradução:

Mais de 21 milhões de brasileiros não têm o que comer todos os dias e 70,3 milhões de pessoas estão em situação de insegurança alimentar, o dado embute 10 milhões de desnutridos. É o Brasil de novo no Mapa da Fome das Nações Unidas.

Informe da ONU referente a 2022 dá conta de que 735 milhões estão passando fome no mundo e 2,3 bilhões em situação de insegurança alimentar. É uma cifra aterradora. Maravilhas do capitalismo em sua fase de hegemonia do capital financeiro. 

Capitalismo mata, é o que se pode deduzir desses dados. Como superar?

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É preciso na África um novo movimento de descolonização, por onde mais grave é a fome é precisamente no continente africano nas regiões em que prevalece a dependência colonial. 

No Brasil houve um incremento de 1,5 milhão de pessoas passando fome por conta dos seis anos de desgoverno, governos oriundos de golpe de estado ou de fraude eleitoral. O governo ilegítimo de Michel Temer e o governo dos militares com Bolsonaro na cabeça. Anos de auge do neoliberalismo em que vigorou o pensamento único imposto pelo capital financeiro.

Não bastam políticas públicas. É preciso pensar em novos paradigmas, em um projeto de nação com desenvolvimento e inclusão social, livre das amarras do capital financeiro, livre da dependência e, pior, da submissão ao imperialismo.

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O informe sobre a fome foi divulgado simultaneamente por cinco entidades das Nações Unidas, o Fundo para Agricultura e Alimentação (FAO), o Fundo Internacional do Desenvolvimento Agrícola, o Fundo da ONU para Infância (Unicef), a Organização Mundial da Saúde e o Programa Mundial de Alimentos.

No Brasil são 4% da população; a população de um país com fome. Isso tem que doer na pele de cada um dos políticos brasileiros. É vergonhoso dormir com uma realidade como essa. 

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu em campanha tirar o Brasil do mapa da fome. Nos seis primeiros meses, acuado por um parlamento de direita, apela a todos os ministros para que integrados com estados e municípios trabalhem para reduzir a pobreza e a extrema pobreza.

Não bastam medidas isoladas ou políticas públicas inclusivas, é preciso que sociedade como um todo encare a tarefa de superar a miséria e a extrema miséria

Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Somente com índices de crescimento robustos, bem acima de 10%, vamos recuperar o atraso de quatro décadas perdidas

De fato não bastam medidas isoladas e nem mesmo políticas públicas inclusivas como a de Fome Zero e da Bolsa Família. É preciso que a sociedade como um todo encare a tarefa de superar a miséria e a extrema miséria.

Bolsa Família que já deu certo no passado, renasce revigorado, como novo governo, para atender 43,5 milhões de pessoas, começa a deslanchar. Iniciado em 1º de março, está pagando R$ 600 por família, R$ 150 por criança de até 6 anos e R$ 50 para jovens acima de 7 e até 18 anos.

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Para ter direito tem que estar atualizado no Cadastro Único e classificado na condição de pobreza ou pobreza extrema. Ademais, há condicionantes: manter as crianças e adolescentes na escola, fazer o acompanhamento pré-natal (gestantes), e a carteira de vacinação atualizada. 

Os pagamentos de julho começam dia 18 e terminam em 31, atingem 21,9 milhões de famílias com valor médio de R$ 705,40 e representaram em junho investimento de R$14,1 bilhões, significativo estímulo à economia. A maioria das famílias (10,14 milhões) são monoparentais, só com mulheres e seus filhos.

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Maior concentração nos nove estados do Nordeste, com mais de 9,74 milhões de famílias, benefícios médios de R$ 696,76 e R$ 6,78 bilhões de investimento; seguido do Sudeste e seus 1.668 municípios e 4 estados, com 6,32 milhões de famílias, benefício médio de R$ 700,26 e investimento de R$ 4,42 bilhões; Norte com sete estados e 2,58 milhões de famílias, benefício médio de R$ 740,37 e investimento de R$ 1,9 bilhão; Sul com 1.191 municípios, 1,43 milhão de famílias e valor médio do benefício em R$ 711,28; Centro Oeste, com 1,13 milhão de famílias, benefício médio de R$ 721,16, investimento de R$ 814,82

São Paulo é o estado com maior número de famílias assistidas, com 2,575 milhões, com repasses superiores a R$ 1,82 bilhão e benefício médio de R$ 707,27. Na sequência aparece a Bahia, com 2,569 milhões de famílias contempladas, resultado de um investimento superior a R$ 1,76 bilhão. Elas recebem um benefício médio de R$ 688,78. Apenas São Paulo e Bahia têm mais de dois milhões de famílias contempladas em todo o país.

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Outros seis estados reúnem mais de um milhão de famílias beneficiárias em junho: Rio de Janeiro (1,82 milhão), Pernambuco (1,67 milhão), Minas Gerais (1,61 milhão), Ceará (1,49 milhão), Pará (1,35 milhão) e Maranhão (1,23 milhão). (Ver: https://www.gov.br/pt-br/noticias/assistencia-social/2023/06/bolsa-familia-de-junho-tem-maior-valor-medio-da-historia-r-705-40)

São dados positivos, mas é pouco. Como foi dito, é preciso que toda sociedade se envolva no esforço por superar a miséria e extrema miséria, a fome, o desemprego e o desalento. Somente com índices de crescimento robustos, bem acima de 10%, vamos recuperar o atraso de quatro décadas perdidas.

Paulo Cannabrava Filho, jornalista editor da Diálogos do Sul e escritor.
É autor de uma vintena de livros em vários idiomas, destacamos as seguintes produções:
• A Nova Roma – Como os Estados Unidos se transformam numa Washington Imperial através da exploração da fé religiosa – Appris Editora
Resistência e Anistia – A História contada por seus protagonistas – Alameda Editorial
• Governabilidade Impossível – Reflexões sobre a partidocracia brasileira – Alameda Editora
No Olho do Furacão, América Latina nos anos 1960-70 – Cortez Editora

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Paulo Cannabrava Filho Iniciou a carreira como repórter no jornal O Tempo, em 1957. Quatro anos depois, integrou a primeira equipe de correspondentes da Agência Prensa Latina. Hoje dirige a revista eletrônica Diálogos do Sul, inspirada no projeto Cadernos do Terceiro Mundo.

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