O que leva as pessoas a votarem num tipo desqualificado como Pablo Marçal? É a pergunta que fica diante do resultado da eleição municipal em São Paulo. O cara teve muito voto, não venceu por pouco. Essa é a realidade. Longe de ter sido derrotado, consagrou uma vitória, mesmo sem ter sido eleito.
Tem que ser encarado como realmente é: uma ameaça, uma advertência. Advertência de que algo está errado não só na política paulistana, mas na política. Não dá pra respirar aliviado quando se verifica a diferença mínima no placar entre os três candidatos mais votados:
- Ricardo Nunes, MDB 29,48% 1.801.139
- Guilherme Boulos, Psol 29,07% 1.776.127
- Pablo Marçal, PRTB 28,14% 1.719.274
Constatar que mais da metade votou pela direita, ou lá o que seja esse Marçal, e só menos de um terço na esquerda, é nada alvissareiro. É trágico constatar que foi assim nos mais de 5 mil municípios.
Marçal, como um delinquente, foi votar de calção e descalço, esculachando com a solenidade do voto, e foi comemorar com um trio-elétrico na Avenida Paulista. Tinha tudo pra comemorar. 2026 está a poucas semanas, disse claramente que estará na disputa presidencial. Como Bolsonaro está inelegível, vai ocupar o lugar dele na disputa, a não ser que o tornem inelegível. Razões não faltam.
É o negativismo radical agredindo a democracia. Foi a mais violenta de quantas eu tenho memória. Teve até cadeirada, de Datena no desafeto Marçal, total falta de decoro de ambos e não foram punidos, disputaram o pleito como se nada disso tivesse acontecido.
Marçal cometeu crime de falsificação de documento. Falsificou a assinatura de um médico já morto em um falso laudo de uma clínica psiquiátrica dizendo ter tido Boulos como paciente por overdose de cocaína. A família do médico processou o infrator, mas não na Justiça Eleitoral. Se abrem processo, ele pode se tornar inelegível. Espera-se que o Ministério Público o faça.
Em suma, é a barbárie política que se impõe com a “vitória” de um desqualificado e de outro apoiado pelo inominável inelegível. Nunes fez uma péssima gestão, abandonou a cidade, mas soube utilizar o tempo maior de propaganda e a máquina pública para se reeleger. Também contou com o apoio do governador.
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Tabata, teve quase 10% (9,91) e declarou que votará em Boulos, mas não comporá com ele porque sabe que os votos que teve foram votos contra o PT e contra o Psol.
Dizem que o 2º turno é outra eleição. Pode ser, mas as tendências estão claramente definidas e só um milagre poderia salvar Boulos. Nunes tem a máquina da Prefeitura e do Estado, posto que o bolsonarista, capitão Tarcísio, entrará com tudo na campanha. E o clã Bolsonaro também se empenhará para derrotar o Psol/PT porque estará derrotando Lula e é isso que importa.
Em 11 capitais os prefeitos foram eleitos no 1º turno, sendo que em 10 foram reeleitos.
No 1º turno:
- Teresina, do União Brasil.
Reeleitos: - Rio Branco, PL;
- Boa Vista, MDB;
- Macapá, MDB;
- Salvador, União Brasil;
- São Luís, PSD;
- Recife, PSD;
- Maceió, PL;
- Florianópolis, PSD;
- Vitória, Republicanos;
- Rio de Janeiro, PSD.
Haverá 2º turno em 15 capitais, sendo que o PL disputará em 9, PT em 4, União Brasil em 4, MDB em 3, Podemos em 2, PP em 2, PSD em 2, Avante, PMB e Psol, 1 cada.
- Belém MDB x PL
- Manaus Avante x PL
- Palmas Pode x PL
- Porto Velho União x Pode
- Aracaju Pode x PL
- Fortaleza PT x PL
- João Pessoa PP x PL
- Natal União x PT
- Campo Grd PP x União
- Cuiabá PT x PL
- Goiânia União x PL
- B. Horizonte PSD x PL
- São Paulo MDB x Psol
- Curitiba PSD x PMB
- Pt Alegre MDB x PT
A campanha eleitoral custou R$ 4,9 bilhões do fundo eleitoral, fora a fortuna pessoal de muitos dos candidatos, alguns com fortuna maior que o orçamento do município. Como não dizer que houve abuso de poder econômico?
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Quem arrasou foi Eduardo Paes, PSD, 60,47%, que venceu com apoio de Lula na capital do bolsonarismo, enquanto o candidato do PL, Alexandre Ramagem, ficou com 30,81%. João Campos, no Recife, e Bruno Reis, em Salvador, arrasaram também com quase 80% dos votos: 78,11% e 78,67, respectivamente. João Campos é bisneto de Miguel Arraes, filho de Eduardo Campos, morto em um acidente de aviação.
- PSD 870
- MDB 843
- PP 741
- União 577
- PL 509
- Rep 428
- PSB 309
- PSDB 268
- PT 248
- PDT 148
- Avante 135
- Pode 121
- PRC 75
- SD 62
- Cid 33
- PcdoB 19
- Mobiliza 20
- Novo 18
- PV 14
- Rede 4
- Agir 3
- DC 2
- PMB 2
- PRTB 1
Quem conquistou o maior número de prefeituras foi o PSD, com 870, sendo 201 em São Paulo, cacifando Gilberto Kassab para voos mais altos dentro do governo de São Paulo e no governo federal. Cacifado também para disputar a presidência em 2026 ou ter um lugar de vice. É o homem forte no governo do capitão Tarcísio de Freitas e seu partido elegeu 195 prefeitos no estado.
O presidente Lula votou em seu domicílio, São Bernardo do Campo, reduto tradicional do PT, cuja prefeitura está sendo disputada pelo Podemos e o Cidadania.
Nos 39 municípios da Grande São Paulo, 11 foram reeleitos, o PL elegeu 7, Podemos 6, PSD/MDB 5, Republicanos 3, União Brasil, Solidariedade, PSDB, PSB, PP, PDT, 1 cada. Haverá 2º turno em Barueri, Diadema, Guarulhos, Mauá, São Bernardo do Campo, São Paulo e Taboão da Serra.
No interior vigora o coronelismo, tradicionalmente, oligarcas mandam e desmandam nas cidades por cima dos partidos. Dos 645 municípios de São Paulo, o PL fez 101, Republicanos 80, MDB 63, PP 47, União Brasil 33, Podemos 28, PSDB 21, PSB 9, Cidadania 5, PDT 4, Solidariedade 4, PT 3, Novo 3, PRD 3, Avante 3, Mobiliza 1.
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Espera-se que as campanhas no 2º turno sejam mais propositivas. Em São Paulo, resta para Boulos tentar arrebanhar votos entre os 27,34%, em torno de 1 milhão de eleitores que se abstiveram. Tem que apelar para uma frente ampla em defesa da democracia.
Dizer que o Centrão é quem teve mais votos é eufemismo para esconder a realidade de um Brasil totalmente manejado pela direita mais retrograda da história. Há que se trabalhar muito para que esse rolo compressor não nos esmague nas eleições gerais de 2026.
Paulo Cannabrava Filho é autor de uma vintena de livros em vários idiomas, destacamos as seguintes produções:
- A Nova Roma – Como os Estados Unidos se transformam numa Washington Imperial através da exploração da fé religiosa – Appris Editora
- Resistência e Anistia – A História contada por seus protagonistas – Alameda Editorial
- Governabilidade Impossível – Reflexões sobre a partidocracia brasileira – Alameda Editora
- No Olho do Furacão, América Latina nos anos 1960-70 – Cortez Editora