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Cannabrava | Maior parte dos brasileiros é analfabeta funcional. E nós com isso?

Projeto de emburrecimento da população tem como objetivo impedir que as pessoas compreendam a realidade; era ruim antes da pandemia, ficou pior
Paulo Cannabrava Filho
Diálogos do Sul Global
São Paulo (SP)

Tradução:

De acordo com a mídia hegemônica, a pandemia de Covid-19 afetou negativamente o nível educacional da população. É uma meia verdade. A pandemia apenas agravou uma situação educacional que já era péssima. A questão da educação de má qualidade e excludente é histórica no Brasil. 

Como constatou o mestre educador Darcy Ribeiro, a má educação é um projeto que é necessário para manter a exclusão social, o não entendimento sobre e impedir que as pessoas entendam a realidade que pode e precisa e pode ser alterada.

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Com as quarentenas, e o fechamento das escolas necessário, que eram necessários para evitar a contaminação pelo vírus, jovens, que numa situação normal sairiam da escola analfabetos funcionais, agora saem analfabetos e “ananúmero”, ou seja, incapazes de realizar operações matemáticas básicas. É o que mostram pesquisas.


País com 70% de analfabetos

Os jornais publicaram, recentemente, a Avaliação Internacional Pirls (Progress in International Reading Litera Study), que mede a capacidade de leitura das crianças. Ela avaliou estudantes de 43 países. O Brasil aparece na 39ª posição, à frente apenas de Jordânia, Egito e África do Sul. A medição aconteceu no Brasil no fim de 2021, durante a pandemia.

Participaram da avaliação 4.941 estudantes da 4ª série do ensino fundamental de 187 escolas públicas e privadas de todas as regiões. Na 4ª série, o aluno já deveria saber ler e estar pronto para compreender textos mais complexos. Os dados revelaram ainda que apenas 13% dos brasileirinhos dominam o idioma, enquanto 38% sequer dominavam habilidades mínimas de leitura.

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Outra pesquisa, realizada em abril de 2021 e reportada pela TV Cultura, usando dados do Tribunal de Contas da União, constatou que um em cada dez alunos do 9º ano do ensino fundamental corria o risco de abandonar a escola e não estavam participando das atividades online durante a quarentena. Não houve recuperação para esses alunos, ou seja, uma juventude sem preparo para enfrentar a vida em suas mínimas exigências de conhecimento.

A educação é um direito que deve ser acessível a todos. Um jovem despreparado não será feliz, pois será discriminado no mercado de trabalho e na vida social.

Outro estudo, este realizado por Juliana Ferro e Ana Cristina Prado de Oliveira, publicado no site Educação Pública em janeiro de 2021, analisou os resultados do Brasil e constatou que apenas 30% dos alunos do 9º ano apresentam as competências necessárias em português e 14% em matemática.

Leia também: Educação arrasada em todos os sentidos: há que recorrer aos mestres para as soluções

Isso comprova que 70% da população é analfabeta funcional e que a falta de habilidades em matemática é ainda pior em algumas regiões, chegando a 96%.

A democracia, o desenvolvimento e a soberania são construídos por meio de pessoas qualificadas. Não basta a formação de quadros nos partidos e organizações sociais. É preciso engajar toda a sociedade na superação do atraso da educação de nossa juventude. Nas fábricas, escritórios e repartições, é necessário organizar grupos de estudo para ajudar as pessoas a reaprender a ler e a compreender a realidade brasileira. A independência e a soberania não são ensinadas na escola. É um conceito que deve ser trabalhado para alcançarmos a libertação nacional.

Paulo Cannabrava Filho, jornalista editor da Diálogos do Sul e escritor.
É autor de uma vintena de livros em vários idiomas, destacamos as seguintes produções:
• A Nova Roma – Como os Estados Unidos se transformam numa Washington Imperial através da exploração da fé religiosa – Appris Editora
Resistência e Anistia – A História contada por seus protagonistas – Alameda Editorial
• Governabilidade Impossível – Reflexões sobre a partidocracia brasileira – Alameda Editora
No Olho do Furacão, América Latina nos anos 1960-70 – Cortez Editora

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Paulo Cannabrava Filho Iniciou a carreira como repórter no jornal O Tempo, em 1957. Quatro anos depois, integrou a primeira equipe de correspondentes da Agência Prensa Latina. Hoje dirige a revista eletrônica Diálogos do Sul, inspirada no projeto Cadernos do Terceiro Mundo.

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