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Cassação de Renato Freitas é a cara do ódio racista contra luta da população negra

Defesa do vereador segue batalha para anular processo, cujas irregularidades incluem até mesmo um email racista contra Renato com origem na Câmara
Milton Alves
Brasil de Fato
Curitiba (PR)

Tradução:

A maioria branca e racista da Câmara Municipal de Curitiba, em rápida e atropelada sessão especial na terça-feira (21), votou para cassar o mandato do vereador negro Renato Freitas (PT). Foram 25 votos favoráveis à cassação, apenas 7 votos contrários e uma abstenção, votação novamente confirmada na quarta-feira (22).

Os vereadores negros que integram o parlamento curitibano votaram em bloco contra a cassação, o que realçou mais ainda o aspecto racista da decisão da maioria.

Metarracismo: o Brasil miscigenado, a falácia do racismo negro e o mito da democracia racial

A sanção de perda do mandato, confirmada na sessão desta quarta-feira, interrompe a trajetória parlamentar do ativista e militante negro Renato Freitas, uma voz que destacou nos últimos anos na defesa da população jovem, negra e periférica da cidade. O falso pretexto da quebra de decoro parlamentar, é risível para uma Câmara que já tolerou até parlamentares condenados e presos por corrupção.

O processo para cassar o mandato legítimo e representativo de Renato foi baseado na falsa narrativa de invasão da Igreja do Rosário, durante a realização de um ato antirracista de denúncia da morte do congolês Moïse Kabagambe, no mês de fevereiro — o petista foi alvo de cinco representações por quebra de decoro parlamentar.

O vereador do PT é acusado de liderar a manifestação – em frente e no interior da Igreja do Rosário –, perturbar e interromper a prática de culto religioso, realizar ato político no interior da Igreja e entrar de forma não autorizada no templo católico.

A própria Arquidiocese de Curitiba divulgou uma nota em que reconhece que não há motivo para a cassação do mandato do parlamentar curitibano.

A defesa jurídica de Renato Freitas prossegue na batalha pela anulação do conjunto do processo e enumerou várias irregularidades na condução do mesmo, inclusive o vazamento de áudio sobre uma ação articulada de pressão para obter os votos dos integrantes da comissão de ética e a divulgação de um email racista contra Renato com origem em computador da Câmara – o que chegou a ser objeto de uma precária investigação, mas que não descobriu o autor do ato criminoso.

Defesa do vereador segue batalha para anular processo, cujas irregularidades incluem até mesmo um email racista contra Renato com origem na Câmara

Foto: Reprodução/Facebook
Renato Freitas (PT) sofreu onda de ataques após ato antirracista que pedia justiça por Moïse

Racismo estrutural e classista

O processo em curso, que culmina com a perda do mandato de Renato nesta quarta-feira (22), é um indicativo da resistência de setores reacionários contra o protagonismo da população negra na luta secular por seus direitos. É, sem dúvida, mais uma manifestação antidemocrática e reacionária do racismo estrutural.

A mentalidade política e ideológica da maioria branca da Câmara Municipal de Curitiba quer apagar e desconstruir a resistência secular da majoritária população negra e mestiça do Brasil, que luta e resiste para romper com os grilhões da brutal discriminação racial e classista. O mandato de Renato Freitas, obtido por expressiva votação, é um símbolo vivo dessa luta.

Nos últimos anos, a política de criminalização da pobreza, impulsionada pelo governo bolsonarista, tem um inegável corte racial e adquiriu uma dimensão de genocídio, com o avanço das atividades de milícias, somada ao habitual modus operandi, praticamente naturalizado, da violência das Polícias Militares (PMs) nos territórios de periferias –, habitados, majoritariamente, por populações negras.

O mandato de Renato Freitas tem sido também um ponto de apoio e de referência na luta contra violência do aparato policial, que atinge principalmente a juventude negra e pobre.

Portanto, é urgente a defesa do mandato de Renato! É um gesto democrático — contra a intolerância e o racismo. Renato Fica!

 Milton Alves é ativista político e social. Autor dos livros ‘A Política Além da Notícia e a Guerra Declarada contra Lula e o PT’ (2019) e ‘A Saída é pela Esquerda’ (2020).


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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