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Caso das testemunhas manipuladas na Argentina mostra "lawfare" contra Cristina Kirchner

A atuação dos agentes da Justiça argentina relatada em reportagem mostra similitudes com as dos procuradores da Operação Lava Jato
Redação Diálogos do Sul
Carta Maior
São Paulo (SP)

Tradução:

O meio alternativo argentino El Destape trouxe neste domingo (4/8) uma reportagem da jornalista investigativa Carla Pelliza na qual ela entrevistou o empresário Mariano Martínez Rojas, preso por lavagem de dinheiro dentro do chamado “Caso da Máfia dos Containers” (que investiga um esquema de tráfico de drogas, armas e contrabando nos portos argentinos).

A entrevista com o empresário não surgiu por mera casualidade; Martínez Rojas foi um dos suspeitos que participou do programa chamado “Testemunhas Protegidas”, durante alguns meses, até que perdeu os benefícios judiciais, em condições que até então nunca haviam sido esclarecidas. Na conversa, ele conta que, após ser preso nos Estados Unidos, ele achou que “era só conseguir uma extradição para a Argentina, onde eu ofereceria uma delação e fazia um bom acordo para não ter problemas”.

O problema é que, segundo ele, os promotores que atuaram no seu caso ofereceram benefícios judiciais (como prisão domiciliar e a possibilidade de formar parte do programa de Testemunhas Protegidas somente se ele seguisse um script preparado para orientar sua declaração. “Basicamente, eles queriam que eu envolvesse a Cristina (Kirchner), e que a minha versão deixasse claro que eu a acusava de ser a chefa de todos os esquemas nos quais eu estava acusado”.

A atuação dos agentes da Justiça argentina relatada na reportagem mostra similitudes com as dos procuradores da Operação Lava Jato, se comparado com as recentes revelações da série de reportagens do The Intercept, mostrando como era exigido que se envolvesse o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas declarações para que elas fossem aceitas pelo mecanismo da delação premiada.

Segundo o empresário argentino, na negociação com os promotores, essa condição ficou bem clara desde o começo. “Eles já chegaram perguntando: `você quer ir para casa? Então tem que colaborar conosco´. Então, me passaram uma lista dos nomes que eu tinha que mencionar, incluindo alguns que eu nem conhecia, e das coisas que eu deveria confessar, e no final, precisava dizer que tudo isso, personagens e fatos, estavam todos atrelados à Cristina”.

Quando a entrevistadora perguntou quem foram as pessoas responsáveis por negociar a sua delação, o empresário indicou nomes: “meus advogados falaram com (Francisco) Lagos, que era o diretor do Programa de Testemunhas Protegidas, com (Juan) Rebollo (agente operacional do Programa) (…) e em duas oportunidades com o próprio (Germán) Garavano (ministro de Justiça)”.

A atuação dos agentes da Justiça argentina relatada em reportagem mostra similitudes com as dos procuradores da Operação Lava Jato

ALAI
Cristina Kirchner e Luís Inácio Lula da Silva

Basicamente, o que disse o empresário é que os agentes do Poder Judiciário argentino encarregados de oferecer a ele os benefícios das Testemunhas Protegidas colocaram como condição que seu testemunho envolvesse funcionários do governo kirchnerista e a própria ex-presidenta, e que em um primeiro momento ele aceitou tal condição. “Tive que fazer uma acareação com um sujeito que eu nem sabia quem era, mas que era assessor do (Guillermo) Moreno (ex-ministro de Economia). Se chamava Fabián Quiroga, eles que me disseram o nome, e orientavam: `você vai dizer que o conhece de tal lugar, que ele fazia tal operação´”, relatou.

Na entrevista, Martínez Rojas reclama que enquanto seguiu as orientações dos agentes, os responsáveis pelo programa o mantiveram preso em uma chácara com piscina, dentro do programa de Testemunhas Protegidas. “No caso do Quiroga, eu disse que não o conhecia e eles me responderam que isso não importava, porque o importante era eu declarar como haviam orientado, se não iriam cortar os benefícios”, lembrou o empresário, que também assegurou que “o programa está todo controlado por Garavano e (Patricia) Bullrich (ministra de Segurança)”.

Na última parte da entrevista, Martínez Rojas contou que “chegou um momento que eu não aguentei mais, porque as declarações que me pediam se contradiziam demais e cada vez eu tinha que admitir mais crimes que não cometi, então disse que não aceitava mais aquilo e que iria contar a minha verdade à imprensa, porque necessitava mostrar que as contradições não eram minhas. Duas horas depois, veio uma caminhonete e me levou para um presídio comum, desses sem televisão, nem rádio, mal se vê a luz do dia”. O empresário se refere ao Complexo Penitenciário Marcos Paz, onde está preso até hoje, e onde se realizou a entrevista.

O empresário também conta que está preso agora “em uma cela coletiva, junto com presos comuns, me torturam psicologicamente, às vezes não me deixam tomar os remédios para um tumor que tenho (na garganta), e se burlam disso”.

A entrevista foi a segunda entrega de uma série de reportagens que a jornalista Carla Pelliza, do El Destape, vem fazendo com empresários que estão presos por não aceitar envolver a Cristina Kirchner em seus depoimentos – ou que aceitaram em um primeiro momento, e depois mudaram sua versão, como é o caso de Mariano Martínez Rojas. A primeira matéria, publicada no dia 25 de julho, mostrou o caso de Ibar Pérez Corradi, preso por narcotráfico, que está em greve de fome: “estou vivendo em condições que não são humanas, e tudo isso porque a verdade que tenho para contar não é conveniente, e porque não aceitei dar a versão que eles querem”.

Segundo Pelliza, a história de Martínez Rojas é uma mescla entre a de Pérez Corradi e a de Leonardo Fariña – empresário que acusou Cristina Kirchner de roubar o equivalente a dois PIBs argentinos. “Enquanto seguiu o roteiro, ele teve todos os luxos que dão aos delatores, como Fariña, mas quando decidiu mudar de versão, passou automaticamente a ser perseguido e torturado, como Pérez Corradi”, explica a jornalista.

A reportagem de Carla Pelliza pode ser lida neste link: https://www.eldestapeweb.com/nota/martinez-rojas-tenia-que-decir-que-cfk-era-la-jefa-de-las-causas-que-me-arman-a-mi–20198220510. Também está em vídeo, no programa dominical do canal El Destape no YouTube, onde a jornalista aparece comentando o caso e trazendo trechos do áudio da entrevista, com o próprio Martínez Rojas contando sua versão dos fatos (a partir do instante 1h09m20s): https://youtu.be/PQ39ddHO6gY

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Original: https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Que-Justica-e-essa-/Caso-das-testemunhas-manipuladas-na-Argentina-mostra-que-lawfare-contra-Cristina-Kirchner-segue-mesmo-padrao-que-o-de-Lula/62/44882


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

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