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Caso Nicolás Petro: maioria dos partidos da Colômbia sai em defesa e apoio ao presidente

Enquanto isso, extrema direita colombiana se aproveita para pedir a destituição de Gustavo Petro, alegando que sua eleição foi ilegal
Jorge Enrique Botero
La Jornada
Bogotá

Tradução:

O filho mais velho do presidente Gustavo Petro abordará sua defesa sob a figura de “liberdade provisória” depois que um juiz de função de garantias decidiu na tarde de sexta-feira (4) não o enviar à prisão, apesar das acusações de enriquecimento ilícito e lavagem de dinheiro que pesam contra ele.

Em meio de uma grande expectativa do público, que segue o caso como se tratasse de uma telenovela, o juiz do caso tomou várias horas para expor um indecifrável palavrório jurídico antes de anunciar que não enviará Nicolás Petro à prisão, agregando assim outro ingrediente a esta trama melodramática cujo primeiro capítulo se iniciou na madrugada do dia 29 de julho quando Petro filho e sua ex-esposa, Day Vázquez, foram detidos na cidade de Barranquilla.

Nicolás Petro obteve o benefício de “liberdade condicional” depois de declarar que uma boa parte do dinheiro de origem ilícita recebido por ele e por sua ex-esposa durante o ano de 2022 foi parar na campanha eleitoral de seu pai. De acordo com fontes próximas à investigação, esta grave acusação é só o começo de uma estratégia do primogênito do presidente antes de se acolher a uma figura chamada “princípio de oportunidade” através da qual poderia inclusive livrar-se de todos as acusações contra ele.

Especialistas judiciais explicaram que isso seria possível se Nicolás Petro subministrar à Promotoria-Geral – como ofereceu – provas críveis e suficientes para demonstrar que à campanha de seu pai chegaram recursos de origem ilícita.

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A ex-esposa de Petro filho também foi deixada em liberdade, mas ambos terão restrições de mobilidade e serão proibidos de se aproximarem de outros sujeitos envolvidos no processo. O juiz foi além da solicitação da Promotoria para que o filho do presidente recebesse “prisão domiciliar”.

Enquanto isso, extrema direita colombiana se aproveita para pedir a destituição de Gustavo Petro, alegando que sua eleição foi ilegal

Reprodução/Facebook
Gustavo Petro: "O povo sempre será superior aos seus dirigentes”

Filho aflito cobra vingança?

As recentes declarações do mais velho dos seis filhos de Petro não só deram origem a um estremecimento político de grande magnitude, mas geraram uma avalanche de especulações que poderia ter Nicolás para causar danos irreparáveis à imagem e à governabilidade de seu próprio pai.

Meios locais recordaram que quando a ex-esposa de Nicolás acudiu à revista Semana para denunciar que seu ex-marido – sobre quem acabava de descobrir que estava tendo um romance com sua melhor amiga – havia recebido colossais quantias de dinheiro aproveitando sua condição de filho de Gustavo Petro, este tratou de explicar a conduta de Nicolás argumentando que não o havia criado, nem participado em seu processo de formação.

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A distância que nesse momento tomou o chefe de Estado frente ao seu filho seria – segundo alguns analistas – a origem da frieza com a que Nicolás está agindo, sabendo do dano que ocasione a seu pai.

Fontes próximas à Promotoria revelaram na quinta-feira (3) que o imputado se negou a receber o presidente Pedro no bunker da promotoria, onde está detido desde sua captura, ao mesmo tempo em que alguns meios difundiam uma mensagem de Laura Ojeda, a atual parceira de Nicolás; “valorizo muito que não repitas a história, tu sim és um excelente pai”. Ojeda está em seu nono mês de gravidez.

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Entretanto, Sofía Petro, filha do terceiro matrimônio do mandatário, escreveu nas redes que “ao presidente lhe costuma discutir muitas coisas porque creio que sempre se pode fazer melhor. Mas há duas coisas indiscutíveis que ninguém tem como ele: a honestidade de seu coração e seu amor pelos colombianos e pelas colombianas”.

