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Cannabrava | Sob governo militar, Brasil vira grande cemitério e banaliza genocídio negro

Só vítimas da covid seguem morrendo mais de 200 pessoas por dia. No Rio, chacinas policiais são banalizadas e vítimas só aumentam
Paulo Cannabrava Filho
Diálogos do Sul Global
São Paulo (SP)

Tradução:

Uma nova chacina, dia 21, tirou a vida de ao menos 20 pessoas, desta vez no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Em maio, foram 25 na Vila Cruzeiro, menos que os 28 assassinados em maio de 2021, no Jacarezinho. Que importância isso tem? Em São Paulo, só no primeiro semestre deste ano, 133 foram mortos pela violência do Estado… Em 2019, foram 397 no mesmo período. Isso não sensibiliza a classe média, não é notícia.

Estão morrendo 200 pessoas por dia vítimas da covid-19 e ninguém se importa, sequer é noticiado. Cadê a CPI da Covid? Vai em pizza. Os senadores indicaram nove crimes imputados a Bolsonaro e 67 indiciamentos. E daí? A Procuradoria Geral da República acaba de pedir o arquivamento da CPI. Seguramente vai acontecer, pois ninguém reage. 

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No Complexo do Alemão, o que houve foi uma operação de guerra. Dez blindados, quatro helicópteros, 400 militares com armas de guerra do Batalhão de Operações Especiais (Bope). Um dos atacantes morreu. Seria fogo amigo? Como duvidar que entraram para matar?

Isso acontece porque o Estado Assassino levou à marginalidade metade da população brasileira. Pesquisa recente mostra que 63% dos moradores das favelas estão na informalidade e 41% fazem bico, ou seja, são contapropistas, trabalham por conta-própria, como dizem os cubanos. Isso por falta absoluta de oportunidades no mercado formal de trabalho. 

Isso acontece porque a taxa de desemprego na faixa etária de 18 a 24 anos é de 22,8%, o dobro dos 11% da média nacional. O que fazer? São milhões de jovens no melhor de suas vidas relegados à marginalidade. Essa verificação de faixa etária nos traz outro problema, não menos dramático: a expectativa de vida, que era de 45,5 anos, passou para 76,8, e tem muita gente com 80 anos ou mais, a maioria no desamparo.

Isso se resolveria com políticas públicas de retomada de atividades produtivas. Mas o governo de ocupação dos militares anda em sentido contrário. 

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Covid e o genocídio

A covid-19 está matando 200 pessoas por dia, seis mil por mês, nesse ritmo chegaremos a 72 mil no ano. Para o Estado assassino, essas mortes reduzem os gastos com a Previdência. Devem estar contentes porque continuam na desmontagem do SUS. O orçamento de 147 bilhões em 2019 baixou para 136 bilhões em 2021, redução de 10,7 bilhões em três anos; fechou em 140 bilhões em 2022 nesses dois anos de auge da pandemia. Para 2023, estão previstos 148,9 bilhões.

A partir da Emenda do Teto do Gasto, em 2018, promulgada pelo ilegítimo Michel Temer (MDB), o governo reduziu em 37 bilhões os recursos para o SUS, resultando numa queda no atendimento ambulatorial, de 2019 para 2020, em plena pandemia, de 26%. É o que mostra reportagem do Jornal da USP, com dados coletados pelo professor Áquilas Mendes, de Economia Política da Saúde do Departamento de Política, Gestão e Saúde da Faculdade de Saúde Pública da USP (FSP), em 30 de maio. 

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Falta de planejamento reduziu o repasse de recursos para estados e municípios, uma perda de 16 bilhões no período. Claro que favoreceu as operadoras privadas de saúde, que atingiram 49 milhões de usuários. Saúde, um direito básico, transformada em commodity, aumentou em 10 bilhões a receita dos planos.

Planos de saúde constituem uma roubada. Roubam nas duas pontas: dos usuários cobrando absurdos e dos médicos e prestadores de serviço pagando abaixo da tabela e não cobrindo despesas essenciais. Merece um estudo acurado.

Está na rabeira dos gastos em saúde em relação ao PIB, 3,8%, segundo a Organização Panamericana de Saúde, deveria ser no mínimo 6 para atender o SUS. A Colômbia gasta 6%, Alemanha e Japão mais de 9%. Está errado considerar a saúde como gasto, posto que se trata, como na educação, de investimento.

Paulo Cannabrava Filho, jornalista latino-americano e editor da Diálogos do Sul.

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Paulo Cannabrava Filho Iniciou a carreira como repórter no jornal O Tempo, em 1957. Quatro anos depois, integrou a primeira equipe de correspondentes da Agência Prensa Latina. Hoje dirige a revista eletrônica Diálogos do Sul, inspirada no projeto Cadernos do Terceiro Mundo.

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