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ToggleHá 100 anos (03/11/1921) nascia, em Fortaleza, a historiadora Maria Yedda Leite Linhares. Com uma trajetória intelectual e acadêmica de muito prestígio, Maria Yedda Linhares foi uma das primeiras mulheres a cursar o curso superior de História no país, na então Universidade do Brasil (hoje UFRJ), nos anos 40. Na década seguinte, na mesma universidade, ganharia o título de Doutora em História Moderna e Contemporânea.
Com o Golpe de 1964, Linhares teve que se exilar na França. Retornando ao Brasil na década de 1970, tornou-se professora da Universidade Federal Fluminense (UFF) e, junto com importantes historiadores como Ciro Flamarion Cardoso e Francisco Falcon, criaram o Programa de Pós-Graduação em História daquela instituição.
Nos dois governos estaduais de Leonel Brizola no Rio de Janeiro (1983-1987 e 1991-1994), Linhares participou da pasta de Secretária de Educação junto com Darcy Ribeiro, se engajando no processo de implementação dos CIEPS.
Em sua trajetória intelectual, Linhares publicou livros sobre as lutas de Libertação Nacional do Terceiro Mundo, o Oriente Médio e o Mundo Árabe e, principalmente, sobre a história da questão agrária no Brasil.
Maria Yedda Linhares faleceu em 2011. Nesse sentido, como forma de resgatar a memória de uma das principais figuras intelectuais brasileiras, decidimos trazer uma entrevista que ela concedeu à Revista Cadernos do Terceiro Mundo em 1989.
Naquela conjuntura de primeira eleição presidencial em 30 anos, Linhares falou sobre os desafios, os problemas e os dilemas que o país enfrentava na época. Logo abaixo, colocaremos um trecho em que ela fala sobre os conflitos no campo e, no final da postagem, disponibilizamos o link com a entrevista completa.
4 anos: festejada pela mídia, reforma trabalhista é “verdadeiro desastre” para trabalhador
‘’ […] Entrevistador: A reforma do campo — onde hoje existe o que se considera uma guera civil não declarada — é uma questão de fundo ideológico ou de pura racionalidade econômica?
Maria Yedda Linhares: Não é só um problema de racionalidade econômica: é uma questão social extremamente grave, é uma questão política. Que estamos em meio a um estágio de guerra civil no Brasil, todos sabemos. Apenas, nos apercebemos disso nas entrelinhas das informações dos meios de comunicação. O conflito está espalhado por todo o país. No campo, o agravamento da tensão ocorre num momento em que a população rural é crescentemente minoritária e sofre o risco de ser esmagada pelo grande capital, que monopoliza a terra.
Se antes tínhamos um latifundiário de tipo antigo, hoje temos um extraordinariamente poderoso, que é o capital financeiro internacional se apossando do nosso campo.
É não só uma questão social, política e econômica, mas é uma questão que eu considero assunto da esfera nacional. Trata-se da salvaguarda dos interesses nacionais, da nacionalidade, do país como nação, se é que queremos sobreviver como nação.
Winkiemedia
Historiadora Maria Yedda Leite Linhares.
Entrevistador: Entra na esfera da soberania nacional …
Maria Yedda Linhares: Sim, está na área da soberania brasileira. É uma questão a esclarecer: quantas empresas estrangeiras, transnacionais, detêm a terra no Brasil e promovem a sistemática expulsão do produtor rural? É possível que isso continue?
O que muito me chama a atenção é a completa falta de sentimento nacional, de consciência nacional, social e política, da classe dirigente brasileira. Ela é tão introvertida, tão voltada para viver exclusivamente seus próprios interesses … Não temos bola de cristal, mas dá a impressão de que essa classe é suicida. Ela está levando o Brasil para uma situação de impasse completo. Ou de decadência definitiva.
Não pensemos que a História é necessariamente regida por um processo incontrolável, divino, de progresso indefinido. Progresso indefinido que não existe na História. Há nações que desaparecem mesmo. O Brasil está num processo que o torna fadado à miséria absoluta em pouco tempo, se não houver a reversão da situação. […] ‘’
Memória
A Diálogos do Sul é a continuidade digital da revista fundada em setembro de 1974 por Beatriz Bissio, Neiva Moreira e Pablo Piacentini em Buenos Aires:
A recuperação e tratamento do acervo da Cadernos do Terceiro Mundo foi realizada pelo Centro de Documentação e Imagem do Instituto Multidisciplinar da UFRRJ, fruto de uma parceria entre o LPPE-IFCH/UERJ (Laboratório de Pesquisa de Práticas de Ensino em História do IFCH), o NIEAAS/UFRJ (Núcleo Interdisciplinar de Estudos sobre África, Ásia e as Relações Sul-Sul) e o NEHPAL/UFRRJ (Núcleo de Estudos da História Política da América Latina), com financiamento do Governo do Estado do Maranhão.
‘’Retomar o fio da história’’ por Procópio Mineiro
Textos publicados originalmente na página Revista Cadernos do Terceiro Mundo – Acervo Digitalizado.
CADERNOS DO TERCEIRO MUNDO. Rio de Janeiro, ano 12, n.125, 1989, p. 49-53
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