Andrés, outro dos irmãos de Nicolás, o interpelou sem eufemismos: “desejo que consiga sair do buraco em que se encontra muito mais sábio e sem ressentimentos, pois diante do que fez, você é o único responsável”.

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Depois que o presidente Petro não só anunciou zero pressões ao ramo judicial, como rechaçou na noite de ontem a acusação de chegada de dinheiro quente à sua campanha, advertindo que só o povo que o elegeu poderia tirá-lo do poder, as turbulentas águas da política colombiana pareciam voltar à calma, apenas três dias antes de o chefe do Estado cumprir o primeiro ano de seu mandato.

Depois de os setores mais radicais da direita pedirem a cabeça de Petro, alegando presumida ilegalidade de sua eleição, a maioria dos partidos políticos fechou com o presidente.

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Este apoio foi encabeçado pelo ex-presidente César Gaviria, poderoso chefe do Partido Liberal, que madrugou para dizer que “estamos obrigados a lutar para que o presidente Gustavo Petro termine seu período”.

Enquanto avança o truculento caso judicial do filho do presidente, outra investigação começará na Comissão de Acusações da Câmara de Representantes, juiz constitucional do Presidente da República – onde, segundo anunciaram parlamentares da oposição – se radicará uma denúncia pelo suposto ingresso irregular de dinheiro à campanha eleitoral de Petro.

Mais informações sobre o caso

Nicolás Petro foi premiado na quinta-feira (3) pela Promotoria-Geral com uma solicitação para que fosse outorgada para ele prisão domiciliar, depois de declarar que o dinheiro de origem ilícita que arrecadou em 2022 foram parar na companha eleitoral de seu pai, o hoje Presidente da Colômbia, Gustavo Petro. 

No momento de sua prisão, em 29 de julho, o primogênito do presidente foi acusado de enriquecimento ilícito e lavagem de dinheiro, mas na quinta-feira decidiu, de surpresa, “ligar o ventilador” assegurando que somente ficou com uma parte do dinheiro aportado por reconhecidos mafiosos. O resto – segundo disse em audiência em que foi acusado – terminou nos cofres da campanha presidencial. 

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Este brutal giro na trama novelesca, que serve de pano de fundo à captura de Nicolás Petro, desatou um vendaval político no meio do qual a oposição pediu cabeças e apelou à comissão de acusações da câmara dos representantes, juiz constitucional do presidente, que abra uma investigação contra o chefe de Estado pelo suposto financiamento irregular da campanha que o converteu no único presidente de esquerda na história do país. 

O fio condutor deste enredado novelo se remonta à tranquila época de 2022 em que Nicolás Petro e Day Vázquez viviam uma romântica relação sentimental na qual ela não só recebia amor, mas administrava as colossais quantidades de dinheiro que recebia seu esposo, investida depois em mansões, carros de luxo e uma vida desmesurada de luxos e gastos suntuários.

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No entanto, aquele amor cômodo e apaixonado foi interrompido pela entrada em cena da melhor amiga de Day, Laura Ojeda, de quem o próspero Nicolás se enamorou perdidamente, deixando um rastro de raiva e despeito que foi convertido em um par de meses depois, na capa da revista Semana, onde a ofendida deu rédea solta à sua sede de vingança.

Com tom aflito e invocando a importância da verdade, Day Vázquez usou o meio mais hostil ao presidente Petro para revelar que seu infiel ex-marido recebeu montanhas de dinheiro de duvidosa origem, advertindo – isso sim – que tudo se fez às costas de seu ex-sogro. 

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O relato de Day Vázquez passou da redação da revista aos escritórios do “bunker” da Promotoria-Geral, que em um par de meses reuniu as provas que hoje têm a Petro filho e sua ex-esposa no mesmo banco dos acusados. 

Depois da declaração do mais velho dos seis filhos do presidente Petro, porta-vozes da oposição como a senadora Maria Fernanda Cabal exigiram a renúncia do primeiro mandatário, dizendo que “não é legítimo seu exercício do poder”.

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Cabal citou o artigo 109 da Constituição da Colômbia segundo o qual “a violação dos valores máximos de financiamento das campanhas, devidamente comprovada, será sancionada com a perda da investidura ou do cargo”. 

Outros dirigentes dos partidos tradicionais e próximos ao ex-presidente Álvaro Uribe evocaram as turbulências políticas que a Colômbia viveu em meados dos anos 1990, quando o presidente Ernesto Samper passou os quatro anos de seu mandato defendendo-se de acusações sobre o ingresso à sua campanha de cinco milhões de dólares provenientes do denominada Cartel de Cali. 

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“Esta confissão põe em dúvida a legitimidade da eleição do presidente. De quem era o dinheiro? O presidente mentiu?”, perguntou por sua parte a também senadora de oposição Paloma Valencia.

O presidente Petro, o qual instalou esta manhã um Comitê para impulsionar a participação cidadã nos diálogos de paz com a guerrilha do ELN, viajou de tarde à cidade de Sicelejo, no Norte do país, desde onde emitiu uma declaração acompanhada de uma fotografia onde se registra uma manifestação de camponeses que o apoiam. “O povo sempre será superior aos seus dirigentes”, se limitou a dizer o mandatário.

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No entanto, minutos mais tarde, dirigindo-se à multidão. Petro disse que embora até agora a única informação ao seu alcance sobre as declarações de seu filho são as informações jornalísticas, pode assegurar que nunca soube das andanças de Nicolás. 

“Se o que disse fosse certo, este presidente teria que ir embora porque eu não sou Uribe, não sou Santos, não sou Duque, não sou nenhum dos que passaram”. 

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Respondeu àqueles que estão pedindo sua cabeça diante da presumida ilegitimidade de seu mandata: “Este governo só acaba por mandato popular, não há ninguém que possa terminar com este mandato mais que o próprio povo. Se foi meu povo que me elegeu, a ninguém mais lhe deve minha eleição e é ao povo que devo responder”. 

Denunciou que há uma tentativa de aproveitar “cicatrizes familiares para abrir o caminho da derrubada do primeiro governo popular da Colômbia” e arrematou com uma mensagem a sua primogênito: “Meu filho já verá, o único que lhe posso recomendar é que, desde a dignidade, se aferre à verdade… não se ajoelhar ao verdugo jamais”.

Com fuzis em silêncio, governo e ELN envolvem a sociedade civil em diálogos de paz

Em meio do silêncio dos fuzis, o governo de Gustavo Petro e a guerrilha do ELN deram um novo passo na busca da paz ao instalar o Comitê Nacional de Participação Cidadã.

A inauguração desta instância, na qual participarão aproximadamente 80 delegados de 30 movimentos sociais e associações patronais, tem lugar 12 horas depois de entrar em vigência um cessar-fogo de seis meses pactuado com a guerrilha e o governo durante o mais recente ciclo de negociações em Havana, em junho passado.

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Apoiada em um minucioso protocolo, esta trégua entre a mais antiga guerrilha da Colômbia e o primeiro governo de esquerda na história do país terá um robusto mecanismo de acompanhamento e verificação a cargo de uma missão da ONU, que opera em todo o território nacional e que recebeu a ratificação de seu mandato por parte do Conselho de Segurança do mecanismo multilateral.

Também participarão na vigilância do cessar fogo a igreja católica e as comunidades organizadas das regiões mais afetadas pelo conflito armado, especialmente nas áreas de operação do ELN. 

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Durante o ato em que se deu o supro de vida ao comitê de participação da cidadania, realizado no maior recinto ferial desta capital, Elizabeth Moreno, líder social de uma remota zona do rio San Juan, no departamento do Chocó, disse ao La Jornada que as comunidades de sua região estão ilusionadas em poder levar propostas à mesa de diálogo, embora advertiu que tem temores sobre o cumprimento do cessar-fogo vigente. 

“Creio que se deveria procurar um cessar-fogo multilateral, porque em nosso departamento atuam muitas organizações armadas, não só o ELN”, disse Moreno.

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No Chocó e em outros onze departamentos da Colômbia, operam – e muitas vezes se enfrentam – pelo menos cinco organizações armadas à margem da lei, algumas de origem política e as demais como exércitos privados dos cartéis de narcotráfico. 

Minutos antes da instalação do comitê, o chefe da delegação negociadora do ELN, Pablo Beltrán, se mostrou confiante no êxito da trégua e disse que “o silêncio dos fuzis servirá de suporte às transformações que estão se buscando na mesa de diálogos com o governo e também poderá servir para que outros atores armados tomem o mesmo caminho”. 

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Beltrán qualificou de “histórico” o passo que se deu hoje, sublinhando que este esquema de participação da sociedade civil na construção de um acordo de paz era uma velha aspiração do ELN: “o conflito não se resolve com um diálogo exclusivo entre o governo e a guerrilha”, pontuou o chefe insurgente.

Embora fosse vaiado e tildado de paramilitar por uma parte do numeroso público que encheu o recinto, o dirigente da associação de ganaderos, José Felix Lafourie, ratificou o compromisso de sua agremiação “com a execução de uma reforma rural integral”, um dos assuntos que tem o país pendente, origem principal dos conflitos armadas das últimas seis décadas e o primeiro ponto pactuado pelo governo do ex-presidente Juan Manuel Santos e a guerrilha das Farc, em 2016. 

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Segundo analistas locais, nem o próprio Santos, que firmou o pacto sobre terras, nem o seguinte governo do ex-presidente Iván Duque, implementaram o acordado nesta matéria, dando pé à extensão no tempo do conflito armado e ao início de um novo ciclo de violência que o atual governo tenta apagar com uma estratégia denominada “paz total”. 

Ao intervir na cerimônia de hoje, o presidente Gustavo Petro qualificou de “revolucionários” os acordos de paz e assinalou que “vão ganhando, já não na retórica, mas na capacidade vinculante”. 

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O chefe de estado reiterou seu constante apelo a conseguir um grande acordo nacional para levar adiante reformas sociais e para afiançar uma paz definitiva e duradoura. E aproveitou para lançar o que alguns chamaram de “puxão de orelha” aos dirigentes do Pacto Histórico, coalisão de partidos que lhe permitiu ganhar as eleições: por que os partidos do governo não estão se reunindo com os partidos de oposição para falar do grande acordo nacional?”.

Por sua vez, o chefe negociador do governo com o ELN, Otty Patiño, assegurou que “não nos levantaremos da mesa até terminar o conflito armado com o ELN”, a sessentona guerrilha que pela primeira vez pactua um cessar fogo depois de mais de dez negociações falidas com cinco governos diferentes.

Jorge Enrique Botero | La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.
Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Jorge Enrique Botero Jornalista, escritor, documentarista e correspondente do La Jornada na Colômbia, trabalha há 40 anos em mídia escrita, rádio e televisão. Também foi repórter da Prensa Latina e fundador do Canal Telesur, em 2005. Publicou cinco livros: “Espérame en el cielo, capitán”, “Últimas Noticias de la Guerra”, “Hostage Nation”, “La vida no es fácil, papi” y “Simón Trinidad, el hombre de hierro”. Obteve, entre outros, os prêmios Rei da Espanha (1997); Nuevo Periodismo-Cemex (2003) e Melhor Livro Colombiano, concedido pela fundação Libros y Letras (2005).

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